Última atualização: 09/07/2018
Quando o assunto se trata de enfermeiros, inúmeras pessoas ainda possuem um forte estigma com a profissão, vendo a mulher no mercado de trabalho sempre a imaginando pelos corredores dos hospitais em vestidos apertados.
Isso não é uma surpresa, é apenas um dos muitos estereótipos que vem sendo alimentado ao longo dos anos a respeito da profissão de enfermagem.
Embora haja naturalmente uma predominância de mulheres na profissão, há também homens, e esse número tem aumentado bastante ao longo dos últimos anos. Hoje no Brasil, do total de profissionais de enfermagem, 15% são do sexo masculino, e essa tendência continua em crescimento.
Esse aumento está intrinsecamente associado a maior oferta de trabalho nos hospitais, não somente ligado aos cuidados dos enfermos, mas também em outras áreas, tais como administrativa e dentro das universidades atuando em campos de pesquisa e ensino.
E é com base nas atuais tendências de mercado e nos aspectos demográficos dos profissionais de enfermagem que iremos pontuar questões bastante pertinentes sobre o assunto, perpassando pelos seguintes aspectos:
- Características gerais da enfermagem;
- Processo de inserção do homem na enfermagem (Brasil);
- Enfermeiros X Enfermeiras;
- O futuro da enfermagem;
Características gerais da enfermagem
Os profissionais de enfermagem (enfermeiros, auxiliares e técnicos) congregam mais de um milhão e oitocentos mil trabalhadores, o que equivale à metade da força de trabalho que opera na área da saúde.
A equipe de enfermagem é constituída por 77% de técnicos e auxiliares de enfermagem, e o restante (23%), é formado por enfermeiros. Segundo o último estudo demográfico da categoria, foi constatado que é cada vez mais vigoroso o aumento do número de enfermeiros.
Como citei no início do artigo, a enfermagem é predominantemente composta pelo sexo feminino. A própria conceituação que foi dada a profissão ao longo dos anos, em conjunto com o papel da mulher em diversas épocas, contribuiu para a feminilização desse setor. Embora isso seja verdade, tem sido registrado recentemente o aumento da tendência da participação masculina na categoria.
Com o decorrer dos anos e com a deflagração a Primeira Guerra Mundial, veio a recessão econômica no país e várias epidemias se alastraram. O governo teve que buscar soluções, e começou a reforma sanitária e várias outras medidas para estruturar a saúde pública.
Foi dessa série de acontecimentos que surgiu a escola de enfermagem Anna Nery, com intuito de garantir a formação profissional de alto nível. Com o objetivo de instituir e garantir um padrão, o exército criou a escola sanitária divisionária, onde apenas homens que tivessem formação militar iriam exercer a função técnica em saúde no serviço militar. Era destinado somente a formação de enfermeiros no corpo de saúde do exército.
Dessa forma, foi decretado que apenas enfermeiros militares poderiam compor o quadro de enfermeiros do exército, devendo passar por concursos realizados por hospitais subordinados ao exército. Dentro da carreira militar eles possuíam as seguintes formações: enfermeiros de 1ª, 2ª e 3ª classe. Dessa forma excluindo totalmente o público feminino dos cuidados a esses doentes.
No Brasil, como ocorreu o processo de inserção do homem na enfermagem?
A inserção da população masculina na enfermagem no Brasil, iniciou-se por volta da década 80, quando foi criada a primeira escola destinada a formar enfermeiros e enfermeiras, que hoje é a Escola Alfredo Pinto (UNI-RIO), situada no Rio de Janeiro.
Na época a escola permaneceu longos anos sob a direção de religiosos, sendo os cuidados feitos apenas sob a ótica da religião, sem levar em consideração o cunho científico da profissão.
A classe médica lutava para que houvesse autonomia profissional. Então aliou-se ao governo, alegando péssimas condições de trabalho (o que prejudicava o atendimento dos doentes) e fez com que a direção da escola fosse dada a um homem, Teixeira Brandão.
Logo quando assumiu a direção, ele trocou os religiosos (na época as irmãs da caridade) por enfermeiros e guardas que tinham a função de cuidar dos homens doentes, e trouxe enfermeiras para cuidar das mulheres. Apesar dessa inserção na época, ainda assim predominava o número de mulheres.
Enfermeiros X Enfermeiras
O homem tem exercido cada vez mais importância no contexto da profissão de enfermagem, representando hoje cerca de ¼ do total de profissionais. Mas esse processo de inserção não tem sido tão simples, levando em consideração que a profissão é predominantemente feminina, os homens enfrentam dentro do contexto social preconceitos, tendo em inúmeras vezes sua orientação sexual questionada.
Além disso, é comum enfrentar preconceitos na realização de um exames, como por exemplo o citopatológico (Papanicolau), no qual diversas mulheres se recusam a serem atendidas por um homem.
Atualmente os enfermeiros estão presentes em diversas áreas da enfermagem, inclusive com homens assumindo posições em áreas como a obstétrica e neonatal.
O futuro da enfermagem
A enfermagem possui perspectivas positivas no atual momento em que vivemos, possuindo campo de trabalho para ambos os gêneros, homens e mulheres, pois além de ser uma profissão predominantemente feminina, os homens estão sendo bem recebidos no mercado de trabalho e rapidamente assumindo cargos de chefia.
Não só os hospitais, mas também as instituições de ensino estão constantemente necessitando de novos profissionais nessa área. É por isso que a profissão do enfermeiro tem crescido bastante, contribuindo de forma positiva para a saúde do país.
Conclusão
Que a profissão de enfermagem é predominantemente feminina, disso temos certeza, é um fato. Por outro lado, também é verdade que o mercado de trabalho tem contratado cada vez mais profissionais, e com isso aumentando o número de homens que buscam a enfermagem como profissão.
Dessa forma, se torna necessário que haja a desmitificação de que a profissão de enfermagem é apenas destinada a mulheres. É nosso dever contribuir para diminuição dos estigmas e preconceitos que a profissão tem levantado ao longo dos anos.
Referências Bibliográficas
LOPES, Marta Júlia Marques; LEAL, Sandra Maria Cezar. A feminização persistente na qualificação profissional da enfermagem brasileira. Cadernos pagu, v. 24, n. 1, p. 105-125, 2005.
MATOS, Izabella Barison; TOASSI, Ramona Fernanda Ceriotti; OLIVEIRA, Maria Conceição de. Profissões e ocupações de saúde e o processo de feminização: tendências e implicações. Athenea digital: revista de pensamiento y investigación social. Barcelona. Vol. 13, n. 2 (jul. 2013), p. 239-244, 2013.
DONOSO, Miguir Terezinha Vieccelli. O gênero e suas possíveis repercussões na gerência de enfermagem. REME rev. min. enferm, v. 4, n. 1/2, p. 67-69, 2000.
AVILA, Liziani Iturriet et al. Implications of the visibility of professional nursing practices. Revista gaucha de enfermagem, v. 34, n. 3, p. 102-109, 2013.
Machado MH (Coord), Aguiar WF, LacerdaWF,Oliveira E,W Lemos,Wermelinger M, et al. Relatório final da Pesquisa Perfil da Enfermagem no Brasil (Convênio: Fiocruz/Cofen). Rio de Janeiro:28 volumes, NERHUS-DAPS-Ensp/Fiocruz e Cofen;2015.