Sobrecargas das Câmaras Cardíacas

Sobrecarga das Câmaras Cardíacas

A sobrecarga das câmaras cardíacas referem-se a um acúmulo anormal de sangue em uma ou mais das quatro câmaras do coração.

Existem duas principais formas de sobrecarga das câmaras cardíacas:

  1. Sobrecarga de volume: ocorre quando há um aumento no volume de sangue que flui para uma câmara cardíaca. Isso pode acontecer devido a várias condições, como insuficiência cardíaca, defeitos congênitos, doenças valvulares e outras doenças cardíacas.
  2. Sobrecarga de pressão: ocorre quando há um aumento na pressão dentro de uma ou mais das câmaras do coração. Isso pode acontecer devido a condições como hipertensão arterial, estreitamento das válvulas cardíacas ou doença arterial coronariana.

A sobrecarga das câmaras cardíacas pode levar a uma variedade de problemas cardíacos, incluindo insuficiência cardíaca, arritmias, enfraquecimento do músculo cardíaco e outras complicações. O tratamento depende da causa subjacente da sobrecarga e pode incluir medicamentos, procedimentos médicos e cirurgia.

A seguir, vamos descrever de forma mais detalhada sobre a Sobrecarga das Câmaras Cardíacas, segundo a última Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), publicada em 2022 referente ao Eletrocardiograma (ECG).

Sobrecarga Atriais

Sobrecarga Atrial Esquerda (SAE)

Aumento da duração da onda P igual ou superior a 120 ms, na derivação D2, com intervalo entre os componentes atriais direito e esquerdo maior ou igual a 40 ms. Onda P com componente negativo aumentado (final lento e profundo) na derivação V1. A área da fase negativa de pelo menos 0,04 mm/s, ou igual ou superior a 1 mm2 , constitui o Índice de Morris, que apresenta melhor sensibilidade que o critério isolado de duração aumentada.

Sobrecarga Atrial Direita (SAD)

A onda P apresenta-se apiculada com amplitude acima de 0,25 mV ou 2,5 mm. Na derivação V1 apresenta porção inicial positiva > 0,15 mV ou 1,5 mm. São sinais acessórios e indiretos de SAD: Peñaloza-Tranchesi (complexo QRS de baixa voltagem em V1 e que aumenta de amplitude significativamente em V2) e Sodi-Pallares (complexos QR, Qr, qR ou qRS em V1). Raramente isolada, frequentemente é associada à SVD.

Sobrecarga Biatrial (SBA)

Associação dos critérios SAE e SAD

Sobrecarga Ventricular Esquerda (SVE)

Apesar do ecocardiograma apresentar elevada acurácia na identificação da SVE, o ECG, quando alterado, tem
importante significado prognóstico. Dentre os critérios existentes, temos:

Critérios de Romhilt-Estes

Por este critério existe SVE quando se atinge 5 pontos ou mais no escore que se segue. Dentre as limitações para a utilização deste escore temos a presença de bloqueio de ramo esquerdo e/ou fibrilação atrial, taquicardia atrial, flutter atrial e bloqueio de ramo direito.
a) Critérios de 3 pontos – aumento de amplitude do QRS (maior ou igual a 20 mm no plano frontal e/ou maior ou igual a 30 mm no plano horizontal); padrão de strain na ausência de ação digitálica; e índice de Morris;
b) Critério de 2 pontos – desvio do eixo elétrico do QRS além de -30º;
c) Critérios de 1 ponto – aumento do tempo de ativação ventricular (TAV) ou deflexão intrinsecoide além de 40
ms; aumento da duração do QRS (>90 ms) em V5 e V6; e padrão “strain” sob ação do digital.

Índice de Sokolow Lyon

É considerado positivo quando a soma da amplitude da onda S na derivação V1 com a amplitude da onda R da
derivação V5/V6 for >35 mm. Nos jovens, este limite pode ser de 40 mm. Não deve ser utilizado em atletas.

Índice de Cornell

Quando a soma da amplitude da onda R na derivação aVL, com a amplitude da onda S de V3 for >28 mm em homens e 20 mm em mulheres.

Peguero-Lo Presti

Este critério é considerado positivo quando a soma da amplitude da maior onda S das 12 derivações com a onda S de V4 é ≥ 28 mm em homens e ≥ 23 mm em mulheres.

Alterações de Repolarização Ventricular

Onda T achatada nas derivações esquerdas (D1, aVL, V5 e V6) ou padrão tipo strain (infradesnivelamento do ST ≥ 0,5 mm e onda T negativa e assimétrica).

Sobrecarga Ventricular Direita (SVD)

Eixo do QRS

Eixo elétrico de QRS no plano frontal, localizado à direita de +110º no adulto.

Onda R Ampla

Presença de onda R de alta voltagem em V1 e V2 e ondas S profundas nas derivações opostas (V5 e V6).

Morfologia qR ou qRs

A morfologia qR ou qRs em V1 (ou V1 e V2) é um dos sinais mais específicos de SVD e apontam sobrecarga
ventricular direita sistólica com aumento da pressão intraventricular.

Morfologia rsR’

Padrão trifásico (rsR’), com onda R‘ proeminente nas precordiais direitas V1 e V2 e sugere sobrecarga ventricular diastólica com aumento do volume da câmara.

Repolarização Ventricular

Padrão strain de repolarização nas precordiais direitas (V1, V2 e, às vezes, V3) (infradesnivelamento do segmento ST acompanhado da onda T negativa).

Critério de SEATTLE para SVD

Soma de R de V1 + S V5-V6 >10,5 mm (e desvio de eixo à direita >120°).

Sobrecarga Biventricular

a) Eixo elétrico de QRS no plano frontal desviado para a direita, associado a critérios de voltagem para SVE;
b) ECG típico de SVD, associado a um ou mais dos seguintes elementos:
b.1) Ondas Q profundas em V5 e V6 e nas derivações inferiores;
b.2) R de voltagem aumentada em V5 e V6;
b.3) S de V1 e V2 + R de V5 e V6 com critério positivo de Sokolow;
b.4) Deflexão intrinsecoide em V6 igual ou maior que 40 ms;
c) Complexos QRS isodifásicos amplos, de tipo R/S > 50 mm, nas precordiais intermediárias de V2 a V4 (fenômeno de Katz-Wachtel).

Diagnóstico Diferencial do Aumento de Amplitude do QRS

A sobrecarga ventricular é a situação onde mais comumente ocorre o aumento da amplitude do QRS. No entanto, o QRS pode estar aumentado em indivíduos normais nas seguintes situações:
a) Crianças, adolescentes e adultos jovens;
b) Longilíneos;
c) Atletas;
d) Mulheres mastectomizadas;
e) Vagotonia.

Referência: 

Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre a Análise e Emissão de Laudos Eletrocardiográficos — 2022. Brazilian Society of Cardiology Guidelines on the Analysis and Issuance of Electrocardiographic Reports — 2022 (Baixar Diretriz da SBC 2022)

  1. Normatização para Análise e Emissão do Laudo Eletrocardiográfico
  2. Avaliação da Qualidade Técnica do Traçado
  3. A Análise do Ritmo Cardíaco
  4. Condução Atrioventricular
  5. Análise da Ativação Ventricular
  6. Sobrecarga das Câmaras Cardíacas
  7. Análise dos Bloqueios (Retardo, Atraso de Condução) Intraventriculares
  8. Análise do ECG nas Coronariopatias
  9. Análise da Repolarização Ventricular
  10. O ECG nas Canalopatias e Demais Alterações Genéticas
  11. Caracterização das Alterações Eletrocardiográficas em Situações Clínicas Específicas
  12. O ECG em Atletas
  13. O ECG em Crianças
  14. O ECG durante Estimulação Cardíaca Artificial
  15. Tele-eletrocardiografia

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