Última atualização: 01/01/2025
O câncer de próstata representa uma das neoplasias mais incidentes em homens, tendo impacto expressivo tanto na sobrevida quanto na qualidade de vida do público masculino. A seguir, apresenta-se um panorama abrangente sobre epidemiologia, fatores de risco, sintomas, diagnóstico e possibilidades terapêuticas, com foco na importância de discutir o tema com profissionais de saúde. Ver Prevenção em saúde no nível secundário.
1. EPIDEMIOLOGIA
Nos Estados Unidos, o câncer de próstata é a segunda causa mais comum de óbito por câncer entre homens. No Brasil, a incidência também é significativa, sendo o tipo de câncer mais comum na população masculina das regiões Sudeste (78/100 mil) e Nordeste (43/100 mil), desconsiderando-se tumores de pele não melanoma. Nas regiões Centro-Oeste (75/100 mil), Sul (68/100 mil) e Norte (30/100 mil), o câncer de próstata também figura como o mais frequente entre os homens.
De acordo com estimativas do INCA para o ano de 2012, seriam esperados 60.180 novos casos de câncer de próstata no Brasil, evidenciando a relevância do tema para a saúde pública. Contudo, a evolução natural do câncer de próstata ainda não está totalmente elucidada. Estudos de autópsia mostram que cerca de um terço dos homens acima de 50 anos apresenta evidências microscópicas de tumores prostáticos, sendo que 80% desses achados são pequenos, pouco agressivos e, em geral, sem repercussão clínica. Um estudo recente com doadores de órgãos demonstrou que 1 em cada 3 homens entre 60 e 69 anos já apresenta câncer de próstata, e essa incidência sobe para 46% após os 70 anos.
Embora o diagnóstico ainda seja frequente, a sobrevida em cinco anos tem aumentado de forma marcante, principalmente após a utilização do PSA (Antígeno Prostático Específico) para rastreamento. Uma redução de pelo menos 25% na mortalidade por câncer de próstata ajustada pela idade foi observada desde a adoção do PSA. Estima-se que 99% dos casos localizados tenham sobrevida mínima de cinco anos, contrastando com 33% dos pacientes metastáticos que atingem esse período de sobrevida.
1.1 Diferenças raciais e histórico familiar
As estatísticas são mais preocupantes na população negra: homens negros tendem a ser diagnosticados em estágios mais avançados e apresentam risco 2,4 vezes maior de falecer em decorrência da doença. Além disso, a presença de histórico familiar positivo eleva significativamente o risco, principalmente quando se trata de parentes de primeiro grau diagnosticados em idades mais jovens.
2. O PAPEL DA PRÓSTATA
A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino, situada abaixo da bexiga e à frente do reto, aproximadamente do tamanho de uma noz ou limão pequeno. Produz um fluido que integra o sêmen e, portanto, desempenha papel essencial na fertilidade.
Diante dos dados sobre a alta incidência, recomenda-se que homens conversem com médicos — sobretudo urologistas — para avaliar a indicação de rastreamento do câncer de próstata.
3. CAUSAS E FATORES DE RISCO
A etiologia exata do câncer de próstata permanece desconhecida, mas as pesquisas sugerem a participação de múltiplos fatores, incluindo:
- Idade: a incidência aumenta significativamente após os 50 anos.
- Tabagismo: pode dobrar o risco, embora se saiba que, após dez anos sem fumar, esse risco diminui e se assemelha ao de não fumantes.
- Localização geográfica: há grande variabilidade mundial na incidência. Regiões da Ásia apresentam taxas menores, enquanto a América do Norte e a Europa do Norte registram números mais altos.
- Raça: homens negros exibem taxas maiores que asiáticos e caucasianos.
- História familiar: parentes de primeiro grau diagnosticados com câncer de próstata aumentam o risco individual de 2 a 11 vezes, conforme o número de afetados e a idade em que houve o diagnóstico.
- Dieta e estilo de vida: ingestão excessiva de gorduras, calorias, açúcar refinado e sedentarismo podem aumentar a mortalidade por câncer de próstata. A obesidade também está associada a maior risco de morte pela doença.
