O que são arritmias cardíacas

O que são arritmias cardíacas?

Atualizado em 20/04/2023 às 08:42

O coração consiste em dois tipos de células musculares, sendo as contráteis, que compõem a maioria das células dos átrios e ventrículos, levando à contração, gerando força e pressão no coração.

As arritmias são distúrbios na geração, condução e/ou propagação do impulso elétrico no coração.

Podem representar risco iminente de morte quando associada a agravos como insuficiência cardíaca congestiva (ICC), tromboembolismo e choque cardiogênico.

Podem ser espontâneas, denominadas primárias, ou secundárias quando vinculadas a outras patologias de base como infarto agudo do miocárdio. A incidência de arritmias é maior em adultos, relacionadas ou não a outras patologias. Em crianças, a grande maioria das arritmias tem característica secundária a patologias de base, pós-operatórios de cirurgia cardíaca, distúrbios metabólicos, hipoxemia e choque.

A eletrofisiologia cardíaca envolve todo o processo de ativação elétrica do coração, destacando-se os potenciais de ação cardíacos, a condução de ação desses potenciais ao longo dos tecidos condutores especializados, a excitabilidade e os períodos refratários, os efeitos moduladores do sistema autônomo sobre a frequência cardíaca e velocidade de condução sobre a excitabilidade.

Para o coração funcionar como bomba é necessário que os ventrículos sejam eletricamente ativados. No músculo cardíaco, a ativação elétrica é o potencial de ação do coração, que normalmente se origina no nó sinoatrial (SA), também denominado de nó sinusal, localizado no átrio direito. A seguir, é conduzido ao miocárdio em uma sequência, pois os átrios devem ser ativados à contração antes dos ventrículos, a partir do ápice em direção à base para a eficiente ejeção do sangue.

Dois tipos de células musculares

O coração consiste em dois tipos de células musculares, sendo as contráteis, que compõem a maioria das células dos átrios e ventrículos, levando à contração, gerando força e pressão no coração; e as condutoras, que compreendem os tecidos do nó sinoatrial, as vias internais dos átrios, o nó atrioventricular (AV), o feixe de His e o sistema de Purkinje, que têm por objetivo propagar rapidamente o potencial de ação por todo o miocárdio.

O impulso elétrico, que normalmente se inicia no nó sinusal e se propaga pelas vias internodais, atinge os átrios direito e esquerdo e, simultaneamente, o nó atrioventricular, com velocidade de ação diminuída.

A condução lenta assegura que os ventrículos tenham tempo suficiente para se encherem de sangue antes de sua ativação e contração. A partir do nó AV, o potencial de ação avança pelo sistema de condução ventricular, que se inicia no feixe de His, ramos esquerdos (RE) e direito (RD) dos feixes menores do sistema de Purkinje. A condução pelo sistema His-Purkinje é muito rápida e distribui o potencial de ação aos ventrículos, permitindo a contração e ejeção eficiente do sangue, caracterizando o ato mecânico da bomba cardíaca.

O nó sinusal, marca-passo dominante do coração, varia com frequência entre 60 e 100 impulsos por minuto em pessoas adultas.

Situações anômalas

Em situações anômalas, um ou mais impulsos elétricos podem se originar com propagação dos impulsos simultaneamente, e o marca-passo que possuir a maior frequência cardíaca é considerado dominante. Caso haja uma falha no marca-passo sinusal, outro secundário poderá iniciar o impulso elétrico com frequência variável de acordo com seu ponto inicial.

Registro da ativação elétrica do coração

O eletrocardiograma (ECG) é um registro da ativação elétrica do coração. Para que a corrente elétrica faça todo o percurso intracardíaco, cargas positivas e negativas estão contidas dentro das células especializadas do coração. Quando em repouso, o lado de fora da célula é positivo e o de dentro negativo, processo este denominado estado balanceado ou polarizado.

Ao ocorrer o estímulo destas células, sua polaridade é invertida, ou seja, positiva dentro e negativa fora, ocorrendo assim a despolarização, que reflete o fluxo de uma corrente elétrica para todas as células ao longo das vias de condução, retornando posteriormente ao seu estado original em repouso, estado este denominado de repolarização.

