Última atualização: 24/03/2025
No Hospital da Criança e Maternidade (HCM), em São José do Rio Preto, uma ação simples vem reacendendo sonhos em meio à luta pela vida. É nesse cenário de cuidados intensivos que Maria Eduarda, uma menina de apenas três anos, encontrou um novo motivo para sorrir: ela agora frequenta aulas dentro do hospital. Diagnosticada com uma síndrome rara e sem cura no intestino, Maria está em estado paliativo, mas sua história mostra que, mesmo nos dias mais difíceis, é possível resgatar a dignidade e a esperança através da educação e do carinho.
Classe hospitalar dá novo significado ao tratamento
Diante da complexidade dos casos atendidos no HCM, a instituição decidiu reativar uma antiga iniciativa: uma sala de aula dentro do hospital. O espaço foi criado para acolher crianças que, como Maria, precisam de atenção médica constante e, por isso, passam longos períodos internadas.
O retorno das aulas começou oficialmente no dia 11 de março, com encontros regulares às terças e quintas, entre 14h e 17h, além de atividades lúdicas, como contação de histórias, às quartas e sextas.
A difícil jornada de Maria Eduarda
Maria Eduarda foi diagnosticada aos dois meses de vida com megacólon congênito total — uma condição em que o intestino grosso não possui células nervosas essenciais para seu funcionamento. Desde então, ela passou por oito cirurgias e permanece internada há quase um ano, com alimentação exclusivamente por via intravenosa, por meio de bombas de infusão, já que possui apenas 17 centímetros do intestino delgado funcional.
Durante sua internação, a menina enfrentou desafios severos: infecção generalizada, perfuração intestinal, quatro paradas cardíacas e falência múltipla de órgãos. O quadro grave levou os médicos a classificarem seu estado como paliativo.
Esperança entre as paredes do hospital
A mãe de Maria, Jéssika Thaisa Silva Rodrigues, mudou-se do interior de Minas Gerais para São José do Rio Preto com o intuito de buscar tratamento para a filha. Ao ser informada de que Maria poderia participar de aulas dentro do hospital, Jéssika se emocionou: “Era meu sonho vestir o uniforme nela. Mesmo com todos os limites, ela pode ter esse momento, como qualquer criança.”
A escola hospitalar não é apenas um espaço de aprendizado formal, mas também um lugar onde as crianças internadas têm a chance de vivenciar um pouco da rotina escolar que muitas vezes lhes é negada. Segundo Jéssika, essa oportunidade representa um momento raro de normalidade: “Ela ficou animada, me disse: ‘mamãe, eu vou estudar’. Isso mostra que, mesmo em cuidados paliativos, ela ainda tem o direito de viver”.
Educação como parte do cuidado integral
A pediatra intensivista Patrícia Vidotti Baratto destaca que a presença de uma estrutura escolar dentro do hospital ajuda não só no desenvolvimento cognitivo das crianças, mas também pode ser um fator positivo para o tratamento médico. Já a diretora da unidade, Fernanda Del Campo Braojos Braga, ressalta que essa reativação representa um passo importante no cuidado humanizado: “Oferecer educação para crianças em desenvolvimento cerebral é tão vital quanto o tratamento clínico em si”.
Apesar das incertezas, Jéssika nutre esperanças de que um dia poderá levar sua filha para casa. Ela sonha com um futuro onde Maria cresça, vá para a faculdade e realize seus desejos: “Mesmo que tudo diga o contrário, eu acredito que ela pode conquistar tudo o que quiser. E agora, com essa sala de aula, ela está tendo a chance de começar”. Veja também Fabiana Justus é hospitalizada após forte febre e mal-estar.