3.1 Possíveis fatores protetores
- Soja: em países asiáticos, o consumo elevado de soja (tofu, leite de soja, missô) é associado a menores incidências e mortalidades, possivelmente por efeitos estrogênicos fracos de alguns compostos.
- Licopeno: encontrado em tomates cozidos e outros alimentos vermelhos, é um antioxidante que pode reduzir o risco de desenvolver câncer de próstata, embora nem todos os estudos concordem.
- Ômega-3 (óleo de peixe): por ter efeito anti-inflamatório, pode atenuar processos que favorecem o surgimento de tumores.
- Vitamina D: há controvérsias sobre sua influência. Pesquisas indicam tanto a possibilidade de proteção quanto o risco de tumores agressivos.
3.2 Outros fatores em estudo
- Vasectomia: estudos atuais não a consideram fator de risco relevante.
- Vitaminas e suplementos: pesquisas como o estudo do National Institute of Health não conseguiram comprovar benefícios na prevenção de câncer de próstata com vitamina E ou selênio; em alguns casos, houve até aumento de certos riscos.
4. SINTOMAS
O câncer de próstata costuma ser assintomático em fases iniciais. Quando se manifestam, os sintomas podem incluir:
- Dor na região pélvica
- Aumento da frequência urinária
- Jato urinário fraco, dificuldade ou dor ao urinar
- Sangue na urina ou no sêmen
- Dor ao ejacular
- Desconforto lombar, no quadril ou nas coxas
- Perda de peso ou apetite
- Dor óssea persistente
Esses sinais e sintomas não são específicos do câncer de próstata, pois também ocorrem em outras doenças, como hiperplasia benigna da próstata (HPB).
5. DIAGNÓSTICO E RASTREAMENTO
O rastreamento do câncer de próstata baseia-se em dois exames principais: o toque retal e a dosagem do PSA (Antígeno Prostático Específico).
5.1 Toque retal
O médico insere o dedo no reto para avaliar a próstata, identificando possíveis alterações de consistência ou contorno. Embora simples e de baixo custo, não é suficiente para detecção definitiva e deve ser associado à dosagem do PSA.
5.2 PSA (Prostate Specific Antigen)
O PSA é uma proteína produzida pela próstata e pode se elevar em condições benignas (HPB, prostatite, ejaculação recente) ou malignas (câncer de próstata). A aferição deve preferencialmente ser feita antes do toque retal ou de manipulações invasivas, além de exigir abstinência sexual de 24 a 48 horas.
Aconselhamento sobre o rastreamento
A American Urological Association (AUA) recomenda que homens discutam com seus médicos os potenciais riscos e benefícios do rastreamento a partir dos 40 anos (como PSA de base). Cada caso deve ser individualizado, levando em conta história familiar, raça e outras condições clínicas.
5.3 Biópsia
Alterações suspeitas no PSA e/ou no toque retal indicam a necessidade de biópsia, geralmente guiada por ultrassonografia transretal. Fragmentos (em geral 10 a 12) da próstata são coletados para análise patológica (exame microscópico) que confirma se há câncer e determina o grau de agressividade (escore de Gleason).
6. ESCORE DE GLEASON
O escore de Gleason é o sistema mais utilizado para graduar tumores prostáticos. Cada padrão celular recebe uma pontuação de 1 a 5, e somam-se os dois padrões mais frequentes, resultando em escores de 2 a 10:
- 2 a 6: tumor de baixa agressividade
- 7: tumor moderadamente agressivo
- 8 a 10: tumor altamente agressivo
7. ESTADIAMENTO
Uma vez diagnosticado o câncer de próstata, o médico estabelece o estágio (classificação “T”), indicando o quão avançado está o tumor:
- T1: Não palpável ao toque retal; descoberto incidentalmente ou por PSA elevado.
- T2: Tumor palpável, mas confinado à próstata.
- T3: Extensão além da cápsula prostática, podendo envolver vesículas seminais.
