Última atualização: 01/01/2025
PÓS-OPERATÓRIO: PRINCIPAIS CUIDADOS, COMPLICAÇÕES E FATORES DE RISCO. O período pós-operatório é crítico para o paciente e requer monitoramento contínuo de sinais vitais, estado de consciência, balanço hídrico, condições respiratórias, status hemodinâmico e avaliação de eventuais drenos, sondas e cateteres. A mobilização precoce, o controle adequado da dor e a observação de complicações são fundamentais para uma boa recuperação.
1. CUIDADOS GERAIS NO PÓS-OPERATÓRIO
- Avaliação Fisiológica
- Consciência: Verificar nível de alerta e possíveis sinais de confusão.
- Hidratação e Balanço Hídrico: Observar perfusão, diurese, coloração e edema.
- Ventilação e Oxigenação: Aferir frequência respiratória, SpO₂, ruídos pulmonares.
- Condições Hemodinâmicas: Checar pressão arterial, pulso, perfusão periférica.
- Feridas Cirúrgicas e Dispositivos: Examinar a cicatriz, funcionamento de drenos e sondas.
- Recuperação Anestésica
- Priorizar estabilidade hemodinâmica e ventilatória.
- Observar sinais de alterações cardiovasculares e respiratórias (hipotensão, taquicardia, hipoventilação etc.).
- Mobilização
- Movimentação Precoce: Ajuda a prevenir complicações pulmonares (atelectasias) e tromboembolismo.
- Mudança de Decúbito: Realizar várias vezes ao dia para evitar acúmulo de secreções nos pulmões.
- Controle da Dor
- Dor intensa pode comprometer a tosse eficaz, prejudicar a expansão pulmonar e limitar a mobilização.
- Geralmente, a dor é mais intensa nas primeiras 24-36 horas; há tendência de alívio progressivo em 48 horas.
- A analgesia adequada melhora a evolução clínica, reduzindo complicações respiratórias e cardiovasculares.
2. FATORES DE RISCO PARA INFECÇÃO E FEBRE NO PÓS-OPERATÓRIO
- Primeiras 48 horas
- Elevação de temperatura até 38 ºC pode resultar do aumento do metabolismo e do trauma cirúrgico.
- Principais causas nesse período:
- Atelectasia e pneumonite (infecção pulmonar leve ou colapso de regiões pulmonares).
- Crise tireotóxica (mais raro).
- Terceiro ao Sexto dia
- Suspeitar de infecções em cateteres vasculares, infecção urinária, infecção incisional ou peritonite (localizada ou difusa).
- Tromboflebite em membros inferiores também pode elevar a temperatura.
- Sexto ao Décimo dia
- Focar em abscessos incisionais, coleções purulentas ou formação de fístulas.
- Fatores Sistêmicos de Infecção
- Desnutrição, obesidade, infecção concomitante, imunodepressão, uso de corticoides, doenças crônicas (diabetes, neoplasias) e hospitalização prolongada.
3. APARELHO RESPIRATÓRIO
3.1 Atelectasia
- Complicação pulmonar mais comum no pós-operatório, normalmente nos primeiros 2 dias.
- Suspeitar diante de febre, taquipneia e taquicardia.
- Prevenção: Fisioterapia respiratória, tosse assistida, mudança de decúbito, exercícios de inspiração profunda.
3.2 Pneumonia
- Pode ser consequência de atelectasia persistente ou aspiração de secreções.
- Manifesta-se por febre alta, calafrios, dor pleurítica e tosse com expectoração.
- Diagnóstico: Radiografia de tórax (nem sempre os achados físicos iniciais são proporcionais aos sintomas).
3.3 Embolia Pulmonar
- Mais comum em pacientes imobilizados, idosos, cirurgias pélvicas ou ortopédicas (colo do fêmur), cardiopatas, obesos, histórico de tromboembolismo, insuficiência venosa ou uso de anovulatórios.
- Fator fisiopatológico: Estado de hipercoagulabilidade no pós-operatório.
- Cerca de 10% das embolias resultam em infarto pulmonar (com manifestações clínicas mais marcantes).
4. APARELHO CARDIOVASCULAR
- Hipovolemia é a causa mais frequente de descompensação cardiocirculatória no pós-operatório.
- Recomenda-se avaliar:
- Perdas hidreletrolíticas e sanguíneas no trans e pós-operatório.
- Qualidade da reposição (volume e composição dos fluidos).
- Pacientes submetidos a cirurgias de grande porte podem ter risco aumentado de reincidência de infarto se tiverem história recente de evento coronariano.
5. RECOMENDAÇÕES PARA PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES
- Oxigenação Adequada: Incentivo à respiração profunda e exercícios respiratórios para prevenir atelectasia.
- Mobilização e Deambulação Precoce: Reduz riscos tromboembólicos e melhora a expansão pulmonar.
- Analgesia Eficiente: Controle da dor para permitir tosse eficaz e mobilização segura.
- Hidratação e Balanço Hídrico: Prevenir hipovolemia e assegurar função renal adequada.
- Verificação de Sinais e Sintomas de Infecção: Observação do local de incisão, cateteres, sondas e possíveis elevações térmicas.
- Profilaxia de Trombose Venosa Profunda (TVP): Meias compressivas, exercícios de dorsiflexão plantar, uso de anticoagulantes profiláticos (quando indicado).
Vigilância contínua
O sucesso no período pós-operatório depende de vigilância contínua, detecção precoce de anormalidades e intervenções rápidas para corrigir fatores de risco. O controle da dor, a estabilização hemodinâmica, as medidas preventivas contra complicações pulmonares e a reposição adequada de fluidos são passos cruciais na reabilitação do paciente após a cirurgia. Ver Complicações da Laparotomia.