Filipinas pagam moradores para capturar mosquitos da dengue

Última atualização: 21/02/2025

A crescente ameaça da dengue nas Filipinas levou as autoridades a adotar uma estratégia inusitada na tentativa de controlar a proliferação do mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença. Diante do aumento alarmante dos casos, um vilarejo na região metropolitana de Manila lançou um programa que recompensa financeiramente os moradores que capturam mosquitos vivos ou mortos. A iniciativa, que já despertou tanto apoio quanto críticas, tem atraído um número expressivo de participantes.

Recompensa simbólica, mas atrativa

O programa oferece um peso filipino para cada cinco mosquitos capturados, o que equivale a aproximadamente R$ 0,09. Apesar do valor aparentemente baixo, a ideia tem mobilizado os habitantes do vilarejo de Addition Hills, onde filas se formam para a troca dos insetos por dinheiro. Muitos dos participantes enxergam a ação como uma oportunidade de contribuição para a saúde pública, além de um pequeno alívio financeiro para suas famílias.

Rachel Estoque, uma dona de casa de 45 anos, é um dos exemplos de engajamento na iniciativa. Ela se levanta cedo para coletar larvas de mosquito em água parada encontrada em vasos de plantas. Cada 20 larvas coletadas lhe garantem quatro pesos, suficientes para comprar uma pequena garrafa de óleo de cozinha. “O dinheiro é útil, mas o que me motiva é evitar que outras pessoas passem pelo que meu filho passou quando contraiu dengue“, explicou.

Dúvidas sobre a eficácia e riscos do programa

A iniciativa foi idealizada por Carlito Cernal, chefe da vila, e rapidamente ganhou notoriedade na mídia local. Ele defende que o pagamento pelos mosquitos pode ajudar na redução da transmissão da doença. No entanto, especialistas da área de saúde pública têm questionado se a medida terá impacto significativo a longo prazo.

O porta-voz do Ministério da Saúde, Albert Domingo, alertou que estratégias emergenciais como essa devem ser discutidas com autoridades sanitárias antes de serem implementadas. Segundo ele, a solução mais eficiente é eliminar criadouros de larvas e reforçar medidas preventivas, como o uso de repelentes e roupas compridas. “Quanto mais cedo eliminarmos a água parada e adotarmos precauções básicas, maior será nossa chance de conter a dengue“, enfatizou.

Outro receio apontado por especialistas, como o médico Anthony Leachon, é que alguns moradores possam tentar lucrar com a iniciativa criando deliberadamente mosquitos para garantir a recompensa. “A ideia de pagar por mosquitos pode levar a um problema ainda maior, em que pessoas incentivem a reprodução dos insetos em vez de combatê-los“, alertou Leachon.

A dengue nas Filipinas: uma crise de saúde pública

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as Filipinas foram o país mais afetado pela dengue na região do Pacífico Ocidental em 2023, registrando 167.355 casos e 575 mortes. Neste ano, o arquipélago já contabilizou 28.200 casos até o início de fevereiro, um aumento de 40% em relação ao mesmo período do ano anterior. A situação é especialmente grave em Manila e arredores, onde cinco cidades e municípios já enfrentam surtos.

Embora a proposta de recompensar caçadores de mosquitos tenha chamado a atenção da população e da imprensa, sua eficácia ainda é incerta. Enquanto isso, autoridades de saúde reforçam que a melhor estratégia continua sendo a prevenção: eliminação de criadouros, conscientização da população e investimentos em programas de controle epidemiológico para reduzir a propagação da dengue no país. Veja também Alerta da OPAS: Risco de surtos de Dengue tipo 3 ameaça as Américas.

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