Última atualização: 06/02/2025
Uma denúncia chocante revelou que médicos de um hospital no centro de São Paulo estavam utilizando furadeiras domésticas em procedimentos cirúrgicos ortopédicos. O uso desse equipamento, que não é regulamentado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), levanta preocupações sobre a segurança dos pacientes e a precarização do sistema de saúde. As furadeiras, que são amplamente comercializadas em lojas de material de construção e utilizadas para fins domésticos e industriais, não possuem certificação para uso médico, tampouco atendem às rigorosas exigências da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para equipamentos cirúrgicos.
Essa prática, que teria como principal motivação a economia de custos, expõe os pacientes a riscos graves, incluindo infecções, falhas mecânicas e falta de precisão nos procedimentos.
Cirurgias com ferramentas não regulamentadas
Vídeos divulgados pela TV Globo mostram profissionais de saúde manipulando furadeiras domésticas durante operações no Hospital Nossa Senhora do Pari, localizado na região do Brás. O equipamento, de uso comum em reformas e trabalhos manuais, é considerado inadequado para procedimentos médicos, pois não possui os requisitos de esterilização, controle de rotação e proteção contra descargas elétricas exigidos para uso hospitalar.
Funcionários do hospital, que pediram anonimato, informaram que a instituição mantinha de cinco a nove furadeiras em funcionamento, mas com manutenção precária. “Algumas têm a marca raspada, outras são consertadas pelos próprios médicos, e algumas são isoladas com fita adesiva para continuar funcionando“, revelou uma fonte.
A justificativa para a utilização dessas ferramentas seria a redução de custos. “O hospital compra esse modelo porque é mais barato, e também porque a manutenção é mais acessível”, afirmou um funcionário à TV Globo.
Falta de higiene e riscos sanitários
Além do uso irregular das furadeiras, a reportagem apontou outro problema grave: a higienização do ambiente cirúrgico estava sendo feita com detergente desengordurante de cozinha, e não com produtos específicos para a assepsia hospitalar. Isso pode representar um sério risco de infecções para os pacientes submetidos a cirurgias no local.
A Anvisa emitiu uma nota técnica alertando que o uso de equipamentos sem registro sanitário representa uma grave infração e ameaça a segurança dos pacientes. “A furadeira doméstica não pode ser esterilizada adequadamente, não tem controle preciso de velocidade e pode causar acidentes elétricos“, explicou o órgão regulador.
Fiscalização e investigações em andamento
O Governo de São Paulo informou que a Vigilância Sanitária realiza inspeções regulares no hospital, mas não especificou a data da última vistoria ou se alguma irregularidade havia sido identificada anteriormente. A Secretaria de Estado da Saúde destacou que o Hospital Nossa Senhora do Pari é uma unidade filantrópica e possui autonomia administrativa. Já a Prefeitura de São Paulo esclareceu que não é responsável pela fiscalização do local, mas confirmou que a licença sanitária do hospital está válida até abril de 2025.
O Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp) anunciou que está investigando o caso. “O departamento de Fiscalização já foi acionado e as apurações correm sob sigilo“, declarou a entidade.
Repercussão e preocupação da comunidade médica
O caso gerou grande repercussão e indignação entre especialistas da área da saúde. Profissionais da medicina alertam que o uso de equipamentos inadequados pode comprometer a eficácia dos procedimentos cirúrgicos e colocar a vida dos pacientes em risco. “É inadmissível que um hospital utilize ferramentas não certificadas. Isso demonstra uma falha grave no controle de qualidade e fiscalização do ambiente hospitalar“, declarou um ortopedista que preferiu não se identificar.
A denúncia também reacende o debate sobre o subfinanciamento da saúde pública e os desafios enfrentados por hospitais filantrópicos no Brasil, que frequentemente lidam com dificuldades financeiras para adquirir equipamentos médicos adequados.
Enquanto as investigações seguem em curso, o Hospital Nossa Senhora do Pari ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso. O espaço segue aberto para manifestação. Veja também Isabel Veloso relata agravamento de câncer após nascimento do primeiro filho.