Última atualização: 08/02/2023
Ao administrar qualquer medicamento para um paciente, o profissional da área da saúde, incluindo-se o de enfermagem, tem como objetivo primordial alcançar os efeitos terapêuticos desejados provocando o mínimo de efeitos colaterais.
Para isso, é fundamental o conhecimento dos princípios básicos que envolvem a farmacologia, a saber, a farmacocinética e a farmacodinâmica, as quais podem ser assim definidas:
- Farmacocinética: é o ramo da farmacologia que estuda o movimento do medicamento dentro do organismo nas fases de absorção, distribuição, biotransformação e eliminação. Descreve a ação do organismo sobre o medicamento.
- Farmacodinâmica: é o ramo da farmacologia que estuda o local e o mecanismo de ação, e os efeitos do medicamento no organismo. Descreve a ação do medicamento sobre o organismo.
Com base nas definições anteriores, detalharemos alguns conceitos, para melhor compreensão das ações e reações provocadas pelo uso dos mais diversos medicamentos.
Absorção
Os medicamentos são administrados por diversas vias, fato que influencia sua absorção. A absorção é a passagem do fármaco do local onde foi administrado para a corrente sanguínea. Essa etapa não acontece quando o medicamento é diretamente administrado na circulação, como, por exemplo, na via endovenosa. Os locais mais comuns onde ocorre a absorção são os músculos, a mucosa oral, a pele e o intestino.
Nos casos de medicamentos administrados por via oral, a absorção ocorre no trato gastrointestinal e sofre influência de vários fatores, entre eles: área disponível para absorção; fluxo sanguíneo regional; propriedades físico-químicas dos medicamentos; concentração local do medicamento; acidez gástrica; presença ou não de nutrientes no momento da administração; alteração da função gastrointestinal (aumento da velocidade de es- vaziamento gástrico, diarreia, constipação etc.); preparação do fármaco e sua forma de apresentação (comprimidos, soluções etc.); concentração do medicamento.
Nos medicamentos administrados por via sublingual, a absorção ocorre na própria cavidade oral, através do sistema venoso bucal.
As vias de administração de medicamentos classificadas como parenterais (principalmente a endovenosa, a intramuscular e a subcutânea) apresentam certas peculiaridades quanto à absorção de medicamentos. No caso da via endovenosa, o medicamento é administrado diretamente na circulação sanguínea. Na via intramuscular, a absorção está relacionada ao fluxo sanguíneo do local de aplicação e ao tipo de solução. Soluções que utilizam água como base são absorvidas mais rapidamente que as soluções oleosas.
As características químicas dos fármacos também podem influenciar a absorção por via intramuscular. Medicamentos administrados por via subcutânea apresentam como característica a absorção lenta e contínua.
A absorção de medicamentos pela via transdérmica dependerá das condições de integridade da pele. Tecidos lesionados promovem uma absorção mais lenta que tecidos íntegros. A absorção também está rela- cionada à extensão do local onde será aplicado o medicamento e o fluxo sanguíneo na região.
Biodisponibilidade
Biodisponibilidade é definida como a fração do medicamento administrado que atinge a circulação sistêmica. Nos casos de administração de medicamentos por via endovenosa, a biodisponibilidade é 100%.
O percentual de biodisponibilidade de cada medicamento dependerá de vários fatores, entre eles, o grau e a velocidade de absorção desse medicamento e a fração que é metabolizada pelo fígado (antes de atingir a circulação). Alguns medicamentos apresentam um grande percentual de absorção pelo intestino, mas a fração metabolizada também é grande, proporcionando um pequeno percentual que atinge a circulação sistêmica. Esse problema é solucionado nos casos em que o medicamento pode ser administrado por via endovenosa. Por exemplo, o medicamento propranolol, quando administrado por via endovenosa, tem dose padrão igual a 5 mg, porém, quando administrado por via oral, sua dose varia de 40 a 80 mg, para atingir a mesma concentração de medicamento na circulação sistêmica.
Problemas no fígado podem modificar a metabolização de um medicamento, alterando sua biodisponibilidade.
Distribuição
A distribuição é definida como a passagem do medicamento da circulação sanguínea para os diversos órgãos e tecidos.
Esse processo sofre influência de vários aspectos, entre eles:
- características físico-químicas do medicamento, como lipos-solubilidade e grau de ionização;
- tamanho da molécula (complexo fármaco-proteína);
- pH local; e
- vascularização do tecido.
A distribuição pode ser dividida em duas fases. Na fase inicial, estão envolvidos órgãos que apresentam alta perfusão e recebem a maior parte do medicamento nos primeiros minutos. Esses órgãos são o coração, o fíga- do, o trato gastrointestinal, os rins e o cérebro. Na segunda fase, os órgãos e tecidos atingidos são os músculos, algumas vísceras, os tecidos com perfusão média e o tecido adiposo.
Outro fator importante relacionado à distribuição é a ligação proteica. Somente medicamentos livres conseguem passar pelas membranas celulares, atingindo seu alvo e promovendo o efeito farmacológico desejado.
Eliminação
A eliminação é a retirada do medicamento do organismo. Esse processo tem início assim que o medicamento atingir a circulação sistêmica. A eliminação ocorre por modificação metabólica e por excreção.
O fígado é o órgão mais importante no processo de eliminação por modificação metabólica, podendo ocorrer, também, nos rins, nos pulmões, no trato gastrointestinal e na pele.
