Última atualização: 10/04/2025
O que era para ser uma das experiências mais marcantes da vida de Francy Hellen Aparecida da Silva Vieira — o nascimento dos filhos gêmeos — acabou se tornando uma jornada de sofrimento físico e emocional que se estendeu por quase meia década. Aos 26 anos, em agosto de 2020, Francy passou por uma cesariana na Maternidade Cândido Mariano, em Campo Grande (MS). No entanto, o que deveria ter sido apenas o início de uma nova fase, revelou-se um pesadelo prolongado: uma gaze cirúrgica foi esquecida dentro de seu útero, o que comprometeu sua saúde por mais de quatro anos.
Dor recorrente e diagnósticos inconclusivos
Desde o retorno para casa, após o parto, Francy passou a conviver com dores abdominais frequentes e desconfortos persistentes. Segundo relatos da pedagoga, as consultas ginecológicas rotineiras sempre apontavam para quadros de inflamação.
Médicos prescreviam antibióticos que proporcionavam alívio momentâneo, mas os sintomas invariavelmente retornavam. Com o tempo, a recorrência das dores se tornou parte de sua rotina, até que em março deste ano o incômodo se intensificou a ponto de comprometer suas atividades cotidianas.
Investigação particular leva à descoberta chocante
A gravidade dos sintomas levou Francy a buscar ajuda na Unidade Básica de Saúde da Família (UBSF), onde inicialmente suspeitaram de uma nova gestação. Contudo, ela prontamente descartou essa hipótese, afirmando que utilizava anticoncepcionais e que seu marido havia feito vasectomia.
Desconfiada dos diagnósticos anteriores, Francy resolveu procurar um exame por conta própria: uma colposcopia. O resultado foi alarmante — as imagens revelaram a presença de um corpo estranho, identificado posteriormente como um pedaço de gaze cirúrgica.
Internação e procedimento de retirada
Na segunda-feira, 7 de abril, Francy deu entrada no Hospital Regional, onde permanece internada desde então. No dia seguinte, passou por um procedimento cirúrgico para remoção do material. Agora, está em observação, enquanto realiza exames para averiguar a existência de infecções ou outras complicações decorrentes da permanência da gaze por tanto tempo em seu corpo.
Procurada para comentar o caso, a Maternidade Cândido Mariano informou que não havia recebido nenhuma notificação formal da paciente até então. No entanto, garantiu que o caso será investigado internamente e encaminhado à Comissão de Ética para os devidos esclarecimentos. A instituição afirmou que irá adotar as medidas cabíveis, caso se confirme falha na conduta médica.
Reflexo de uma falha sistêmica?
O episódio de Francy Hellen reacende o debate sobre a segurança em procedimentos hospitalares e os riscos associados à negligência médica. Casos como esse, embora raros, evidenciam a necessidade de protocolos mais rígidos na contagem e controle de materiais cirúrgicos durante os procedimentos. Para a paciente, resta agora a esperança de recuperação plena — e, quem sabe, justiça pelo erro que comprometeu parte significativa de sua vida. Veja também Andressa Urach é hospitalizada às pressas e compartilha diagnóstico nas redes.