Última atualização: 11/03/2025
O câncer de pulmão sempre foi amplamente associado ao hábito de fumar, mas um dado alarmante tem desafiado essa percepção: cerca de 25% das mulheres diagnosticadas com a doença nunca fumaram. Esse índice contrasta com a realidade masculina, onde apenas 10% dos casos ocorrem entre aqueles que nunca consumiram tabaco. Esse cenário levanta uma série de questionamentos sobre os fatores que podem estar contribuindo para o desenvolvimento do tumor em não fumantes, especialmente entre as mulheres. Especialistas alertam que qualquer pessoa com pulmões pode desenvolver a doença, independentemente do histórico de tabagismo.
De fato, os casos de câncer de pulmão em não fumantes tendem a surgir mais precocemente, em torno dos 50 anos, enquanto os tumores associados ao cigarro geralmente se manifestam após os 60. O declínio no consumo de tabaco nos últimos anos, paradoxalmente, não resultou na redução proporcional da incidência da doença, o que sugere que outros fatores ambientais e genéticos estão desempenhando um papel crucial.
Os principais fatores de risco além do cigarro
Pesquisas apontam que a poluição atmosférica é um dos principais agentes por trás do câncer de pulmão em não fumantes. Poluentes presentes no ar, especialmente as partículas finas em suspensão, podem desencadear processos inflamatórios nos pulmões, levando a mutações celulares que favorecem o surgimento do tumor. A piora na qualidade do ar em diversas regiões do mundo tem sido associada ao crescimento no número de diagnósticos, e há evidências de que os pulmões femininos sejam mais sensíveis a esses poluentes.
Outro fator relevante é a exposição ao gás radônio, um elemento radioativo que emana do solo e pode infiltrar-se em ambientes fechados. Nos Estados Unidos, a medição desse gás é uma exigência em novas construções, enquanto no Brasil, estudos ainda são escassos sobre sua presença e impacto. O contato prolongado com o radônio aumenta significativamente o risco de câncer pulmonar.
Além disso, fatores ocupacionais também são apontados como gatilhos para a doença. Mulheres expostas a substâncias como amianto, arsênico, sílica e fumaça de fogões a lenha apresentam uma vulnerabilidade maior ao desenvolvimento do câncer de pulmão. Doenças inflamatórias crônicas, como artrite reumatoide e asma – ambas mais frequentes entre as mulheres –, também são associadas ao aumento do risco.
O papel da genética e dos hormônios femininos
Estudos sugerem que a predisposição genética tem um impacto significativo no desenvolvimento da doença, principalmente quando há casos registrados na linhagem materna. Filhos de mulheres que tiveram câncer de pulmão têm maior probabilidade de desenvolver a doença em comparação com aqueles cujos pais foram diagnosticados.
Outro aspecto que tem sido investigado é a influência dos hormônios femininos. Algumas pesquisas indicam que o estrogênio pode influenciar a biologia dos tumores pulmonares, tornando o tecido pulmonar mais suscetível a agentes cancerígenos.
A ausência de rastreamento para não fumantes
Atualmente, a triagem para o câncer de pulmão é recomendada apenas para pessoas com alto risco, como fumantes ativos ou aqueles que pararam de fumar há menos de 15 anos. No Brasil, esse rastreamento é feito por meio de tomografias de baixa radiação para indivíduos com histórico de consumo superior a 20 anos/maço. No entanto, como não há um protocolo específico para não fumantes, muitas mulheres só recebem o diagnóstico quando a doença já está em estágio avançado.
Embora exames laboratoriais para detectar o DNA do tumor no sangue estejam em desenvolvimento, por enquanto, a melhor forma de prevenção é a conscientização sobre os sintomas e a exposição a fatores de risco.
Sinais de alerta e a importância do diagnóstico precoce
Identificar os sintomas do câncer de pulmão precocemente pode fazer a diferença no sucesso do tratamento. Tosse persistente por mais de um mês, alterações repentinas na tosse em fumantes, presença de sangue no escarro, perda de peso sem explicação, dificuldade para respirar, dor torácica ao inspirar, inchaço no rosto e rouquidão inexplicada são sinais que não devem ser ignorados.
Apesar dos avanços científicos, o câncer de pulmão ainda representa um grande desafio para a medicina, especialmente em pacientes sem histórico de tabagismo. O entendimento das causas e o desenvolvimento de estratégias para a detecção precoce são essenciais para melhorar as taxas de sobrevida e reduzir o impacto da doença na população. Veja também Aumento nos casos de câncer anal reforça importância da vacinação contra o HPV.