Inspeção e palpação de edema periférico: o que o enfermeiro deve observar?

Última atualização: 27/12/2024

O edema periférico é um sinal clínico frequente observado na prática de enfermagem, caracterizado pelo acúmulo anormal de líquidos nos tecidos, geralmente nas extremidades, como pés, tornozelos e pernas. Identificar e avaliar corretamente o edema é essencial para entender a sua origem e monitorar a condição do paciente. A inspeção e a palpação são técnicas fundamentais nesse processo, fornecendo dados importantes para o diagnóstico de enfermagem e o planejamento das intervenções.


O que é edema periférico?

O edema periférico ocorre quando há um desequilíbrio entre a pressão hidrostática e oncótica nos vasos sanguíneos, resultando no extravasamento de líquidos para o espaço intersticial. Esse desequilíbrio pode ter diversas causas, como:

  • Insuficiência cardíaca congestiva: Retenção de líquidos devido ao comprometimento da função cardíaca.
  • Doenças renais: Alterações na filtração e excreção de líquidos.
  • Problemas hepáticos: Diminuição da produção de proteínas, como a albumina, que regula a pressão oncótica.
  • Condições vasculares: Insuficiência venosa crônica ou trombose venosa profunda.
  • Fatores externos: Gravidez, sedentarismo prolongado, uso de certos medicamentos ou pós-operatório.

Técnicas de inspeção do edema periférico

A inspeção é o primeiro passo na avaliação do edema. Durante essa etapa, o enfermeiro deve observar cuidadosamente as características das áreas afetadas.

  1. O que observar na inspeção:
    • Localização: Identificar onde o edema está presente (uni ou bilateral).
    • Simetria: Avaliar se há diferenças entre os membros afetados.
    • Alterações na pele: Cor, brilho, presença de lesões ou sinais de infecção.
    • Presença de deformidades: O edema pode causar distorções na anatomia normal da região.
    • Alterações na movimentação: Edemas graves podem limitar a mobilidade das articulações.
  2. Dicas práticas durante a inspeção:
    • Posicione o paciente em um ambiente bem iluminado.
    • Certifique-se de que as áreas a serem avaliadas estejam expostas, respeitando a privacidade do paciente.
    • Compare ambos os membros para identificar assimetrias.

Técnicas de palpação do edema periférico

A palpação é a etapa seguinte e complementa a inspeção ao oferecer dados sobre a consistência e a gravidade do edema.

  1. Como realizar a palpação:
    • Pressão digital: Pressione suavemente com o dedo indicador ou polegar sobre a área edemaciada por cerca de 5 segundos.
    • Observe se há formação de uma depressão (chamada de “sinal de Godet”) e por quanto tempo ela permanece após a retirada do dedo.
  2. Classificação do edema com base no sinal de Godet:
    • Grau 1+: Depressão leve (< 2 mm), desaparece rapidamente.
    • Grau 2+: Depressão moderada (2-4 mm), desaparece em 10-15 segundos.
    • Grau 3+: Depressão profunda (4-6 mm), desaparece em até 1 minuto.
    • Grau 4+: Depressão muito profunda (> 6 mm), pode persistir por mais de 2 minutos.
  3. Consistência e temperatura:
    • Avalie a consistência do edema (mole, endurecido ou fibrosado).
    • Verifique a temperatura da pele, pois áreas frias podem indicar má perfusão, enquanto áreas quentes podem sugerir inflamação ou infecção.

Interpretação clínica do edema periférico

O tipo, localização e gravidade do edema podem indicar diferentes condições clínicas:

  • Edema bilateral: Geralmente associado a condições sistêmicas, como insuficiência cardíaca, doenças renais ou hepáticas.
  • Edema unilateral: Pode sugerir trombose venosa profunda, infecção ou trauma localizado.
  • Edema generalizado (anasarca): Indica distúrbios graves, como insuficiência hepática avançada ou síndrome nefrótica.
  • Edema localizado: Comum em reações alérgicas ou processos inflamatórios.

Cuidados durante a avaliação do edema

  1. Abordagem humanizada: Explique o procedimento ao paciente, assegurando seu conforto e colaborando para uma avaliação mais tranquila.
  2. Registro adequado: Documente a localização, gravidade e quaisquer características associadas ao edema para facilitar o monitoramento.
  3. Acompanhamento: Monitore o progresso do edema ao longo do tempo, especialmente após intervenções terapêuticas.

Exemplo prático de avaliação de edema

Imagine um paciente com queixa de inchaço em ambas as pernas:

  • Inspeção: Observa-se edema bilateral, com pele brilhante e avermelhada, mais pronunciado nos tornozelos.
  • Palpação: Pressão na região malolar resulta em depressão de 4 mm que desaparece em 15 segundos (Grau 2+).
  • Interpretação: Pode indicar insuficiência venosa crônica. Recomenda-se elevação dos membros inferiores e uso de meias de compressão, além de avaliação médica para diagnóstico definitivo.

A inspeção e a palpação são técnicas indispensáveis para a identificação e avaliação do edema periférico. Quando realizadas de forma adequada, essas etapas permitem ao enfermeiro reconhecer alterações precocemente, monitorar a evolução do quadro e implementar intervenções seguras e eficazes. O domínio dessas técnicas é fundamental para oferecer um cuidado de qualidade e prevenir complicações associadas ao edema. Principais etapas do exame físico: inspeção, palpação, percussão e ausculta

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