- T4: Invasão de estruturas adjacentes (reto, bexiga, assoalho pélvico).
Exames de imagem como cintilografia óssea, ressonância magnética e tomografia computadorizada podem ser solicitados para avaliar possível disseminação.
8. PREVENÇÃO
Não há consenso definitivo sobre a prevenção do câncer de próstata. Algumas medicações com efeitos antiandrogênicos, como finasterida e dutasterida, foram investigadas, mas não apresentaram dados conclusivos quanto à redução da mortalidade. As orientações de saúde mais gerais incluem:
- Manter peso corporal adequado
- Alimentação balanceada, rica em frutas, verduras e grãos integrais
- Evitar excesso de gorduras, calorias e açúcares
- Praticar exercícios físicos regularmente
- Não fumar e evitar abuso de álcool
9. TRATAMENTO DO CÂNCER DE PRÓSTATA AVANÇADO
Nem todos os tumores de próstata são iguais ou ameaçam a vida com a mesma intensidade. O tratamento depende de vários fatores, como estágio, escore de Gleason, idade, presença de comorbidades e preferências do paciente. As opções incluem:
9.1 Vigilância Ativa
Indicada para homens assintomáticos e com tumores de baixo risco. Envolve acompanhamento constante, com dosagens regulares de PSA, toques retais e biópsias. Caso o tumor apresente sinais de progressão, pode-se iniciar tratamento curativo.
9.2 Cirurgia
A prostatectomia radical (retropúbica, perineal, laparoscópica ou robótica) remove toda a glândula, as vesículas seminais e, muitas vezes, linfonodos próximos. É mais indicada para tumores confinados (T1 ou T2), podendo se estender a alguns T3 selecionados.
- Vantagens: remoção completa do foco tumoral confinado, possibilitando melhor estadiamento.
- Desvantagens: risco de complicações como hemorragia, trombose, disfunção erétil e incontinência urinária, que variam segundo a técnica, a idade do paciente e a experiência da equipe cirúrgica.
9.3 Radioterapia
Pode ser aplicada externamente (radioterapia conformacional tridimensional ou com intensidade modulada) ou internamente (braquiterapia), onde sementes radioativas são implantadas na próstata. Eventualmente, combina-se radioterapia com hormonioterapia para tumores localmente avançados.
- Efeitos colaterais: disfunção vesical e intestinal, lesões às estruturas adjacentes e disfunção erétil.
10. PERSPECTIVAS APÓS O TRATAMENTO
- Cateter vesical: após a cirurgia, o paciente costuma ficar com cateter de demora por alguns dias ou semanas para cicatrização da anastomose uretral.
- Drenos: podem ser colocados para prevenir o acúmulo de fluidos na pelve.
- Retorno às atividades: de forma gradual, geralmente em 3 a 6 semanas.
- Função sexual: a disfunção erétil pode ocorrer em razão do comprometimento dos feixes nervosos. Existem tratamentos (medicamentos, injeções, próteses) e programas de reabilitação para tentar recuperar ou compensar a função erétil.
- Continência urinária: a maioria dos pacientes evolui com controle urinário ao longo de meses; casos persistentes podem exigir intervenções adicionais.
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O câncer de próstata cobre uma ampla variação de comportamentos, desde tumores de evolução lenta até formas agressivas que podem levar ao óbito em curto espaço de tempo. Assim, é fundamental que cada homem discuta com seu médico — principalmente um urologista — sobre a realização de rastreamento e sobre as diferentes estratégias de tratamento, levando em conta sua idade, estado de saúde, expectativa de vida e preferências pessoais.
A adoção de um estilo de vida saudável (dieta balanceada, prática de exercícios físicos, manutenção de peso adequado e ausência de tabagismo) não só reduz o risco de doenças cardiovasculares, como também está associada a um menor risco de mortalidade por diversas neoplasias, incluindo a prostática. Desse modo, pequenos hábitos podem contribuir de maneira significativa para a saúde geral e, possivelmente, para a redução da incidência e da progressão do câncer de próstata. Ver Dormir bem pode proteger homens contra câncer de próstata.