Última atualização: 20/05/2025
O clima era de desespero e revolta no Pronto-Socorro “Dr. Álvaro Azzuz”, em Franca (SP), no último sábado (10). Maria Angélica dos Santos, de 53 anos, perdeu a vida aguardando uma vaga para ser transferida a um hospital com melhores recursos. Diagnosticada com tuberculose e enfrentando sérios problemas respiratórios, ela permaneceu internada por quase duas semanas, mas não resistiu à espera por um atendimento mais especializado. O caso gerou indignação entre os familiares, que apontam negligência por parte da Prefeitura e do Estado e exigem providências diante da falha no atendimento.
Esperando por um socorro que nunca veio
Maria Angélica deu entrada no PS no dia 29 de abril com quadro de acúmulo de líquido nos pulmões e dificuldades respiratórias frequentes. Segundo relatos do filho, Túlio Santos, ela dependia de oxigênio para respirar, mas o suporte necessário só estaria disponível em outro hospital — o que nunca aconteceu. Durante esse tempo, a família enfrentou uma dura rotina de espera, enquanto a paciente se agravava no pronto-socorro.
No sábado, dia 10, a situação se agravou e Maria acabou sendo intubada. De acordo com Túlio, esse procedimento foi feito sem qualquer autorização dos familiares. “Eles sequer falaram com a gente. Foi tudo feito no improviso. Estavam tratando o caso como se não fosse sério”, desabafou ele, visivelmente abalado.
Dia das Mães marcado por luto
Para tornar tudo ainda mais doloroso, o sepultamento de Maria ocorreu no domingo, 11 de maio, Dia das Mães. Ela deixou três filhos e dois netos, que agora convivem com a dor da perda e a indignação com o sistema de saúde.
A família acusa tanto a Prefeitura quanto a Secretaria Estadual de Saúde de negligência no processo de regulação e afirma que o caso foi tratado com descaso do início ao fim.
Versões desencontradas entre Prefeitura e Estado
Em nota, a Prefeitura de Franca alegou ter feito o pedido de transferência no prazo correto, mas jogou a responsabilidade para o Estado, afirmando que a liberação da vaga seria competência da Secretaria Estadual de Saúde. Por outro lado, o governo paulista afirmou que a ficha da paciente estava desatualizada no sistema — responsabilidade do município — e que isso impediu a liberação da vaga.
A administração municipal rebateu, garantindo que as fichas são atualizadas diariamente com as evoluções clínicas dos pacientes. Já a Secretaria Municipal de Saúde reforçou que Maria Angélica havia sido incluída no sistema estadual de regulação (Siresp), que gerencia a distribuição de leitos pelo SUS. Segundo essa versão, a paciente foi reavaliada no sábado e, diante da piora, foi conduzida à sala de urgência e intubada com consentimento do filho.
Falta de comunicação e burocracia mortal
O caso evidencia o caos burocrático e a falta de integração entre os sistemas municipal e estadual de saúde. Enquanto os órgãos trocam acusações e empurram a responsabilidade um para o outro, mais uma vida foi perdida. Túlio, inconsolável, resume a dor da família em uma frase: “Acabaram com a minha vida”.
Agora, o que resta para os familiares é buscar justiça e garantir que outras pessoas não enfrentem o mesmo abandono no momento em que mais precisam de socorro. Veja também Servidor aposentado morre enquanto se exercitava em academia de Betim.