Última atualização: 19/03/2025
A precariedade no tratamento de esgoto continua sendo um dos principais desafios de saúde pública no Brasil. Em 2024, a ausência de infraestrutura de saneamento básico resultou em 344 mil hospitalizações no Sistema Único de Saúde (SUS), de acordo com um relatório divulgado pelo Instituto Trata Brasil. A falta de acesso a redes de esgoto e água tratada sobrecarregou hospitais e postos de saúde, impactando diretamente a qualidade de vida da população. O estudo aponta que, caso o saneamento fosse universalizado, o país poderia evitar cerca de 86.760 internações anuais por doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado (DRSAI), o que representaria uma economia de aproximadamente R$ 49,9 milhões para os cofres públicos. Atualmente, o custo médio de cada internação por essas doenças gira em torno de R$ 506,32.
Doenças e impactos no sistema de saúde
A carência de saneamento está diretamente relacionada à propagação de diversas enfermidades, como diarreia, hepatite A, leptospirose, conjuntivite e infecções gastrointestinais. Além disso, doenças transmitidas por insetos, como dengue e malária, também encontram um ambiente propício para proliferação em locais com esgoto a céu aberto e falta de água potável.
Entre as enfermidades monitoradas, a dengue foi a principal responsável pelo aumento das internações no último ano, somando 164,5 mil casos hospitalizados de um total de 168,7 mil causados por vetores como mosquitos. Em segundo lugar, aparecem as doenças transmitidas por via fecal-oral, com 163,8 mil hospitalizações.
Regiões mais afetadas e desigualdade social
Os estados com maior incidência de internações relacionadas à precariedade do saneamento básico foram Maranhão, com 45,8 casos a cada 10 mil habitantes, seguido pelo Distrito Federal (36,2), Paraná (25,6), Amapá (24,6) e Minas Gerais (22,3).
Além da disparidade geográfica, a pesquisa também evidencia um recorte social e racial entre os mais afetados. Cerca de 65% das internações ocorreram entre pessoas pardas e pretas, enquanto indivíduos brancos representaram 113.169 dos casos hospitalizados. Mulheres também foram mais atingidas, somando 53% das hospitalizações, o que equivale a 20,7 mil internações a mais do que os homens.
Projeções para o futuro e a necessidade de investimentos
Apesar do elevado número de internações, o estudo destaca uma tendência de queda na média anual de casos, com redução de 3,6% nos últimos 16 anos. Em 2008, quando a série histórica teve início, foram registrados 615,4 mil casos de hospitalização.
A presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, Luana Pretto, reforça que a ampliação da infraestrutura de saneamento traria benefícios significativos para a saúde da população e para a economia do país. “O avanço do saneamento básico no Brasil reduzirá consideravelmente a incidência de doenças, beneficiando principalmente crianças, idosos, mulheres e populações mais vulneráveis. Precisamos de um compromisso sério com investimentos na coleta e tratamento de esgoto para garantir um futuro mais saudável para todos“, afirmou.
Com a meta do Novo Marco Legal do Saneamento, que prevê a universalização do acesso à água potável e à coleta de esgoto até 2033, especialistas alertam que, sem ações concretas e aceleração dos projetos de infraestrutura, milhões de brasileiros continuarão expostos a riscos de saúde evitáveis. Veja tambem Pacientes ficam presos em unidade de saúde de BH após temporal inundar o local.