Última atualização: 30/01/2025
Um estudo publicado na renomada revista Communications Biology, do grupo Nature, desvendou um dos segredos por trás da rápida propagação do vírus Zika: a capacidade de alterar a pele humana, tornando-a um “ímã” para mosquitos. Pesquisadores da Liverpool School of Tropical Medicine, no Reino Unido, descobriram que o vírus induz mudanças metabólicas nas células da pele, aumentando a produção de compostos químicos que atraem o Aedes aegypti, vetor responsável também pela transmissão da dengue e da chikungunya. Ver O que é Zika Vírus e quais as suas causas, sintomas, tratamento.
Pele manipulada: do escudo a uma armadilha
Os fibroblastos dérmicos, células essenciais para a estrutura da pele, sofrem alterações na expressão de genes e proteínas quando infectados pelo Zika. Isso resulta na liberação de compostos orgânicos voláteis, substâncias químicas que funcionam como um chamariz para os mosquitos. “O vírus não é transmitido passivamente. Ele manipula ativamente a biologia humana para garantir sua sobrevivência”, explica Noushin Emami, coautor do estudo. Em outras palavras, a pele deixa de ser uma barreira protetora e passa a facilitar a picada do inseto, acelerando o ciclo de transmissão.
Metaproteoma aponta caminho para novas estratégias
A pesquisa utilizou análises de metaproteoma, técnica que avalia interações entre genes e proteínas em larga escala. Os resultados sugerem que bloquear os sinais químicos emitidos pela pele infectada pode ser uma estratégia inovadora para conter epidemias. “Intervenções genéticas ou farmacológicas que interrompam esse processo são urgentes, especialmente com a expansão geográfica do Aedes devido às mudanças climáticas”, destaca Emami.
Zika: riscos e contexto global
Embora a maioria dos casos de Zika apresente sintomas leves, como febre baixa e manchas vermelhas, o vírus é especialmente perigoso para gestantes, podendo causar microcefalia em bebês. A descoberta do mecanismo de atração de mosquitos ajuda a explicar por que surtos se espalham rapidamente em áreas urbanizadas. Além disso, reforça a necessidade de integrar estudos sobre interações vírus-hospedeiro-vetor no combate a arboviroses.
Além do Zika: um desafio para a Saúde Pública
O Aedes aegypti é um vetor versátil, responsável por transmitir múltiplas doenças. Compreender como patógenos como o Zika exploram a biologia humana para se propagar abre portas para soluções transversais. Enquanto isso, medidas tradicionais — como controle de criadouros e uso de repelentes — continuam essenciais. A ciência, porém, avança para desarmar a próxima arma evolutiva dos vírus.