Última atualização: 22/04/2025
Durante participação no programa Roda Viva, transmitido pela TV Cultura, o epidemiologista Carlos Augusto Monteiro fez um contundente alerta sobre os riscos representados pelos alimentos ultraprocessados à saúde pública. Segundo ele, esses produtos industriais, cada vez mais presentes na alimentação cotidiana, provocam desequilíbrios generalizados no funcionamento do organismo humano, afetando desde o metabolismo até os sistemas digestivo, cardiovascular e neurológico.
A advertência, embasada em anos de estudos e observações clínicas, reforça a ligação direta entre o consumo excessivo desses alimentos e a crescente epidemia de obesidade que atinge o Brasil e o mundo.
Ultraprocessados: alimentos que o corpo não reconhece como naturais
Durante a entrevista, Monteiro explicou que os alimentos ultraprocessados são formulações industriais compostas por substâncias derivadas de ingredientes alimentares e aditivos artificiais, muitas vezes desprovidos das características naturais dos alimentos in natura.
Por isso, ele argumenta que o corpo humano não reconhece esses produtos como comida de verdade, o que gera uma série de reações adversas em vários órgãos e sistemas. “O ser humano tem grande capacidade de adaptação alimentar, mas esse limite é ultrapassado com o consumo frequente de ultraprocessados”, afirmou o especialista.
Obesidade em ascensão: um reflexo direto da industrialização alimentar
O crescimento acelerado dos índices de obesidade no Brasil e em outros países em desenvolvimento é, de acordo com Monteiro, um reflexo direto do aumento do consumo de alimentos ultraprocessados.
Ele afirma que esses produtos possuem alta densidade energética, baixo valor nutricional e são formulados para estimular o consumo compulsivo, o que contribui decisivamente para o desequilíbrio do peso corporal e para o surgimento de doenças metabólicas, como diabetes tipo 2 e hipertensão.
Impactos silenciosos e generalizados nos órgãos do corpo
Monteiro ressaltou que os danos provocados por esses alimentos não se limitam ao acúmulo de gordura ou ao ganho de peso. “Eles causam uma verdadeira desorganização sistêmica”, explicou, citando impactos sobre o fígado, o intestino, o cérebro e até mesmo o sistema imunológico.
A longo prazo, o consumo regular desses produtos está associado a uma maior incidência de inflamações crônicas e doenças degenerativas.
Presença massiva nas prateleiras e nos lares
Apesar das evidências científicas sobre seus malefícios, os alimentos ultraprocessados seguem sendo amplamente comercializados e consumidos. Monteiro observa que há um desequilíbrio de forças entre a ciência da nutrição e os interesses da indústria alimentícia, que investe pesado em marketing para manter seus produtos atrativos e acessíveis.
A mudança de comportamento alimentar, segundo ele, passa necessariamente por políticas públicas que regulem a publicidade, incentivem a alimentação saudável e garantam o acesso da população a alimentos frescos e naturais.
Debate qualificado e multidisciplinar no Roda Viva
Além de Carlos Monteiro, a edição do Roda Viva contou com uma bancada formada por especialistas de diversas áreas, como jornalistas, pesquisadores e médicos, incluindo representantes do portal Drauzio Varella, da Folha de S.Paulo, da Agência Bori e da revista Piauí. A mediação foi conduzida pela jornalista Vera Magalhães.
O debate, transmitido ao vivo e disponível nas plataformas digitais da emissora, reforçou a importância de ampliar o conhecimento público sobre os riscos alimentares contemporâneos e de promover uma reeducação alimentar ampla e estruturada. Veja também Morre o Papa Francisco, símbolo de simplicidade e renovação na Igreja Católica.