De heróis a bandidos: Profissionais de enfermagem são assediados por policiais em seu trabalho

Última atualização: 07/12/2024

O episódio ocorrido no Hospital da Mulher e Maternidade Célia Câmara (HMMCC), em Goiânia, no último dia 6 de dezembro, levanta uma questão alarmante: como profissionais que dedicam suas vidas a salvar outras podem ser tratados como criminosos no ambiente onde deveriam ser respeitados? A agressão e prisão de uma enfermeira e um maqueiro pela Polícia Militar expõem não apenas abusos de autoridade, mas também a fragilidade do reconhecimento e proteção aos trabalhadores da saúde no Brasil.

O peso de ser profissional da saúde

Desde o início da pandemia, os profissionais da saúde foram aplaudidos como heróis por enfrentarem condições adversas, falta de insumos e riscos à própria saúde para atender a população. No entanto, esses mesmos trabalhadores, que continuam suportando jornadas extenuantes, atrasos salariais e condições precárias, muitas vezes encontram descaso, violência e desvalorização no dia a dia de suas funções.

O caso do HMMCC ilustra essa contradição. A enfermeira e o maqueiro estavam cumprindo os protocolos de atendimento estabelecidos pela instituição, priorizando casos de maior urgência. No entanto, foram punidos por seguirem as regras, sendo vítimas de uma abordagem policial truculenta e desnecessária.

Violência contra quem salva vidas

As imagens e relatos do episódio revelam um cenário angustiante: seis viaturas e diversos policiais deslocados para prender trabalhadores que não cometeram nenhum crime. A acusação? Cumprir o protocolo médico. A detenção de ambos os profissionais, em frente aos colegas de trabalho, escancara o abuso de poder e o desrespeito por parte de quem deveria proteger a integridade física e moral dos cidadãos.

Esse tipo de abordagem não só desrespeita os profissionais envolvidos, mas também cria um ambiente de insegurança para todos os trabalhadores de saúde, já sobrecarregados e expostos a inúmeros desafios.

O impacto psicológico e moral

A humilhação pública, o sentimento de impotência e a sensação de que estão desprotegidos afetam profundamente a saúde mental dos profissionais de saúde. Em um contexto onde a saúde pública já enfrenta dificuldades estruturais, situações como essa desestimulam aqueles que deveriam estar na linha de frente para oferecer cuidados à população.

Além disso, a interferência política no caso demonstra como interesses pessoais podem atropelar o bom senso, desconsiderando os direitos e os esforços de quem luta diariamente pela vida alheia.

Reflexões necessárias

A pergunta que devemos fazer é: que tipo de sociedade estamos construindo quando aqueles que nos salvam passam a ser tratados como inimigos? A criminalização do trabalho da saúde, seja por falta de compreensão dos protocolos ou por ações arbitrárias, cria um círculo vicioso de desrespeito e desvalorização que impacta não apenas os profissionais, mas também a qualidade do atendimento à população.

O caso do HMMCC não é isolado. Ele reflete um problema estrutural que exige ações concretas. É preciso garantir que esses trabalhadores tenham condições dignas de atuação e que sejam respeitados em sua autoridade técnica. Isso passa pela formação de forças de segurança mais bem preparadas para lidar com situações em ambientes de saúde, sem intervenções violentas ou abusivas.

Um chamado à justiça

O episódio em Goiânia não pode ser esquecido. Ele deve servir como um alerta para a sociedade e para as autoridades: enquanto não houver justiça e valorização para os profissionais de saúde, a crise na saúde pública se aprofundará. Heróis não devem ser transformados em bandidos. Eles devem ser protegidos, respeitados e valorizados pelo papel essencial que desempenham.

Que o caso do HMMCC seja investigado com seriedade e que os responsáveis pelo abuso de autoridade sejam responsabilizados. Mais do que isso, que ele desperte uma nova reflexão sobre como tratamos aqueles que cuidam de nós. Afinal, sem os profissionais da saúde, quem nos salvará?

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *