O Cuidado de Enfermagem

Última atualização: 01/01/2025

O cuidar em enfermagem é, antes de tudo, um ato de humanização. Ele exige do profissional não apenas competência técnica, mas também sensibilidade, ética e disposição para acolher o outro em sua totalidade. Embora o modelo biomédico e a tecnificação sejam aspectos presentes no cotidiano da enfermagem, é possível resgatar a essência do cuidado por meio de práticas que valorizem o ser humano em sua complexidade.

A enfermagem, enquanto ciência e arte, tem o potencial de transformar vidas e contribuir para um sistema de saúde mais inclusivo, ético e centrado nas pessoas. Esse é o verdadeiro sentido do cuidar: estar presente, ouvir, compreender e, acima de tudo, humanizar. Ver Qual a diferença entre acolhimento e triagem?.

A Essência do Cuidar

O cuidar em enfermagem transcende a aplicação técnica e científica, alcançando a dimensão humana e existencial. Envolve, antes de tudo, o reconhecimento do outro como um ser único, dotado de histórias, sentimentos e necessidades específicas. Cuidar é estar com o outro, compartilhar tempo e espaço, e estabelecer uma relação de proximidade que vá além da mera execução de procedimentos.

Para cuidar, é essencial que o enfermeiro desperte a humanidade no outro, compreendendo que o paciente não é apenas portador de uma doença, mas um ser integral, vulnerável e repleto de subjetividades. Como destacam Graças e Santos (2009), é pelo cuidado que a enfermagem manifesta sua identidade, sustentada por conhecimentos, habilidades e atitudes, e é através dele que a profissão se projeta como ciência e arte.


O Desenvolvimento Histórico do Cuidado

No século XX, a enfermagem começou a romper com o modelo estritamente técnico, que focava exclusivamente nos aspectos biomédicos do cuidado. Esse movimento trouxe uma compreensão mais ampla do ser humano, permitindo que a prática de enfermagem se voltasse para o sujeito em sua totalidade, considerando suas dimensões física, emocional, social e espiritual (CRIVARO; ALMEIDA; SOUZA, 2007).

A apropriação da fenomenologia como suporte teórico-metodológico foi um marco nessa transição. Essa abordagem possibilitou a imersão na subjetividade dos pacientes, permitindo que os profissionais compreendessem a essência de seu sofrimento e vivência (TERRA et al., 2006).


O Paradoxo do Modelo Biomédico

Apesar dos avanços na humanização do cuidado, o modelo biomédico ainda exerce uma forte influência na prática da enfermagem. Esse paradigma, baseado no positivismo, prioriza o conhecimento técnico-científico e muitas vezes fragmenta o cuidado, reduzindo o paciente a um conjunto de sinais e sintomas (CARVALHO; VALLE, 2008).

A fragmentação do cuidado, acompanhada pela massificação das rotinas e normas hospitalares, contribui para a desumanização do paciente, que frequentemente é tratado mais como um portador de doenças do que como um ser humano integral. A tecnologia, embora essencial para prolongar vidas e melhorar tratamentos, também pode afastar os profissionais da essência do cuidado, colocando a doença acima da pessoa (BOEMER, 2011).


A Arte do Cuidar: Superando o Tecnocentrismo

Embora o cuidado técnico seja indispensável, ele não pode ser desvinculado dos aspectos afetivos e existenciais do paciente. Boemer (2011) ressalta que a técnica deve ser usada como ferramenta para fortalecer a relação entre enfermeiro e paciente, e não para transformá-lo em um objeto de intervenção.

Cuidar é um ato que exige empatia, escuta ativa e compreensão profunda. O enfermeiro deve captar o mundo do paciente, suas relações significativas e sua vivência da doença. Perguntas como “como você se sente?” e “como podemos ajudar você a superar essa experiência?” são fundamentais para construir uma relação genuína e intersubjetiva.


O Papel do Enfermeiro no Cuidado Humanizado

O enfermeiro é, por excelência, o profissional que articula o conhecimento técnico com a sensibilidade humana. Em seu cotidiano, ele é desafiado a equilibrar a execução de procedimentos com a atenção às necessidades emocionais e sociais dos pacientes.

Ações fundamentais para o cuidado humanizado

  1. Estabelecer uma relação de confiança: O enfermeiro deve criar um ambiente acolhedor, onde o paciente se sinta seguro para expressar suas angústias e expectativas.
  2. Respeitar a singularidade do paciente: Cada indivíduo tem uma história única. O cuidado deve ser adaptado às suas necessidades específicas.
  3. Priorizar a comunicação: Um diálogo claro e honesto é essencial para entender o paciente e envolver sua família no processo de cuidado.
  4. Acolher a subjetividade: O enfermeiro deve ir além dos dados clínicos e buscar compreender como o paciente percebe e vivencia sua condição de saúde.

O Desafio da Enfermagem Contemporânea

A enfermagem enfrenta o desafio de equilibrar os avanços tecnológicos com a humanização do cuidado. A busca por essa harmonia exige que os profissionais questionem continuamente suas práticas e valores, como enfatiza Holanda (2011): “o desafio de cuidar do humano reside na intrínseca necessidade de se questionar – continuamente – o seu ‘fazer’, naquilo que o coloca como produto e produtor de dimensões ideológicas que alienam o homem de seu ser-próprio”.

Boemer (2011) reforça que, apesar das limitações impostas pelo modelo técnico-científico, cada enfermeiro tem a oportunidade de construir encontros genuínos, marcados pela intersubjetividade e pela simplicidade. Isso significa abrir espaço para o diálogo e reconhecer o paciente não apenas como objeto de cuidado, mas como sujeito ativo em sua recuperação.


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