O ECG (eletrocardiograma) durante a estimulação cardíaca artificial é uma ferramenta importante para avaliar a eficácia da terapia e para monitorar possíveis complicações relacionadas ao dispositivo. A estimulação cardíaca artificial é usada para tratar distúrbios do ritmo cardíaco, como a bradicardia (frequência cardíaca lenta), bloqueio cardíaco e outras condições em que o sistema de condução elétrica do coração não funciona corretamente.
Durante a estimulação cardíaca artificial, um pequeno dispositivo eletrônico (marcapasso ou desfibrilador) é implantado cirurgicamente sob a pele no peito ou abdômen. O dispositivo é conectado ao coração por meio de um ou mais fios (chamados de eletrodos) que são colocados dentro do coração. O dispositivo envia impulsos elétricos para o coração para regular o ritmo cardíaco.
O ECG durante a estimulação cardíaca artificial pode ajudar a avaliar a função do dispositivo e detectar possíveis problemas, como falha na detecção de ritmos anormais, falha na entrega de impulsos elétricos ou disfunção do eletrodo.
Alguns dos padrões eletrocardiográficos que podem ser observados durante a estimulação cardíaca artificial incluem:
- Marca-passo ventricular: Um ritmo cardíaco regular com uma morfologia de QRS larga (maior que 0,12 segundos) indicando que o impulso elétrico está sendo entregue diretamente no ventrículo.
- Marca-passo atrial: Um ritmo cardíaco regular com uma morfologia de P normal (pico positivo na derivação II) indicando que o impulso elétrico está sendo entregue diretamente no átrio.
- Marca-passo bicameral: Um ritmo cardíaco regular com morfologia de P normal e QRS estreito (menor que 0,12 segundos), indicando que o impulso elétrico está sendo entregue no átrio e no ventrículo.
Além disso, o ECG também pode ajudar a identificar possíveis complicações relacionadas à estimulação cardíaca artificial, como a deslocação do eletrodo, oclusão do vaso sanguíneo ou infecção.
Portanto, o ECG durante a estimulação cardíaca artificial é uma ferramenta importante para avaliar a eficácia do dispositivo e monitorar possíveis complicações. É importante que o ECG seja interpretado por um médico especialista em cardiologia, que possa determinar se as anormalidades são benignas ou requerem avaliação adicional.
Profissionais de enfermagem podem atuar em cardiologia?
Sim. Os profissionais de enfermagem podem atuar em cardiologia. Eles desempenham um papel fundamental na assistência aos pacientes com doenças cardiovasculares, incluindo a prevenção, o diagnóstico e o tratamento dessas doenças.
Os enfermeiros e técnicos de enfermagem, podem atuar em diversas áreas da cardiologia, como unidades de cuidados intensivos cardíacos, salas de emergência, clínicas especializadas em doenças cardiovasculares, unidades de reabilitação cardíaca, entre outras.
Entre as responsabilidades dos enfermeiros e dos técnicos de enfermagem na cardiologia estão a monitorização dos sinais vitais, administração de medicamentos, avaliação do estado cardiovascular do paciente, cuidados com dispositivos de suporte à vida, como ventilação mecânica, e realização de exames, como eletrocardiograma.
Além disso, os enfermeiros também desempenham um papel importante na educação dos pacientes e seus familiares sobre as doenças cardiovasculares, os tratamentos e a importância do autocuidado para prevenir complicações e promover a saúde cardiovascular.
O Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), através da Resolução Cofen n.º 581/2018, regulamentou a Especialização em Enfermagem em Cardiológica.
A seguir, descreveremos de forma mais detalhada sobre “O ECG durante Estimulação Cardíaca Artificial”, segundo a última Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), publicada em 2022.
Estimulação Cardíaca Artificial (ECA)
Basicamente, o ECG do portador de dispositivos cardíacos eletrônicos implantáveis (DCEI) se caracteriza pela presença ou ausência de espículas (artefato que resulta da emissão de energia para estimulação artificial dos átrios e/ou dos ventrículos).
Com exceção dos monitores implantáveis (Loop Recorder), todos os demais DCEI (marca-passos, ressincronizadores cardíacos e cardioversores-desfibriladores implantáveis) conseguem emitir um impulso elétrico (representado por espícula), especialmente para tratamento de bradicardias; por isso, geralmente, a interpretação do ECG do portador de DCEI não permite identificar o tipo de dispositivo em uso.
O funcionamento adequado, bem como o reconhecimento de disfunções do sistema, por outro lado, podem ser reconhecidos ao ECG. A identificação da espícula é fundamental para o reconhecimento do ECG de um portador de dispositivo implantável.
A programação de estimulação em modo unipolar ou bipolar determinará o tamanho da espícula. Na primeira opção, a diferença de potencial se dá entre a carcaça do gerador do dispositivo e a ponta do eletrodo, o que determinará uma diferença de potencial com um vetor de grande amplitude. Consequentemente, observarse-ão espículas com grande amplitude.
Na segunda opção, bipolar, essa diferença de potencial ocorre entre os polos na ponta do eletrodo, portanto, o vetor gerado pela diferença de potencial será pequeno e as espículas registradas nesse modo apresentar-se-ão pequenas (às vezes quase imperceptíveis).
