A evolução da enfermagem obstetrícia e da humanização do parto

Atualizado em 16/01/2022 às 09:21

A história da enfermagem obstétrica tem mudado nos últimos anos. Esta vem sendo reconhecida pela sua atuação e pelo aprimoramento dos seus conhecimentos. 

Desde o final dos anos 80, os enfermeiros vêm conquistando seu espaço na assistência ao parto, resultado disso, foi à inserção na graduação de enfermagem, no Brasil, em 1922, como componente curricular e em 94, como pós–graduação.

Atualmente a especialização em obstetrícia só é permitida para médicos e enfermeiros.

Ainda são poucos os enfermeiros obstétricos que atuam realizando parto. Essa realidade vem tentando ser modificada pelo Ministério da Saúde (MS), inclusive com apoio financeiro na formação destes profissionais.

Apesar dos investimentos e incentivos existentes, ainda possuem muitos profissionais que não se qualificaram para a realização desses partos, aprendendo de modo informal com a observação e acompanhamento de outros.

No ano de 1986, foi implementada a Lei nº 7.498/86, que consolida a profissão do enfermeiro obstétrico e suas competências na assistência a parturiente, dentre elas, assistir ao parto e a parturiente, observar a intercorrência e aplicar anestesia local, se necessário.

Na década de 90, surgiram várias políticas a fim de regulamentar e incentivar as práticas humanizadas na assistência e a inserção da enfermagem no campo obstétrico. A exemplo das Portarias 2815 e 163 publicadas pelo MS que permitem a assistência ao parto de baixo risco pelos enfermeiros obstétricos e cria o modelo de Laudo de Enfermagem para Emissão de Autorização de Internação Hospitalar – AIH. A resolução MS/COFEN- 223/99 que estabelece normas sobre a atuação dos enfermeiros na assistência a mulher no ciclo gravídico puerperal, tornando-a mais emancipada.

Existe ainda a Portaria nº 116 que regulamenta a emissão de Declaração de Nascimento feita por enfermeiros, indicando a valorização e reconhecimento dos partos realizados pelos mesmos, deixando de ser atividade exclusiva dos médicos.

Em 1999, o MS publicou a portaria 985 que criou as Casas de Parto Normal (CPN), representando uma simbolização de mudança. Essas casas visam atendimento humanizado as gestantes de baixo risco, tendo a enfermeiro obstétrico qualificado para reanimação neonatal, como responsável pela unidade. Existem dados que comprovam os benefícios da casa de parto, porém os enfermeiros ainda encontram dificuldades para serem aceitos pelos outros profissionais da saúde, por não acreditarem
na capacidade deles em promover uma atenção integral as pacientes.

O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN), de 01/06/2000 visa, dentre outras coisas, ampliar o financiamento de cursos de especialização em enfermagem obstetrícia.

Além dos objetivos citados, o PHPN ambiciona reduzir as altas taxas de morbimortalidade materna e perinatal e ampliar o acesso ao pré-natal. Com o objetivo de possibilitar um atendimento qualificado, fundamentado nos princípios da humanização à assistência, foi criado em 2010, pelo MS, a Portaria nº 4.279/GM/MS, a Rede Cegonha.
Esta deve ser implementada aos poucos, em todo país, respeitando suas peculiaridades epidemiológicas, apoiada em cinco diretrizes: Garantia do acolhimento com classificação de risco; Garantia de vinculação da gestante à unidade de referência e ao transporte seguro; Garantia de boas práticas e segurança na atenção ao parto e nascimento; Garantia da atenção a saúde das crianças de 0 a 24 meses com qualidade e resolutividade e garantia de direitos sexuais e reprodutivos.

No intuito de contribuir na área da obstetrícia, principalmente no que diz respeito à humanização da assistência, as Portarias preconizadas pelo MS, assim como os avanços da tecnologia, propuseram mudanças significativas, fazendo com que houvessem maiores estímulos e autonomia na área da enfermagem.

Atuação e contribuição dos enfermeiros na humanização do parto

Ele deve ser um profissional sem preconceitos e garantir a prestação de um serviço livre de qualquer dano e utilização mínima de intervenções em suas práticas.
O cuidado sempre esteve presente nas atribuições da enfermagem e deve ser exercido de maneira integral, com uma visão humanística, expandindo a compreensão do homem.

