Exame físico em pacientes em cuidados paliativos: Abordagem integral e humanizada

Última atualização: 30/12/2024

O exame físico em pacientes em cuidados paliativos vai além da identificação de alterações clínicas, focando em um cuidado integral e humanizado que prioriza o alívio de sintomas e a qualidade de vida. Esses pacientes frequentemente convivem com doenças crônicas ou terminais, que exigem uma avaliação sensível e adaptada às suas necessidades físicas, emocionais e espirituais. O objetivo é identificar sinais de desconforto e promover intervenções que melhorem o bem-estar. Conheça também a Relação dos Cuidados Paliativos com a Humanização na Enfermagem.


Objetivos do exame físico em cuidados paliativos

  1. Avaliar e monitorar sintomas relacionados à doença ou tratamento.
  2. Identificar sinais de desconforto, como dor, dispneia ou agitação.
  3. Orientar intervenções que promovam conforto e alívio de sintomas.
  4. Preservar a dignidade do paciente durante o processo de avaliação.

Princípios da abordagem em cuidados paliativos

  1. Humanização e empatia:
    • O exame deve ser realizado de forma gentil, respeitando os limites físicos e emocionais do paciente.
    • Explique cada etapa do procedimento, mesmo para pacientes inconscientes.
  2. Foco no alívio de sintomas:
    • Avalie aspectos relacionados ao conforto do paciente, como controle da dor, posicionamento e hidratação.
  3. Individualização do cuidado:
    • Adapte o exame às necessidades e ao estágio da doença, evitando procedimentos invasivos desnecessários.

Componentes do exame físico em pacientes em cuidados paliativos

  1. Avaliação geral:
    • Estado geral: Observe a expressão facial, posição corporal e sinais de desconforto ou agitação.
    • Nível de consciência: Utilize escalas simples, como Glasgow, para monitorar alterações.
  2. Sistema tegumentar:
    • Pele: Inspecione em busca de úlceras por pressão, eritema, edema ou desidratação.
    • Integridade: Identifique áreas de risco e implemente medidas preventivas, como mudanças de decúbito.
  3. Sistema respiratório:
    • Frequência respiratória: Avalie padrão e ritmo respiratório, especialmente em pacientes com dispneia.
    • Ausculta pulmonar: Identifique sons adventícios, como crepitações ou roncos, que podem indicar secreções acumuladas.
    • Sinais de desconforto: Observe retrações ou uso de musculatura acessória.
  4. Sistema cardiovascular:
    • Perfusão periférica: Verifique preenchimento capilar, pulsos periféricos e coloração da pele.
    • Edema: Identifique sinais de retenção de líquidos, comuns em pacientes com insuficiência cardíaca ou hepática.
  5. Sistema gastrointestinal:
    • Abdome: Palpe suavemente, observando sinais de distensão, dor ou náuseas.
    • Eliminação intestinal: Pergunte sobre constipação ou diarreia, comuns devido ao uso de opioides ou alterações metabólicas.
  6. Sistema geniturinário:
    • Eliminação urinária: Avalie débito urinário e sinais de retenção ou incontinência.
    • Cateter urinário: Inspecione a permeabilidade e sinais de infecção, se presente.
  7. Controle da dor:
    • Utilize escalas de dor adaptadas ao estado do paciente (ex.: Escala Visual Analógica, Escala de Faces ou avaliação comportamental em pacientes não verbalizantes).
  8. Sistema neurológico:
    • Estado mental: Identifique sinais de confusão, agitação ou sedação excessiva.
    • Sensibilidade e reflexos: Avalie apenas se relevante para o manejo do paciente.

Exemplo prático de exame físico em paciente em cuidados paliativos

Imagine um paciente com câncer avançado, relatando dor abdominal e fraqueza:

  • Achados no exame físico:
    • Abdome distendido, sensível à palpação no quadrante inferior direito.
    • Pele seca, com sinais de desidratação.
    • Frequência respiratória de 24 irpm, com crepitações bilaterais.

Interpretação: Sinais indicativos de desconforto abdominal (possivelmente constipação ou obstrução intestinal) e congestão respiratória, necessitando de manejo sintomático imediato.


Cuidados especiais no exame físico

  1. Respeito à dignidade:
    • Evite manipulações desnecessárias ou invasivas, priorizando o conforto.
  2. Documentação precisa:
    • Registre alterações significativas e intervenções realizadas, com foco em medidas de alívio de sintomas.
  3. Trabalho interdisciplinar:
    • Compartilhe achados com a equipe de cuidados paliativos para um manejo integrado.

Prevenção de desconfortos comuns em pacientes em cuidados paliativos
  1. Dor:
    • Realize avaliações regulares e ajuste terapias analgésicas conforme necessário.
  2. Dispneia:
    • Posicione o paciente de forma confortável, ofereça oxigenoterapia se indicada e use medidas farmacológicas para alívio respiratório.
  3. Úlceras por pressão:
    • Implemente mudanças de decúbito frequentes e use superfícies de apoio adequadas.
  4. Constipação:
    • Monitore a eliminação intestinal e ajuste laxantes conforme necessário.
  5. Ansiedade e agitação:
    • Ofereça suporte emocional, ambiente tranquilo e, se necessário, intervenções farmacológicas.

O exame físico em pacientes em cuidados paliativos exige uma abordagem integral, humanizada e focada no alívio de sintomas. Adaptado às necessidades individuais, ele desempenha um papel crucial na promoção do conforto e qualidade de vida desses pacientes. O enfermeiro é um elemento chave nesse processo, garantindo um cuidado respeitoso e eficaz em todas as etapas da doença.

Ler tambem: A Enfermagem frente aos Cuidados Paliativos

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