Os termos e a codificação (código de 5 letras) utilizados para descrever as propriedades dos DCEI seguem uma padronização internacional (em inglês) idealizada pela North American Society of Pacing and Electrophysiology
(NASPE) e pelo British Pacing and Electrophysiology Group (BPEG).180 Na Figura 14.1 pode-se observar o algoritmo de identificação do modo de operação dos DCEI.
Termos Básicos
- a) Espícula – Corresponde ao estímulo elétrico emitido pelo DCEI;
- b) Captura – Despolarização tecidual artificial provocada pela emissão da espícula;
- c) Frequência básica – Frequência de estimulação (atrial e/ou ventricular) sem interferência de batimentos espontâneos;
- d) Intervalo atrioventricular (IAV) – Intervalo entre uma atividade atrial espontânea (sentida) ou estimulada (espícula) e o estímulo ventricular;
- e) Intervalo interventricular (IVV) – Intervalo entre duas espículas ventriculares, programável por telemetria, disponível em ressincronizadores cardíacos e que eventualmente pode ser identificada ao ECG de repouso;
- f) Limite máximo de frequência (LMF) – Frequência máxima de estimulação. Nos geradores de câmara única a frequência máxima é atingida com a ativação do sensor de variação de frequência. Nos geradores de câmara dupla a frequência máxima é alcançada em resposta à sensibilidade atrial (frequência das ondas P) ou também por ativação do sensor.
- g) Sensibilidade – Capacidade de reconhecimento de eventos elétricos espontâneos atriais (P) ou ventriculares (QRS);
- h) Inibição normal – A atividade estimulatória é inibida pelo ritmo intrínseco (ausência de espículas).
Análise das Características Eletrocardiográficas dos DCEI
a) DCEI normofuncionante – Quando se observa captura e sensibilidade normais;
b) Perda de captura atrial e/ou ventricular (intermitente ou persistente) – Ausência de despolarização da câmara estimulada (espícula presente, mas sem deflagrar onda P ou QRS);
c) Falha de sensibilidade:
tabela
c.1) Sensibilidade excessiva (“oversensing”) – Exagerada sensibilidade que resulta na identificação equivocada de um sinal elétrico que não corresponde à despolarização da câmara relacionada (interferência eletromagnética, miopotenciais, onda T, etc);
c.2) Sensibilidade diminuída (“undersensing”) – Incapacidade de reconhecimento da despolarização espontânea. Pode ocorrer por programação inadequada ou por modificações da captação do sinal intrínseco (o sistema não “enxerga” a onda P ou o QRS).
d) Batimentos de fusão – Correspondem à ativação artificial do tecido cardíaco de forma simultânea à despolarização espontânea, provocando complexos híbridos. A espícula do MP é seguida de onda P (fusão atrial) ou QRS (fusão ventricular), cujas características morfológicas são intermediárias entre batimento capturado e espontâneo;
e) Batimentos de pseudofusão – Ativação espontânea do tecido cardíaco, simultânea à emissão da espícula do MP, que não tem efeito sobre a onda P ou QRS (pseudofusão atrial e ventricular, respectivamente); a morfologia da onda que segue a espícula é igual à onda espontânea;
f) Taquicardia mediada pelo marca-passo – Arritmia restrita aos DCEI atrioventriculares, caracterizada pela
deflagração ventricular a partir de onda P retrógrada. Trata-se, portanto, de uma arritmia por movimento circular em que o sistema de estimulação cardíaca artificial faz o papel de componente anterógrado do circuito, cuja porção retrógrada é anatômica (via normal ou anômala);
g) Taquicardia conduzida pelo marca-passo – Taquiarritmia que envolve DCEI atrioventriculares, caracterizada pela presença de arritmia supraventricular que, sentida pelo canal atrial, deflagra capturas ventriculares em frequências elevadas, mantendo certas características da arritmia espontânea;
h) Taquicardia induzida pelo marca-passo – Alterações da sensibilidade ou interferências eletromagnéticas que provocam arritmias atriais ou ventriculares.
Referência:
Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre a Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos — 2022. Brazilian Society of Cardiology Guidelines on the Analysis and Issuance of Electrocardiographic Reports — 2022 (Baixar Diretriz da SBC 2022)
Apresentação e Introdução da Diretriz SBC 2022
- Normatização para Análise e Emissão do Laudo Eletrocardiográfico
- Avaliação da Qualidade Técnica do Traçado
- A Análise do Ritmo Cardíaco
- Condução Atrioventricular
- Análise da Ativação Ventricular
- Sobrecarga das Câmaras Cardíacas
- Análise dos Bloqueios (Retardo, Atraso de Condução) Intraventriculares
- Análise do ECG nas Coronariopatias
- Análise da Repolarização Ventricular
- O ECG nas Canalopatias e Demais Alterações Genéticas
- Caracterização das Alterações Eletrocardiográficas em Situações Clínicas Específicas
- O ECG em Atletas
- O ECG em Crianças
- O ECG durante Estimulação Cardíaca Artificial
- Tele-eletrocardiografia