Última atualização: 21/04/2025
O mundo amanheceu de luto nesta segunda-feira (21), com a notícia da morte do papa Francisco, líder da Igreja Católica por quase 12 anos. Jorge Mario Bergoglio faleceu aos 88 anos em sua residência oficial, na Casa Santa Marta, no Vaticano, por volta das 2h35 no horário de Brasília (7h35 no horário local). De acordo com nota oficial emitida pelo Vaticano, o pontífice foi vítima de um acidente vascular cerebral (AVC) associado à insuficiência cardíaca.
A notícia rapidamente ecoou entre fiéis, líderes religiosos e chefes de Estado, provocando comoção mundial. Francisco deixa um legado marcado por posturas progressistas, gestos de humildade e uma trajetória voltada à defesa dos mais vulneráveis.
Falecimento e cerimônias de despedida
O papa Francisco vinha enfrentando problemas de saúde nos últimos meses. Após um longo período de internação para tratar uma pneumonia nos dois pulmões, o pontífice estava sob cuidados médicos intensivos. Mesmo tendo recebido alta hospitalar no fim de março, sua saúde continuava frágil. O Vaticano confirmou que ele faleceu de causas naturais relacionadas ao agravamento de seu quadro clínico.
As cerimônias fúnebres começam já nas próximas horas. O corpo do pontífice será velado na Basílica de São Pedro a partir da manhã de quarta-feira (23), onde fiéis poderão prestar suas homenagens. O enterro, entretanto, ocorrerá na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma — uma escolha rara, repetida pela última vez em 1903, no funeral do papa Leão XIII.
Perfil do pontífice que revolucionou a imagem da Igreja
Nascido em Buenos Aires em 1936, Jorge Mario Bergoglio era filho de imigrantes italianos. Antes de seguir a vida eclesiástica, formou-se técnico químico, chegando a trabalhar brevemente na área. Posteriormente, ingressou na Companhia de Jesus, tornando-se o primeiro jesuíta a assumir o papado. Foi arcebispo de Buenos Aires, cardeal e presidente da Conferência Episcopal Argentina antes de ser eleito papa em 2013, após a histórica renúncia de Bento XVI.
Francisco adotou uma postura inédita ao optar por não viver nos aposentos papais e por renunciar a símbolos de ostentação. Preferiu a sobriedade e a proximidade com o povo, ganhando reconhecimento por sua simplicidade e espontaneidade. Suas falas acessíveis, gestos humildes e senso de humor conquistaram não só católicos, mas também simpatizantes de outras religiões e até não crentes.
Reformas, polêmicas e posicionamentos sociais
Durante seu papado, Francisco se destacou por abrir debates internos e tentar modernizar a estrutura da Igreja Católica. Ele promoveu reformas na Cúria Romana, incentivou maior transparência nas finanças do Vaticano e defendeu mudanças na postura da Igreja diante de temas como sexualidade, papel da mulher e acolhimento de minorias.
Foi o primeiro papa a permitir bênçãos a casais do mesmo sexo, nomear mulheres para cargos importantes no Vaticano e permitir que elas participassem do Sínodo dos Bispos com direito a voto. Apesar disso, enfrentou críticas por não avançar em temas como a ordenação feminina, mantendo a tradição de apenas homens no sacerdócio.
Francisco também se destacou por sua postura política. Condenou guerras, criticou líderes autoritários e chamou atenção para a crise humanitária dos refugiados. Em meio à pandemia de Covid-19, sua imagem rezando sozinho na Praça São Pedro vazia tornou-se um símbolo da esperança em tempos sombrios.
O papa dos pobres
Inspirado por São Francisco de Assis, o papa argentino fez do combate à pobreza sua bandeira principal. Desde sua escolha do nome papal, já deixava claro o caminho que pretendia trilhar: um pastor voltado aos excluídos, aos doentes, aos sem voz. Seu lema “Miserando atque eligendo” (“Olhou-o com misericórdia e o escolheu”) refletia a filosofia de acolhimento que guiou seu papado.
Uma liderança popular, mas controversa entre conservadores
Embora amplamente admirado, Francisco enfrentou forte oposição de alas conservadoras dentro da própria Igreja. Seus posicionamentos sobre temas delicados, como acolhimento a pessoas LGBTQIA+, ambientalismo e justiça social, geraram atritos com setores tradicionalistas que o viam como excessivamente progressista.
Apesar das críticas, o papa manteve firme seu compromisso com uma Igreja mais inclusiva e atuante no cenário global. Analistas apontam que, embora não tenha alterado a doutrina oficial, sua capacidade de promover diálogos e encorajar novas abordagens foi significativa.
Legado e sucessão
O falecimento do pontífice dá início ao período conhecido como sé vacante, no qual a liderança da Igreja é temporariamente assumida pelo camerlengo. Um conclave será convocado dentro de até 20 dias para a eleição do novo papa, que terá a missão de dar continuidade — ou não — à agenda de reformas iniciada por Francisco.
Em nota oficial, o Vaticano exaltou a vida do pontífice como “dedicada ao serviço de Deus e dos mais necessitados” e pediu orações para que “sua alma seja acolhida com misericórdia”. Veja também Estado de saúde do Papa Francisco: um mês de internação e uma luta contínua.