Exame físico em pacientes críticos: Abordagem sistemática e monitoramento contínuo

Última atualização: 30/12/2024

O exame físico em pacientes críticos é uma prática essencial para identificar alterações agudas no estado de saúde e orientar intervenções imediatas. Em unidades de terapia intensiva (UTI) ou emergências, esses pacientes apresentam instabilidade hemodinâmica, respiratória ou metabólica que requer atenção constante. O exame físico deve ser sistemático, abrangente e realizado em conjunto com o monitoramento de parâmetros vitais e dispositivos invasivos. Descubra porque o exame físico é tão especial.


Objetivos do exame físico em pacientes críticos

  1. Identificar alterações fisiológicas que indiquem deterioração clínica.
  2. Monitorar a eficácia de terapias e intervenções em tempo real.
  3. Detectar sinais precoces de complicações, como infecções ou falência de órgãos.
  4. Garantir o suporte necessário à manutenção da vida.

Abordagem no exame físico de pacientes críticos

  1. Organização e sistematização:
    • Realize o exame de forma estruturada, dividindo por sistemas (cardiovascular, respiratório, neurológico, etc.).
    • Integre os achados do exame físico com dados dos dispositivos de monitoramento (monitores, ventiladores, drenos).
  2. Abordagem humanizada:
    • Explique as etapas ao paciente, mesmo que inconsciente, e respeite sua dignidade e privacidade.
  3. Segurança durante o exame:
    • Certifique-se de não interromper dispositivos essenciais (ventiladores, bombas de infusão).

Componentes do exame físico em pacientes críticos

  1. Avaliação geral:
    • Estado geral: Observe a coloração da pele, movimentos respiratórios e nível de consciência.
    • Postura e posicionamento: Verifique se o paciente está bem alinhado para evitar lesões por pressão ou dificuldades respiratórias.
  2. Sinais vitais:
    • Pressão arterial: Incluindo valores invasivos (MAP – pressão arterial média).
    • Frequência cardíaca: Monitore arritmias ou taquicardia persistente.
    • Frequência respiratória: Avalie padrões ventilatórios, especialmente em pacientes entubados.
    • Temperatura: Identifique febre ou hipotermia.
  3. Sistema respiratório:
    • Ausculta pulmonar: Identifique sons adventícios, como crepitações, roncos ou sibilos.
    • Expansibilidade torácica: Verifique simetria e presença de retrações.
    • Monitoramento: Compare os achados com a saturação de oxigênio (SpO₂) e valores de gasometria arterial (PaO₂, PaCO₂).
  4. Sistema cardiovascular:
    • Ausculta cardíaca: Identifique sopros ou alterações na frequência e ritmo.
    • Perfusão periférica: Avalie preenchimento capilar, temperatura e presença de cianose ou palidez.
    • Monitoramento invasivo: Considere parâmetros como débito cardíaco e pressão venosa central (PVC).
  5. Sistema neurológico:
    • Nível de consciência: Utilize escalas como a Escala de Coma de Glasgow (ECG).
    • Reflexos neurológicos: Avalie resposta à dor, reflexo fotomotor e reflexos primitivos, se necessário.
    • Monitoramento intracraniano: Para pacientes com TCE ou hipertensão intracraniana.
  6. Sistema gastrointestinal:
    • Distensão abdominal: Palpe para identificar acúmulo de gases ou líquidos.
    • Função intestinal: Avalie presença de ruídos hidroaéreos e eliminação de fezes ou gases.
    • Sondas: Inspecione sondas enterais ou nasogástricas para verificar permeabilidade e posicionamento.
  7. Sistema geniturinário:
    • Diurese: Monitore o débito urinário em ml/hora; redução pode indicar choque ou insuficiência renal.
    • Cateter urinário: Verifique sinais de obstrução ou infecção.
  8. Pele e sistema tegumentar:
    • Lesões por pressão: Inspecione áreas de apoio (sacro, calcanhares, cotovelos).
    • Integridade de acessos venosos e drenos: Identifique sinais de infecção ou mau posicionamento.

Exemplo prático de exame físico em pacientes críticos

Imagine um paciente crítico com histórico de insuficiência respiratória e infecção generalizada (sepse):

  • Achados respiratórios: Ausculta com crepitações bilaterais, SpO₂ de 90% com FiO₂ de 50%.
  • Cardiovascular: Pressão arterial média (MAP) de 60 mmHg, com taquicardia de 120 bpm.
  • Abdome: Leve distensão, ruídos hidroaéreos diminuídos.
  • Diurese: 15 ml/h, indicando hipoperfusão renal.

Interpretação: Sinais de hipoxemia e hipoperfusão associados à sepse, exigindo ajustes no suporte ventilatório e expansão volêmica.


Cuidados durante o exame físico
  1. Priorização de sistemas: Em pacientes instáveis, inicie pelos sistemas mais críticos (respiratório e cardiovascular).
  2. Documentação contínua: Registre alterações a cada exame, permitindo comparar a evolução do paciente.
  3. Higiene e prevenção de infecções: Siga rigorosamente as medidas de assepsia ao manipular dispositivos invasivos.

Prevenção de complicações em pacientes críticos
  1. Ventilação mecânica: Monitore parâmetros do ventilador e reduza o risco de pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV).
  2. Lesões por pressão: Realize mudanças de decúbito regulares e use superfícies de apoio adequadas.
  3. Trombose venosa profunda: Utilize dispositivos de compressão ou anticoagulação conforme prescrição médica.
  4. Infecções relacionadas a dispositivos: Inspecione cateteres, drenos e sondas regularmente.

O exame físico em pacientes críticos é um componente essencial do cuidado intensivo, permitindo identificar alterações rapidamente e implementar intervenções imediatas. Realizado de forma sistemática e integrada ao monitoramento contínuo, ele garante um cuidado eficaz e seguro. A abordagem humanizada e o foco na prevenção de complicações são indispensáveis para preservar a qualidade de vida desses pacientes.

Ver também: A Consulta de Enfermagem

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