Última atualização: 15/04/2025
Um grave episódio envolvendo a falta de vagas em hospitais públicos do estado de São Paulo reacendeu a discussão sobre as falhas no sistema de saúde. Em Franca, interior paulista, José Erimar Saraiva de Almeida, de 52 anos, faleceu após aguardar por horas uma transferência hospitalar que só foi autorizada após sua morte. O caso chocou familiares e a comunidade local, expondo a fragilidade da rede pública de saúde e gerando questionamentos sobre a atuação da central de regulação de leitos. A promessa de um novo hospital para a cidade, feita pelo governo estadual, chega tarde demais para o trabalhador que deixou esposa e dois filhos pequenos.
Quadro clínico ignorado e agravamento sem resposta eficiente
José Erimar, funcionário do setor de compras de um açougue, procurou atendimento médico pela primeira vez no dia 10 de abril, após sentir intensas dores nas costas. O diagnóstico inicial considerou a possibilidade de uma lesão muscular, e ele foi medicado e liberado. No entanto, o quadro se agravou rapidamente. No sábado seguinte, o paciente retornou ao pronto-socorro duas vezes, relatando dores severas e falta de ar. Apesar da aplicação de injeções para conter a dor, o alívio era temporário.
Segundo o irmão da vítima, Elismar Almeida, no domingo José permaneceu em casa, mas apresentava confusão mental e sintomas respiratórios preocupantes. Na manhã da segunda-feira, 14, a situação se tornou crítica. Elismar foi chamado pela cunhada e levou o irmão ao pronto-socorro, onde ele já não conseguia se comunicar nem respirar direito.
Morte antes da vaga: a espera que custou a vida
Ao chegar à unidade de saúde, José foi sedado e intubado, mas os médicos constataram a necessidade de transferência imediata para um hospital com melhores condições de atendimento. A tentativa de buscar vagas na rede privada também falhou — segundo os familiares, a resposta foi de que o horário comercial deveria ser aguardado para qualquer movimentação. A indignação do irmão ficou evidente: “Parece que agora a gente precisa marcar hora para morrer”, desabafou.
José permaneceu no pronto-socorro por quase 22 horas. Ele chegou às 7h da manhã de segunda-feira e morreu às 4h48 da madrugada seguinte, sem ter sido transferido. Quando Elismar retornou ao hospital às 6h da manhã para buscar informações, foi informado de que a vaga havia sido liberada apenas após o falecimento.
Posicionamento das autoridades e críticas à regulação
A Secretaria Municipal de Saúde de Franca declarou que o paciente deu entrada no Pronto-Socorro “Dr. Álvaro Azzuz” e foi inserido no Siresp, sistema estadual responsável pela gestão de leitos do SUS. A pasta informou ainda que o estado havia autorizado duas transferências para a Santa Casa de Franca — uma na segunda-feira e outra já na madrugada de terça-feira — mas que o transporte era de responsabilidade da unidade de origem.
A Central de Regulação do Estado, por sua vez, lamentou o episódio e afirmou que atua apenas como elo entre os hospitais de origem e os de referência, sem poder para criar vagas. A justificativa, no entanto, não amenizou a revolta da família, que viu na demora um reflexo do descaso com vidas humanas.
Promessa de novo hospital chega tarde para a vítima
O episódio ocorreu meses antes da prometida inauguração do Hospital Estadual de Franca, prevista para o segundo semestre deste ano. A unidade foi anunciada pelo governador Tarcísio de Freitas (PL) como solução para a sobrecarga do sistema hospitalar da região. Para a família de José, a medida vem tarde demais e evidencia o abismo entre promessas políticas e a realidade dos atendimentos emergenciais.
José Erimar foi velado na manhã de quarta-feira, 16, no Velório São Vicente, e sepultado no Cemitério Santo Agostinho. Entre a dor da perda e a indignação com a lentidão do sistema, familiares e amigos exigem responsabilização e mudanças urgentes na regulação hospitalar do estado. O caso, que rapidamente ganhou repercussão nas redes sociais, tornou-se símbolo de uma falha crônica que, nesta vez, custou uma vida. Veja também Governo estuda ampliar parcerias com hospitais privados para reduzir filas do SUS.