Última atualização: 10/10/2024
O atendimento a vítimas de trauma é uma das áreas mais desafiadoras e críticas do Atendimento Pré-Hospitalar (APH). Traumas resultam de lesões causadas por fatores externos, como acidentes de trânsito, quedas, ferimentos por armas de fogo ou objetos cortantes, entre outros.
Este tópico aborda as técnicas e protocolos avançados necessários para o manejo eficaz de diferentes tipos de traumas, incluindo trauma cranioencefálico, raquimedular, torácico, abdominal e extremidades. A ênfase é dada à avaliação rápida, intervenções imediatas e estabilização adequada para prevenir agravamentos e preparar o paciente para o transporte seguro até o hospital.
Conteúdos Abordados:
- Avaliação Inicial em Situações de Trauma:
- Cenário e Segurança da Cena:
- Avaliação da segurança do local antes do início do atendimento.
- Identificação de possíveis riscos ambientais e medidas de proteção para a equipe de resgate e para a vítima.
- Avaliação Primária em Trauma:
- Utilização do protocolo “XABCDE” adaptado para trauma:
- X – Grandes hemorragias
- A – Airway (Vias Aéreas) com Proteção da Coluna Cervical: Garantia da permeabilidade das vias aéreas com estabilização simultânea da coluna cervical.
- B – Breathing (Respiração): Avaliação da presença e eficácia da respiração, identificação de lesões torácicas ameaçadoras (pneumotórax, hemotórax, tórax instável) e intervenções apropriadas.
- C – Circulation (Circulação): Controle de hemorragias externas graves, avaliação de pulso, perfusão e sinais de choque.
- D – Disability (Déficit Neurológico): Avaliação do estado neurológico utilizando a Escala de Coma de Glasgow (ECG) e verificação de reatividade pupilar.
- E – Exposure (Exposição e Controle Ambiental): Exposição do paciente para inspeção completa de lesões, enquanto se previne hipotermia.
- Avaliação Secundária em Trauma:
- Realização de um exame físico detalhado “da cabeça aos pés” para identificar outras lesões não detectadas na avaliação primária.
- Coleta de informações de anamnese utilizando o método “SAMPLE” (Sinais/Sintomas, Alergias, Medicamentos, Passado Médico, Última Refeição, Eventos Relacionados ao Trauma).
- Manejo de Trauma Cranioencefálico (TCE):
- Identificação e Classificação de TCE:
- Diferença entre traumas leves, moderados e graves com base na Escala de Coma de Glasgow (ECG).
- Identificação de sinais de trauma craniano: Perda de consciência, amnésia, náusea, vômito, pupilas desiguais, fraturas visíveis, saída de sangue ou líquido cerebrospinal pelo nariz ou orelhas.
- Intervenções no TCE:
- Manutenção das vias aéreas abertas com estabilização cervical (uso de colar cervical).
- Controle de pressão intracraniana: Elevação da cabeça do paciente em cerca de 30 graus, quando seguro, para reduzir a pressão intracraniana.
- Monitoramento neurológico contínuo e preparação para transporte urgente.
- Manejo de Trauma Raquimedular:
- Identificação de Lesões na Coluna:
- Reconhecimento de sinais de trauma raquimedular: Dor, deformidades, sensibilidade ao toque, paralisia ou fraqueza, incontinência.
- Precauções universais em casos de trauma significativo ou mecanismo suspeito de lesão raquimedular.
- Imobilização e Transporte:
- Uso correto de colares cervicais, pranchas longas e dispositivos de imobilização de cabeça.
- Técnicas de movimentação segura, como a “manobra em bloco”, para evitar o agravamento de lesões na coluna.
- Manejo de Trauma Torácico:
- Identificação de Lesões Torácicas Ameaçadoras:
- Reconhecimento de condições como pneumotórax hipertensivo, pneumotórax aberto, tórax instável (flail chest), hemotórax e tamponamento cardíaco.
- Intervenções no Trauma Torácico:
- Alívio de pneumotórax hipertensivo com punção torácica (toracocentese).
- Aplicação de curativos oclusivos em feridas abertas do tórax.
- Procedimentos de drenagem de tórax (toracostomia) em ambientes avançados.
- Monitoramento respiratório e suporte ventilatório conforme necessário.
- Manejo de Trauma Abdominal:
- Identificação de Sinais de Trauma Abdominal:
- Sinais de lesões abdominais: Dor abdominal, distensão, hematomas, sinais de “abdômen em tábua”, evisceração.
- Reconhecimento de hemorragia interna (choque hemorrágico, hematomas abdominais).
- Intervenções no Trauma Abdominal:
- Estabilização e suporte hemodinâmico: Administração de oxigênio, fluidos intravenosos e preparação para cirurgia de emergência.
- Cobertura de eviscerações com compressas estéreis úmidas e não tentar reinserir órgãos expostos.
- Monitoramento contínuo dos sinais vitais e transporte rápido para atendimento definitivo.
- Manejo de Fraturas e Lesões de Extremidades:
- Identificação de Fraturas e Luxações:
- Reconhecimento de sinais de fratura: Deformidade, dor, inchaço, incapacidade de movimentação e crepitação.
- Identificação de lesões de tecidos moles associadas a fraturas expostas.
- Imobilização de Fraturas:
- Uso de talas rígidas, talas pneumáticas, ou talas improvisadas para imobilização de membros.
- Cuidados com fraturas expostas: Controle de hemorragia, cobertura estéril e estabilização.
- Técnicas de tração para fraturas de fêmur.
- Controle da Dor e Administração de Analgésicos:
- Uso de Analgésicos no APH:
- Administração de medicamentos analgésicos e sedativos (como morfina, fentanil, ketamina) para controle da dor severa em vítimas de trauma.
- Cuidados com doses, monitoramento de efeitos adversos e avaliação contínua da dor.
- Procedimentos de Estabilização e Preparo para Transporte:
- Preparo para Transporte de Vítimas de Trauma:
- Estabilização adequada da vítima antes do transporte, garantindo vias aéreas, ventilação, circulação e controle de dor.
- Coordenação com o hospital receptor e comunicação de detalhes sobre as condições do paciente e intervenções realizadas.
- Monitoramento contínuo durante o transporte e prontidão para intervenções adicionais.
Benefícios Esperados com o Tópico:
Ao final deste tópico, os participantes deverão ser capazes de:
- Realizar uma avaliação primária e secundária eficaz em vítimas de trauma, identificando rapidamente lesões que ameaçam a vida.
- Executar intervenções específicas para diferentes tipos de trauma, como trauma cranioencefálico, raquimedular, torácico, abdominal e de extremidades.
- Utilizar técnicas de imobilização e estabilização apropriadas para proteger lesões e preparar o paciente para transporte seguro.
- Administrar analgésicos e sedativos de maneira segura e eficaz para o manejo da dor em vítimas de trauma.
- Comunicar-se de forma eficaz com a equipe de suporte avançado e o hospital receptor para garantir a continuidade do cuidado e otimizar o desfecho para o paciente.
Este tópico é essencial para capacitar os profissionais a lidarem com uma variedade de situações de trauma de forma eficiente e segura, aumentando significativamente as chances de sobrevivência e recuperação das vítimas.