Última atualização: 10/04/2025
Uma pesquisa conduzida por cientistas da Universidade de São Paulo (USP) lança um alerta importante sobre os efeitos do álcool no cérebro humano, especialmente em relação ao surgimento de condições associadas à demência. Segundo os pesquisadores, a ingestão semanal de oito ou mais doses alcoólicas está fortemente ligada a lesões cerebrais que afetam diretamente a memória e a capacidade de raciocínio. O estudo aprofunda a compreensão sobre os riscos neurológicos do consumo elevado de bebidas alcoólicas, reforçando a visão crescente entre profissionais de saúde de que não existe uma quantidade realmente segura de ingestão dessa substância.
Lesões no cérebro aumentam com o consumo de álcool
Publicado na revista científica Neurology, da Academia Americana de Neurologia, o trabalho identificou que indivíduos que consomem oito ou mais doses padrão de álcool por semana apresentam um risco 133% maior de desenvolver lesões vasculares cerebrais, em comparação com aqueles que nunca beberam. Para a pesquisa, uma dose foi definida como 14 gramas de álcool — equivalente a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou uma dose de destilado.
O estudo analisou 1.781 amostras de tecido cerebral de pessoas falecidas com idade média de 75 anos. Os órgãos pertenciam ao banco de cérebros da USP, ligado ao Grupo de Estudos em Envelhecimento Cerebral da Faculdade de Medicina. Além de exames nos cérebros — que incluíram avaliação de peso e lesões estruturais —, os cientistas entrevistaram familiares dos doadores para entender os padrões de consumo alcoólico durante a vida.
Divisão por perfis de consumo mostra tendências alarmantes
Com base nas respostas, os participantes foram divididos em quatro grupos: abstêmios (965), consumidores moderados (até 7 doses semanais, 319 pessoas), consumidores excessivos (8 ou mais doses, 129 pessoas) e ex-consumidores excessivos (368), que haviam parado de beber em excesso.
O grupo que manteve altos níveis de ingestão alcoólica apresentou não apenas maior incidência de lesões vasculares, mas também maior acúmulo da proteína tau, associada ao Alzheimer, e menor volume cerebral em relação à massa corporal.
Problemas cognitivos e risco de demência
As lesões identificadas, como a arteriolosclerose hialina — que causa enrijecimento dos pequenos vasos do cérebro e reduz o fluxo sanguíneo — são fortemente associadas a quadros de declínio cognitivo. Segundo os cientistas, mesmo os indivíduos que haviam deixado de consumir álcool em excesso mostraram uma probabilidade 89% maior de desenvolver tais danos, enquanto os bebedores moderados tiveram um risco 60% maior.
Para o pesquisador Alberto Fernando Oliveira Justo, um dos autores do estudo, os dados revelam a urgência de ações públicas que limitem o consumo excessivo de álcool e informem a população sobre seus efeitos prolongados. “Detectamos um vínculo direto entre o consumo exagerado de álcool e alterações no cérebro que comprometem funções mentais básicas. Essa associação precisa ser levada em conta em campanhas de saúde pública”, destacou. Veja também Família denuncia estudantes de medicina após vídeo zombando paciente transplantada.