Última atualização: 16/03/2025
A prática de musculação é amplamente reconhecida por seus benefícios à saúde física, como o aumento da força, da massa muscular e a redução da gordura corporal. No entanto, um estudo realizado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) trouxe à tona um efeito ainda mais significativo: a musculação pode ser uma ferramenta essencial na proteção do cérebro de idosos contra doenças neurodegenerativas, como a demência. Os resultados, publicados na revista científica GeroScience, indicam que o treinamento de força não apenas melhora a memória, mas também promove alterações estruturais no cérebro, reduzindo a progressão de quadros de comprometimento cognitivo.
A pesquisa analisou 44 idosos diagnosticados com comprometimento cognitivo leve, uma condição que se situa entre o envelhecimento normal e o estágio inicial da doença de Alzheimer. Durante o estudo, foi observado que aqueles que praticaram musculação regularmente tiveram mudanças significativas na anatomia cerebral, preservando regiões-chave associadas à memória e à cognição.
Como o estudo foi conduzido
Os participantes foram divididos em dois grupos: um que praticou musculação duas vezes por semana, com intensidade moderada a alta e progressão de carga, e outro que permaneceu sem a prática de exercícios de força. Ao final de seis meses, exames de ressonância magnética mostraram que os idosos ativos apresentaram maior proteção contra a atrofia em áreas cerebrais críticas, como o hipocampo e o pré-cúneo – ambas associadas ao desenvolvimento da doença de Alzheimer. Além disso, a integridade da substância branca do cérebro, que reflete a saúde dos neurônios, foi preservada nos praticantes de musculação.
A importância da musculação para o cérebro
Os cientistas envolvidos no estudo apontam que o treinamento de resistência pode ajudar a manter a saúde cerebral por meio de dois mecanismos principais: o estímulo à produção do fator de crescimento neural e a redução da inflamação sistêmica. Essas duas ações são fundamentais para a manutenção e proteção dos neurônios, reduzindo os danos causados pelo envelhecimento e diminuindo o risco de doenças neurodegenerativas.
O estudo também identificou que os voluntários que participaram das atividades físicas apresentaram melhora na memória episódica verbal, essencial para a recordação de eventos e informações do dia a dia. Em contrapartida, o grupo que não realizou exercícios mostrou um declínio nos mesmos parâmetros cognitivos.
O impacto para a saúde pública
Os pesquisadores enfatizam que os achados reforçam a necessidade de políticas públicas que incentivem a prática da musculação na terceira idade. Segundo os especialistas, incluir programas de treinamento de força no sistema de saúde pode ser uma estratégia eficaz e econômica para retardar o avanço de doenças como o Alzheimer, reduzindo os custos com tratamentos médicos e melhorando a qualidade de vida dos idosos.
Outro ponto levantado pelos cientistas é a comparação entre os benefícios da musculação e os altos custos dos medicamentos aprovados recentemente para tratar a demência. Algumas dessas drogas, como os antiamiloides disponíveis nos Estados Unidos, podem custar cerca de US$ 30 mil anuais, um valor inacessível para grande parte da população. Em contrapartida, a musculação se mostra uma alternativa acessível e de fácil implementação.
Futuras pesquisas e novos desafios
Os resultados promissores abriram caminho para novas investigações sobre a relação entre exercícios de força e a saúde cerebral. Os pesquisadores pretendem agora avaliar se um período mais longo de musculação, como três anos, poderia reverter quadros de comprometimento cognitivo leve e até mesmo evitar a progressão para a demência. No estudo atual, cinco participantes que iniciaram o experimento com esse diagnóstico terminaram sem apresentar mais sinais clínicos da condição, um indicativo de que o treinamento pode ter um efeito ainda mais poderoso quando praticado por um período prolongado.
Além disso, os cientistas estão analisando os níveis de substâncias como a irisina e o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), que são estimuladas pela contração muscular e têm papel fundamental na proteção dos neurônios e na plasticidade sináptica. Os resultados dessas análises podem fornecer evidências adicionais sobre como a musculação age no cérebro e quais são seus reais impactos na prevenção da demência.
Musculação surge como uma aliada
A musculação surge como uma aliada não apenas na manutenção da força física dos idosos, mas também como um poderoso recurso para preservar a saúde mental e cognitiva. A descoberta de que o exercício pode proteger áreas cerebrais essenciais e retardar a progressão da demência reforça a importância da prática regular de atividades físicas na terceira idade. Com novas pesquisas em andamento, a expectativa é que mais evidências científicas solidifiquem o papel da musculação na prevenção e no tratamento de doenças neurodegenerativas, abrindo caminho para estratégias mais eficazes de saúde pública. Ver também Conselho Federal de Medicina cria comissão para estudar impacto da espiritualidade na saúde.