O processo de excreção ocorre principalmente nos rins. A excreção também pode ocorrer nos pulmões, no trato gastrointestinal (fezes), no suor, na saliva e nas lágrimas. Alguns medicamentos são eliminados pela bile, sendo reabsorvidos e eliminados pelos rins.
Para melhor compreensão dos conteúdos que serão abordados nos próximos capítulos, é necessário que o profissional de enfermagem domine as nomenclaturas mais utilizadas em farmacologia. Além dos termos já es- clarecidos, há outros que também são fundamentais, dentre os quais:
- Bioequivalência: é o estudo em que são comparadas a biodisponibilidade de um medicamento de referência e a de um medicamento genérico. Quando dois medicamentos têm a mesma biodisponibilidade, ou seja, são bioequivalentes, um pode substituir o outro.
- Concentração: é a quantidade de determinada substância (ativa ou inativa) em certo volume ou massa de produto. Exemplo: solução glicosada 5% significa que em cada 100 ml de solução há 5 g de glicose.
- Dispensação: é o ato de fornecer o medicamento para o comprador (nos casos de drogarias) ou ao profissional de enfermagem que irá preparar o medicamento e administrá-lo ao paciente.
- Dose de ataque: é a dosagem única de medicamento com capacidade de atingir rapidamente a concentração terapêutica.
- Dose de manutenção: é a dosagem de medicamento que deverá ser repetida, periódica ou continuamente, para garantir a estabilidade da sua concentração dentro de limites.
- Dose letal: dose com a qual a morte é atingida. É um efeito indesejável, normalmente observado em pesquisas laborato
- Droga: é qualquer substância que apresenta como característica a capacidade de alterar a função dos organismos vivos, acarretando mudanças fisiológicas e/ou comportamentais.
- Droga-tóxico: droga com ação maléfica sobre o organismo.
Pode-se também utilizar apenas o termo tóxico.
- Efeito adverso: consiste em uma ação indesejável e não esperada ocasionada pelo medicamento.
- Fármaco: droga com ação benéfica sobre o organismo. Pode-se utilizar também o termo medicamento. Substância denominada princípio ativo de um medicamento.
- Farmacopeia: conjunto de medicamentos (drogas) oficializa do pelo Ministério da Saúde, com ação consagrada e resultados eficazes e úteis para a população.
- Farmacovigilância: é a identificação e a avaliação dos efeitos dos medicamentos sobre o paciente, incluindo o risco do uso dos medicamentos pela população ou por grupos de pacientes expostos a determinados tratamentos.
- Idiossincrasia: é a suscetibilidade anormal de um indivíduo a uma droga, mesmo quando administrada em doses terapêuticas.
- Janela terapêutica: área entre a dose mínima eficaz e a máxima permitida. Intervalo de dose no qual os resultados são positivos.
- Medicamento de referência: é o produto inovador, registrado no Ministério da Saúde, com eficácia e segurança comprovadas, protegido pela Lei de Patente, não podendo ser pro-duzido, sem permissão do fabricante, por um determinado período de tempo.
- Medicamento genérico: medicamento semelhante ao medicamento de referência, produzido após o tempo determinado pela patente, ou, em alguns casos, após quebra dessa patente por órgão governamental. No Brasil, os medicamentos genéricos seguem legislação específica (Lei nº 9.787/1999 e RDC nº 102/2000).
- Medicamento similar: tem os mesmos princípios ativos do medicamento de referência, mas apresenta alguma diferença quando comparado (rótulo, forma de apresentação, prazo de validade, excipientes etc.); portanto, não se pode dizer que são bioequivalentes. Nesses casos, os testes de bioequivalência não são exigidos.
- Medicamento oficinal: produzido nas farmácias de manipulação ou magistrais.
- Medicamento de controle especial: medicamento relacionado pela Agência de Vigilância Sanitária e que tem a capacidade de causar dependência física ou química.
- Medicamento de uso contínuo: utilizado no tratamento de doenças crônicas, continuamente.
- Medicamento fitoterápico: medicamento cuja composição utiliza, exclusivamente, vegetais como matéria prima.
- Meia-vida: tempo necessário para a concentração plasmática de um medicamento ser reduzida em 50%.
- Posologia: estudo da dosagem dos medicamentos.
- Placebo: medicamento preparado com substâncias inativas, sem finalidade terapêutica. Pode ser empregado em pesquisas clínicas ou ainda para satisfazer a necessidade psicológica do paciente de receber medicamento.
- Pró-droga: substância que passará por transformação no organismo, tornando-se uma droga ativa.
- REFERÊNCIAS
1. Administração de medicamentos na Enfermagem. Rio de Janeiro: EPUB. 2ª ed, 2002
2. FURP – Memento Terapêutico. Secretaria de Estado da Saúde. 6ª ed., nov/95.
3. STAUT, NAÍMA DA SILVA – Manual de drogas e soluções. São Paulo: EPU, 1986.
4. ZANINI, A.C., OGA S. – Farmacologia aplicada. 5º ed. São Paulo: Atheneu, 1994.
5.FAKIH, F.T. – Manual de Diluição e administração de medicamentos injetáveis. 1ªed.
Rio de Janeiro, 2000
6. FONSECA, S.M. et al – Manual de Quimiterapia antineoplasica. 1ªed, Rio de Janeiro,
2000
7. DUNCAN, H.A. et al – Dicionário Andrei para enfermeiros e outros profissionais da
saúde, 2ªed, São Paulo, 1995
Quais são os cientistas
fundaram a farmacologia