Nesse sentido, a enfermagem atua proporcionando à mulher, durante o parto, maior segurança e conforto, sempre com uma escuta ativa e atenciosa. A criação de vínculo com a paciente é primordial para perceber as suas necessidades e, então, saber quais as ações a serem realizadas.

É grande a importância dos enfermeiros na redução da ansiedade das gestantes e parturientes, proporcionando-lhes mais coragem, conforto e segurança.

O papel da enfermagem frente a um acompanhamento humanizado durante o parto exige um profissional sem preconceitos, a prestação de serviço livre de qualquer dano e a utilização mínima de intervenções em suas práticas. O respeito, a solidariedade, o apoio, a orientação e o incentivo são fatores que demonstram o cuidado e a importância da assistência humanizada desse profissional.

“O papel da enfermagem frente a um acompanhamento humanizado durante o parto exige um profissional sem preconceitos, a prestação de serviço livre de qualquer dano e a utilização mínima de intervenções em suas práticas.”

A relação dos enfermeiros com suas pacientes demanda dinamismo, para que os saberes da paciente sejam incorporados ao conhecimento científico, e sua autonomia seja preservada.

O enfermeiro reconhece a relevância da prestação de uma assistência adequada e de qualidade, por isso procura sempre estar acolhendo a mulher, proporcionando segurança, reconhecendo fatores que geram estresse, como a dor, criando um ambiente de cuidado e conforto, tanto para a parturiente como para a família. Dessa forma, a enfermagem vem, cada vez mais, construindo uma história diferenciada, mostrando a sua capacidade, habilidade e influência, aliadas à autoconfiança e experiência no processo de parir, preservando sempre as condições físicas, emocionais e os valores da parturiente.

O enfermeiro tem a educação em saúde como uma das atribuições pertinentes à sua profissão. É importante desmistificar a cultura da cesárea e enfatizar para as gestantes os benefícios de um parto normal e sem interferências, quando possível, para que a parturiente possa decidir com mais consciência sobre o método a ser escolhido.

As mulheres absorveram a cultura de que o parto normal dói e não traz segurança. Cabe ao enfermeiro, como educador, ajudar essa mulher a compreender melhor sobre o parto normal e suas vantagens.

Além das práticas assistenciais, os enfermeiros obstétricos têm funções importantes quando se trata da parte administrativa, sendo reconhecidos pela supervisão de pessoal de enfermagem, provendo os recursos necessários para o andamento da unidade, para que, assim, toda assistência prestada seja efetiva.

A função do enfermeiro voltado para atividades administrativas ainda é muito priorizada por instituições de saúde, afastando-o do contato direto com o paciente, fazendo, dessa forma, com que o enfermeiro, muitas vezes, deixe de lado a realização das práticas humanizadas, pois essa atribuição requer uma demanda de tempo e dedicação para o serviço.

O enfermeiro obstetra ainda encontra muitas dificuldades na sua atuação, seja pelos limites impostos pelas estruturas físicas encontradas nas maternidades atualmente, eou rotinas hospitalares, seja pela cultura centrada nos médicos, que ainda prevalece.

É importante que a enfermagem não se limite às rotinas impostas, que agregue conhecimento e uma postura reflexiva para agir da melhor forma frente às situações. Dessa maneira, a profissão terá o seu devido prestígio por meio da consolidação e emancipação.

Com as crescentes mudanças no exercício da profissão e as diversas políticas inseridas para garantir a assistência qualificada com base na humanização, a enfermagem ainda vem galgando o seu espaço dentro da obstetrícia, pois esse profissional ainda não possui total autonomia, prevalecendo, portanto, as práticas dos médicos. Apesar da implementação, pelo Ministério da Saúde, das Portarias 2815 e 613 que permitem a assistência do enfermeiro ao no parto de baixo risco, ainda são poucos os enfermeiros obstetras que atuam no parto.

O enfermeiro obstetra ainda precisa embasar-se na educação em saúde, pois, por meio dessa assistência, a parturiente sente-se mais acolhida e segura durante o parto. É necessário refletir sobre as atitudes a serem tomadas e sobre a melhor maneira de inserir as práticas humanizadas, pois “para mudar a vida, é preciso primeiro mudar a forma de nascer”.

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