Criando uma Identidade do Cuidado pelo Enfermeiro

Esta temática interessa por pressupor-se a representação social da profissão ainda incipiente, considerando-se o potencial de conhecimento que esta formação prática proporciona.

É incômodo reconhecer os limites de uma prática social que parece não ir ao encontro de uma atuação de seres críticos, criativos, conhecedores das mais variadas práticas de saúde, estimulados à competência interpessoal, à gerência e à sensibilidade humana (PAI et al, 2006).
A construção da identidade profissional mobiliza um processo de retribuição simbólica de reconhecimento do trabalhador em sua singularidade pelo outro, por meio das suas contribuições à organização do trabalho.

A identidade é mediada, então, pela atividade do trabalho que envolve o julgamento dos pares. O coletivo surge como uma ligação de fundamental importância e é o ponto sensível da dinâmica intersubjetiva da identidade no trabalho (DEJOURS, 2004).

O modelo biomédico de atenção à saúde é fator prevalente nas organizações dos serviços de saúde, na assistência prestada e no próprio senso comum. Isto acontece porque o curativismo permanece sendo o foco principal na promoção da saúde. Neste contexto, as contribuições da enfermagem acabam sendo sustentações às práticas médicas, constituindo-se de um trabalho complementar na hegemonia médica e assim sendo reconhecido na sociedade. 

Admirados pela caridade, os profissionais de enfermagem acabam por sustentar, muitas vezes, o mito da doação vocacional como alternativa para garantir prestígio social (PAI et al, 2006). Essa percepção também se encontra presente nos discursos dos colaboradores:

[…] deveríamos nos perguntar todos os dias sobre o que é a nossa profissão, porque escolhi ser enfermeiro, como está a inserção da minha profissão no meu contexto de trabalho?.

[…] enquanto enfermeiro de uma unidade de terapia intensiva, quando eu vou parar para refletir sobre as minhas ações de cuidado ou des-cuidado?

[…] Sabe que nunca parei para pensar sobre isso, assim de forma mais profunda, mais crítica, será que o meu cuidado é o cuidado de enfermagem na sua essência da profissão?

A identidade representa a abertura que cada um, em um determinado momento, consegue ter diante do mundo no qual está. Em toda parte, onde quer que se mantenha qualquer tipo de relação, com qualquer tipo de ser no mundo, há a interpelação pela identidade. Em cada identidade reside uma relação, uma ligação, uma união. Dessa forma, a identidade surge na história com o caráter da unidade (HEIDDEGER, 1979).

No entanto, deve-se considerar insuficiente almejar um conhecimento que apenas permita ao profissional equiparidade na concorrência do mercado de trabalho.

Além disso, precisa-se construir uma formação criadora de identidade e representatividade visível às diversas esferas sociais e, desta forma, alcançar o reconhecimento da profissão e reconstruir as exigências sociais que nos sustentam, participando das organizações das políticas de saúde e construindo o processo de ser enfermagem (PAI et al, 2006).

Pai et al (2006) colocam como uma possibilidade de mudança, a avaliação dos discursos acadêmicos, uma vez que estes constroem também, subjetivamente, modos de ser. O planejamento das ações pedagógicas deve, portanto, privilegiar a formação com base em prioridades pautadas na busca por reconhecimento como uma necessidade.

Autoria: YONARA CRISTIANE RIBEIRO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, Área de Concentração: Prática Profissional de Enfermagem, Setor de Ciências da Saúde, Universidade Federal do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Enfermagem. Orientador: Prof° Dr Adriano Furtado Holanda.

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