As sequelas duradouras da Covid-19: o que a ciência já sabe

Última atualização: 18/03/2025

Cinco anos após a declaração da pandemia de Covid-19 pela Organização Mundial da Saúde, os cientistas continuam a desvendar os impactos a longo prazo da infecção no organismo humano. Embora os sintomas mais comuns da doença aguda, como febre, tosse e fadiga, tenham sido amplamente documentados, os efeitos prolongados do coronavírus ainda são um desafio para a medicina. Pesquisas recentes revelam que milhões de pessoas ao redor do mundo sofrem de sintomas persistentes, conhecidos como Covid longa, um quadro que pode afetar diferentes sistemas do corpo e comprometer a qualidade de vida.

Além disso, especialistas apontam que o vírus pode desencadear alterações silenciosas no organismo, como inflamações persistentes e danos em órgãos vitais, mesmo após a aparente recuperação do paciente.

O impacto nos pulmões

A infecção pelo coronavírus pode deixar marcas profundas no sistema respiratório, principalmente em indivíduos que enfrentaram quadros mais severos da doença. A inflamação das vias aéreas pode resultar em cicatrizes no tecido pulmonar, dificultando a troca gasosa e comprometendo a oxigenação do sangue.

Estudos indicam que cerca de 10% dos pacientes hospitalizados por Covid-19 apresentam alterações pulmonares dois anos após a infecção, com sintomas persistentes como tosse crônica e falta de ar. Essa condição pode ser explicada pela agressão do vírus às células que revestem os pulmões, levando a um processo de cicatrização que reduz a elasticidade do órgão e prejudica sua função respiratória.

Complicações gastrointestinais

Os problemas digestivos também são uma preocupação entre os efeitos pós-Covid. Relatos indicam que muitos pacientes enfrentam sintomas como dor abdominal, diarreia, refluxo e constipação por meses após a recuperação inicial. A explicação pode estar na desregulação do microbioma intestinal, que ocorre quando o vírus altera o equilíbrio entre as bactérias benéficas e prejudiciais no trato digestivo.

Além disso, a inflamação gerada pela infecção pode comprometer a barreira intestinal, permitindo a passagem de substâncias nocivas para a corrente sanguínea e desencadeando reações adversas, como intolerâncias alimentares.

Os efeitos no cérebro e na cognição

Muitos sobreviventes da Covid-19 relatam dificuldades cognitivas, como lapsos de memória, dificuldade de concentração e uma sensação de “névoa mental”. Esse fenômeno pode estar ligado à inflamação persistente no cérebro, que interfere na comunicação entre os neurônios e prejudica o funcionamento das sinapses. Alguns especialistas sugerem que o vírus pode atravessar a barreira hematoencefálica, afetando diretamente o sistema nervoso e contribuindo para o desenvolvimento de transtornos como ansiedade e depressão.

Estudos demonstram que uma parcela significativa dos pacientes ainda apresenta sintomas neurológicos meses após a infecção inicial, o que levanta preocupações sobre possíveis impactos permanentes na saúde mental.

Riscos cardiovasculares aumentados

Outro efeito preocupante da Covid-19 está relacionado ao sistema cardiovascular. Pesquisas apontam que a infecção pelo coronavírus pode dobrar o risco de eventos cardíacos graves, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC), mesmo em indivíduos sem histórico prévio de doenças do coração. A inflamação generalizada causada pelo vírus pode danificar os vasos sanguíneos, favorecer a formação de coágulos e comprometer a circulação sanguínea.

Além disso, pacientes hospitalizados devido à Covid-19 apresentam maior propensão a desenvolver arritmias e insuficiência cardíaca no longo prazo, evidenciando a necessidade de um acompanhamento médico contínuo.

Pesquisas recentes também indicam que a Covid longa pode afetar a capacidade do corpo de bombear o sangue de maneira eficiente, resultando em sintomas como fadiga extrema e intolerância ao exercício. Em alguns casos, observa-se uma menor captação de oxigênio pelos músculos, o que pode estar associado a disfunções mitocondriais e ao comprometimento da produção de energia celular. Essas descobertas reforçam a complexidade dos impactos da Covid-19 e a necessidade de tratamentos direcionados para minimizar os danos prolongados.

O que esperar para o futuro?

Com a evolução das pesquisas, os cientistas buscam compreender melhor os mecanismos que perpetuam os sintomas da Covid longa e desenvolver abordagens terapêuticas mais eficazes. O reconhecimento da Covid longa como uma condição médica relevante é um passo fundamental para garantir suporte adequado aos milhões de afetados ao redor do mundo. Enquanto isso, a vacinação e os cuidados preventivos continuam sendo essenciais para reduzir o impacto da doença e evitar novas complicações de longo prazo. Veja tambem Surto de febre Oropouche alerta o Brasil.

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