Última atualização: 21/04/2025
A cidade de Cuiabá, capital de Mato Grosso, enfrenta um crescimento alarmante nos casos de esporotricose, popularmente conhecida como “doença do gato”. A infecção, provocada por um fungo e frequentemente associada a felinos domésticos, tem despertado preocupação entre autoridades de saúde pública por seu potencial de transmissão a humanos. De acordo com registros do Hospital Veterinário (Hovet) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), já foram confirmados nove casos desde o início de 2024, sendo que quatro desses ocorreram apenas nos primeiros meses de 2025.
O avanço da enfermidade acendeu o sinal de alerta em instituições sanitárias, que agora se mobilizam para conter a disseminação e orientar a população sobre medidas de prevenção.
Esporotricose: uma zoonose que exige atenção redobrada
A esporotricose é causada pelo fungo do gênero Sporothrix, que pode ser transmitido de animais para humanos, configurando-se como uma zoonose. A forma mais comum de contágio ocorre por meio de arranhões ou mordidas de gatos infectados, embora o contato com solo, plantas ou superfícies contaminadas também possa levar à infecção.
O problema se agrava pela aparência das lesões, muitas vezes confundidas com doenças como leishmaniose e criptococose, o que dificulta o diagnóstico precoce e atrasa o tratamento adequado.
Sinais clínicos e perigos da contaminação
Os sintomas mais comuns da esporotricose incluem feridas que não cicatrizam, formação de nódulos (ínguas), e em casos mais severos, comprometimento do sistema respiratório e órgãos internos — o que pode levar a óbito se não houver intervenção médica em tempo hábil.
A professora Valéria Dutra, da Faculdade de Medicina Veterinária da UFMT, explica que o diagnóstico rápido é crucial para o sucesso do tratamento, geralmente feito com antifúngicos, e alerta que, quando iniciado nas fases iniciais da doença, a taxa de resposta positiva é significativamente maior.
O abandono de animais doentes agrava o cenário
Uma das principais preocupações apontadas pelos especialistas é o abandono frequente de gatos que apresentam sintomas da esporotricose.
“Muitos tutores, ao notarem lesões nos animais, preferem descartá-los nas ruas em vez de buscar ajuda veterinária. Isso não apenas coloca em risco outros animais, como também aumenta a exposição da população humana ao fungo”, ressalta Valéria. A prática, além de cruel, contribui para a disseminação descontrolada da doença nos centros urbanos.
Alerta nacional: surtos em outras regiões e risco de expansão
Casos da doença já foram amplamente registrados em estados como Rio de Janeiro, Paraná e Mato Grosso do Sul, onde surtos de esporotricose chegaram a ser considerados questões de saúde pública.
A tendência, segundo especialistas, é que a doença continue a se expandir pelo território nacional caso ações de controle não sejam adotadas com rapidez.
Prevenção e conscientização: o papel da população
Para conter o avanço da esporotricose, medidas simples podem ser fundamentais. Entre as recomendações estão manter os gatos dentro de casa, realizar a castração, evitar contato direto com animais que apresentem lesões e usar luvas ao manuseá-los.
A higiene das mãos após o contato com felinos ou ambientes externos também é uma prática essencial. Além disso, campanhas educativas e a integração entre serviços de saúde humana e veterinária são apontadas como estratégias indispensáveis para conter a disseminação do fungo.
Diante da crescente incidência da esporotricose em Cuiabá, especialistas reforçam a necessidade de vigilância contínua, diagnóstico precoce e colaboração entre tutores de animais, profissionais de saúde e poder público. O combate à doença passa por educação, responsabilidade e ações conjuntas para evitar que a “doença do gato” se torne um problema ainda maior para a saúde coletiva. Veja também Alerta sanitário é emitido para Sudeste e Nordeste diante da ameaça crescente do superfungo Candida auris.