O Sindicato Independente dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor) informou que o terceiro dia de greve dos enfermeiros registou hoje uma adesão média entre os 80% e 85%, disse à Lusa o presidente do Sindepor.
O enfermeiro Duarte Gil Barbosa diz que as lutas "não têm a eficácia" que os profissionais merecem. Apelou ao Governo para ouvir os enfermeiros que "não pedem nada que o Governo não possa dar".
O enfermeiro Duarte Gil Barbosa, que anda pelo país a denunciar a falta de concretização das reivindicações da classe, disse esta sexta-feira, em Coimbra, que os profissionais podem avançar para uma demissão em bloco caso não sejam satisfeitas as suas reivindicações.
“O Serviço Nacional de Saúde (SNS) está a entrar numa fase de rutura, em que há serviços que, neste momento, só estão a funcionar com muito esforço dos enfermeiros, que estão a trabalhar 40 e 50 horas por semana“, disse aos jornalistas, à entrada dos Hospitais da Universidade de Coimbra.
Duarte Gil Barbosa saiu na terça-feira do Hospital de São João, no Porto, onde trabalha, e esta manhã chegou a Coimbra, depois de percorrer 140 quilómetros, onde tinha à sua espera Ana Paiva, dirigente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal (Sindepor), e alguns enfermeiros.
“Os enfermeiros têm lutado, vêm de uma greve cirúrgica em que o Governo conseguiu por termo através de uma requisição civil, estão também a terminar uma greve do Sindepor e, de facto, as nossas lutas não têm a eficácia que nós merecemos”, salientou.
Sou enfermeiro há 23 anos, tenho uma especialidade há 12 anos, e neste momento estou no mesmo nível de um enfermeiro recém-formado, e na mesma situação estão 15 mil enfermeiros”, sublinhou Duarte Gil Barbosa, que na quinta-feira tenciona chegar a Lisboa e entregar uma carta aberta na Assembleia da República com as reivindicações da classe.
Duarte Gil Barbosa apelou ao Governo para ouvir os enfermeiros, que “não pedem nada que o Governo não possa atender e que são muito importantes para os enfermeiros manterem o SNS”.
Estes profissionais de saúde reivindicam o descongelamento da carreira, a contagem toda do tempo de serviço, que a profissão seja considerada de desgaste rápido e penosa, a diminuição da idade da reforma e avaliação de desempenho de três em três anos, caso contrário, ponderam avançar “com uma demissão em bloco”.
“A nova carreira que saiu há pouco tempo é uma vergonha para a profissão porque não é reconhecido o papel de enfermeiros especialista. Tirámos uma especialidade à nossa custa, temos competências acrescidas, somos uma mais-valia para os doentes, há ganhos em saúde com o nosso trabalho e não somos reconhecidos”, frisou.
A dirigente Ana Paiva, do SINDEPOR, mostrou-se solidária com a iniciativa de Duarte Gil Barbosa, “que está a dar a cara por todos, a fazer um esforço hercúleo, sem esperar nada pessoal em troca”.
“A maioria dos profissionais concorda que não há uma real vontade de resolver os nossos problemas, tendo-nos imposto uma carreira que não dá resposta às nossas necessidades e não reconhece nem dignifica o nosso esforço e trabalho diário”, sublinhou.
As reivindicações dos enfermeiros
Os enfermeiros reclamam o descongelamento das progressões de todos os profissionais, independentemente do vínculo ou da tipologia do contrato de trabalho e que sejam definidos os 35 anos de serviço e 57 de idade para o acesso à aposentação destes profissionais.
Exigem ainda que o Governo inclua medidas compensatórias do desgaste, risco e penosidade da profissão, assegurando as compensações resultantes do trabalho por turnos, defina condições de exercício para enfermeiros, enfermeiros especialistas e enfermeiros gestores que determinem a identificação do número de postos de trabalho nos mapas de pessoal e que garanta, no caso dos especialistas, uma quota não inferior a 40%.
O Sindepor exige também que o Governo aplique corretamente a legislação e o pagamento do suplemento remuneratório a todos os enfermeiros especialistas em funções e equipare, sem discriminações, todos os vínculos de trabalho.