Exame de sangue para Alzheimer: quando vale a pena fazer?

Última atualização: 26/06/2025

Imagina poder detectar o Alzheimer antes mesmo de os primeiros sintomas darem as caras. Pois é, isso já é possível por meio de um exame de sangue que analisa substâncias chamadas biomarcadores. Esses exames têm ganhado espaço na medicina e, ao mesmo tempo, despertado dúvidas sobre quando realmente devem ser feitos. Afinal, não é só porque o teste existe que ele precisa ser feito por qualquer um, em qualquer momento. Especialistas alertam que é preciso cuidado — e consciência — ao optar por esse tipo de exame.

O que são biomarcadores e como eles funcionam?

Biomarcadores são moléculas que o corpo produz e que podem indicar a presença de doenças. No caso do Alzheimer, dois vilões entram em cena: as proteínas beta-amiloide e tau. Quando elas começam a se acumular no cérebro, é sinal de que algo não vai bem — e isso pode acontecer muito antes de qualquer esquecimento estranho aparecer.

Essas proteínas podem ser detectadas por exames de imagem, punção lombar e, agora, pelo exame de sangue. É aí que entra a grande novidade: um teste simples, feito no laboratório, pode identificar a doença de forma precoce.

Mas será que todo mundo deveria fazer esse exame?

Segundo especialistas, a resposta é: nem sempre. O neurologista Tharick Pascoal, que estuda Alzheimer na Universidade de Pittsburgh, explica que os exames com biomarcadores só fazem sentido quando eles realmente vão impactar o tratamento ou o planejamento do paciente e da família.

Em outras palavras, não adianta sair correndo pro laboratório só porque bateu aquele medo de esquecer onde guardou a chave. Fazer o teste por curiosidade pode causar mais mal do que bem.

Riscos emocionais e o peso de um resultado precoce

Um dos grandes perigos de realizar esse tipo de exame sem orientação é o impacto psicológico. Já houve casos nos Estados Unidos em que pessoas receberam o resultado positivo, entraram em desespero e até cometeram suicídio — mesmo sem terem desenvolvido a doença.

O exame mostra que há um risco, não uma sentença. Ou seja, ele não prevê se a pessoa vai mesmo ter Alzheimer nem quando isso poderia acontecer.

Nem todo resultado positivo significa doença

Outro ponto importante é que os tratamentos atuais ainda são bem limitados. Existem dois medicamentos aprovados nos EUA — lecanemabe e donanemabe — que ajudam a desacelerar o avanço da doença, mas não são milagrosos.

Além disso, os remédios têm efeitos colaterais sérios e um custo altíssimo: cerca de 100 mil dólares por ano. No Brasil, só por importação. Ou seja, saber do diagnóstico precoce nem sempre vai mudar a realidade do paciente de forma prática.

Exame no SUS pode virar realidade?

Existe um projeto de lei que quer incluir esse exame de sangue no SUS. O teste chamado PrecivityAD custa hoje quase R$ 4 mil na rede privada e não é coberto pelos convênios.

Se for aprovado, o exame poderia ajudar muito na detecção da doença em regiões mais afastadas, onde exames de imagem são raros. A ideia é democratizar o diagnóstico, mas ainda vai depender do aval das comissões da Câmara e do Senado.

Informação é poder — mas com responsabilidade

A chegada do exame de sangue é um avanço importante na luta contra o Alzheimer, mas não pode ser encarado como uma resposta para tudo. O ideal é conversar com um médico, avaliar sintomas reais e entender o que esse resultado pode significar. Porque, no fim das contas, mais importante do que descobrir o problema é saber como lidar com ele. Veja também Tristeza e comoção tomam conta de Ponta Grossa com morte de técnica em enfermagem.

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