As propriedades das células miocárdicas, que permitem estes eventos levando à contração do músculo cardíaco, são a automaticidade ou capacidade de iniciar um impulso elétrico, a excitabilidade ou capacidade em responder a um impulso, condutividade ou capacidade de transmitir um impulso e, contratilidade ou capacidade de responder a ação de bomba cardíaca. Essas propriedades determinam a atividade elétrica do coração.

O impulso elétrico gerado no nó sinusal, a condução através das fibras, a estimulação do músculo e o período de recuperação são transmitidos para a superfície do corpo, onde podem ser captados por meio dos eletrodos fixados na pele. Essas forças elétricas em forma de ondas (positivas e negativas) podem ser visualizadas por meio de um monitor cardíaco, visor ou osciloscópio ou no eletrocardiograma registradas em fita corrente de papel especial milimetrado.

É importante que você saiba que o ECG é um galvanômetro que mede pequenas intensidades de corrente elétrica a partir de dois eletrodos dispostos no corpo, registrando a atividade elétrica cardíaca em um gráfico. As ondas originárias dessa atividade elétrica são designadas pelas letras P-Q-R-S-T.

Como as forças elétricas geradas pelo coração se espalham simultaneamente em várias direções, as ondas podem ser captadas em diferentes planos do órgão. Há três derivações dos membros denominadas bipolares I-II-II, três derivações dos membros tipo unipolares, que são AVR-AVLAVF, e seis derivações ventriculares do tipo unipolares, que são V1-V2-V3-V4-V5-V6 captadas ao longo da parede torácica.

A cada uma destas derivações é atribuída uma função, como você pode ver ao lado:

Onda P: atividade elétrica que percorre os átrios; Intervalo P-R: intervalo de tempo entre o início da despolarização atrial até o início da despolarização ventricular; Complexo Ventricular QRS: despolarização dos ventrículos;

Onda Q: despolarização septal;

Onda R: despolarização ventricular;

Onda S: despolarização da região basal posterior do ventrículo E;

Onda T: repolarização dos ventrículos;

Segmento S-T: período de inatividade elétrica depois de o miocárdio estar despolarizado;

Intervalo Q-T: tempo necessário para despolarização e repolarização dos ventrículos.

É importante que você fique atento à instalação correta dos eletrodos e cabos do ECG, conforme quadro abaixo, para um diagnóstico correto e o atendimento eficaz.

Localização das derivações precordiais (unipolares):
V1: 4º espaço intercostal direito do esterno
V2: 4º espaço intercostal esquerdo do esterno
V3: a meia distância entre V2 e V4
V4: 5º espaço intercostal esquerdo a partir da linha média clavicular
V5: 5º espaço intercostal esquerdo a partir da linha média clavicular
V6: linha axilar média no mesmo nível de V4

As manifestações da frequência cardíaca muito alta ou muito baixa com distúrbio de ritmo são denominadas de taquiarritmias e bradiarritmias, respectivamente, podendo ocasionar alteração de nível de consciência, síncope, palpitações, parada cardiorrespiratória e, em casos extremos, morte súbita.
Observe que, nesse caso, a arritmia está sendo classificada com base na frequência cardíaca e verificada em batimento por minuto (bpm).

Outra forma conhecida de classificação é por sua localização, podendo aparecer nos átrios ou nos ventrículos. Quando os focos ectópicos, também chamados de extrassístoles (batimentos extras), estão localizados nos átrios, temos as arritmias supraventriculares ou atriais, e quando os focos se localizam nos ventrículos, as arritmias são denominadas ventriculares.

Para que você possa colaborar na identificação precoce dessas arritmias, descreveremos abaixo os sinais, sintomas e a caracterização eletrocardiográfica da atividade elétrica do coração, descrita pela morfologia e pelos intervalos entre as ondas originárias da atividade elétrica do coração.

REFERÊNCIAS

1. Delacrétaz E. Clinical practice. Supraventriculartachycardia. N Engl J Med. 2006; 354(10):1039-51.

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4. Rubart M, Zipes DP. Gênese das arritmias cardíacas:considerações eletrofi siológicas. In: Zipes DP, Libby P,Bonow RO, Braunwald E, editores. Braunwald, tratadode doenças cardiovasculares. 7a ed. Rio de Janeiro:Elsevier; 2006. p.653-88.

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