Última atualização: 14/03/2025
A relação entre alimentação e saúde mental tem sido um tema de crescente interesse na comunidade científica. Um estudo conduzido pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) revelou que uma dieta rica em alimentos ultraprocessados pode aumentar significativamente o risco de desenvolver depressão. A pesquisa, que acompanhou mais de 14 mil pessoas ao longo de oito anos, evidenciou que indivíduos que consumiam regularmente esses produtos tinham até 58% mais chances de desenvolver a doença em comparação àqueles que priorizavam uma alimentação baseada em alimentos naturais ou minimamente processados. O estudo reforça a necessidade de repensar hábitos alimentares e seu impacto não apenas na saúde física, mas também na saúde mental.
Impacto dos alimentos ultraprocessados na saúde mental
Os alimentos ultraprocessados, como biscoitos recheados, refrigerantes, embutidos e fast-foods, possuem altos teores de açúcares, gorduras trans, conservantes e aditivos químicos que podem comprometer o funcionamento do organismo. Segundo os pesquisadores, esses componentes não apenas afetam a saúde metabólica, mas também exercem influência direta sobre o cérebro, contribuindo para processos inflamatórios que podem estar associados ao desenvolvimento da depressão.
O estudo revelou que participantes que mantinham uma dieta baseada em alimentos in natura ou minimamente processados não apresentaram sintomas depressivos ao longo das três fases da pesquisa. Por outro lado, aqueles que consumiam regularmente ultraprocessados apresentaram um risco progressivo da doença, que variou de 30% a 58% a depender da quantidade ingerida desses produtos.
Pesquisa de longo prazo e metodologia aplicada
O levantamento científico foi realizado com o apoio do Laboratório de Fisiopatologia no Envelhecimento (Gerolab) e envolveu pesquisadores do Instituto de Psiquiatria (IPq) e da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. O estudo analisou dados de três períodos distintos: de 2008 a 2010, de 2012 a 2014 e de 2017 a 2019.
Para medir a incidência da depressão nos participantes, os pesquisadores utilizaram o Clinical Interview Schedule-Revised (CIS-R), um instrumento clínico amplamente reconhecido para avaliação de transtornos psiquiátricos. O método permite identificar sintomas como fadiga, distúrbios do sono, dificuldades de concentração, humor depressivo e pensamentos negativos recorrentes. Além disso, um questionário alimentar detalhado, composto por 114 itens, foi aplicado para mapear os hábitos alimentares dos participantes ao longo do tempo.
Contexto global da depressão e hábitos saudáveis como aliados
A depressão é um transtorno que afeta cerca de 12 milhões de brasileiros, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), representando quase 6% da população. Globalmente, estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sejam diagnosticadas com a doença. O tratamento convencional envolve terapia e uso de medicação, mas especialistas reforçam a importância da adoção de hábitos saudáveis como fator essencial no combate à condição.
Além da alimentação, práticas como atividade física regular, qualidade do sono e controle do estresse são elementos fundamentais para a saúde mental. A pesquisadora Naomi Ferreira, pós-doutoranda da FMUSP e uma das autoras do estudo, destacou que grande parte das pesquisas sobre o tema é conduzida em países desenvolvidos, sendo essencial analisar os impactos em países de renda média e baixa, onde a alimentação ultraprocessada tem se tornado cada vez mais presente devido à praticidade e ao baixo custo.
Recomendações para uma alimentação equilibrada
Os pesquisadores alertam que pequenas mudanças na dieta podem trazer benefícios significativos para a saúde mental e geral. Algumas recomendações incluem:
- Priorizar alimentos naturais, como frutas, legumes, grãos integrais e proteínas magras.
- Reduzir o consumo de produtos industrializados, especialmente aqueles com muitos conservantes, corantes e realçadores de sabor.
- Optar por preparações caseiras, evitando fast-foods e refeições prontas.
- Manter uma hidratação adequada e evitar bebidas açucaradas.
Com base nas evidências apresentadas, o estudo reforça a necessidade de políticas públicas que incentivem uma alimentação mais saudável e alertem a população sobre os riscos do consumo excessivo de ultraprocessados. Afinal, cuidar da saúde mental passa também pela escolha consciente dos alimentos que colocamos no prato. Veja também Whindersson Nunes é internado em clínica psiquiátrica para cuidar da saúde mental.