Última atualização: 01/02/2025
Nos últimos dez anos, o câncer de pênis resultou em mais de 22 mil internações no país, com aproximadamente 5,8 mil homens submetidos à remoção parcial ou total do órgão. Os números, coletados pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), revelam uma média de 11 amputações semanais, concentradas principalmente nas regiões Norte e Nordeste. A falta de acesso a informações, somada a condições socioeconômicas precárias e baixa escolaridade, transforma uma doença prevenível em um drama para milhares de brasileiros.
Higiene e HPV: combinação que define o risco
Especialistas apontam que a higiene íntima inadequada e a baixa cobertura vacinal contra o HPV são os principais fatores por trás dos casos. O vírus está associado a 30% dos tumores penianos, enquanto o acúmulo de secreções sob o prepúcio — devido à limpeza incorreta — cria um ambiente propício para infecções crônicas e lesões pré-cancerosas. Tabagismo e fimose, condição em que o prepúcio não se retrai completamente, também elevam o risco.
Maurício Cordeiro, uro-oncologista da SBU, destaca que campanhas educativas e ampliação da vacinação poderiam reduzir drasticamente as estatísticas.
Diagnóstico tardio: consequências irreversíveis
Embora represente apenas 2% dos cânceres masculinos, a doença matou mais de 4,5 mil pessoas entre 2014 e 2023. Muitos homens demoram a buscar ajuda médica, ignorando sintomas como feridas que não cicatrizam, caroços ou secreções. Karin Anzolch, da SBU, explica que, quando detectado precocemente, o câncer tem mais de 90% de chances de cura com tratamentos menos invasivos. Em estágios avançados, porém, a amputação é inevitável, gerando traumas físicos e emocionais.
Prevenção: quatro passos para salvar vidas
A SBU reforça quatro medidas cruciais: higiene diária rigorosa, com exposição da glande durante a lavagem; vacinação contra o HPV, disponível no SUS para meninos de 11 a 14 anos e grupos vulneráveis; cirurgia de postectomia em casos de fimose; e uso de preservativo para evitar infecções.
Iniciativas como o Mutirão Nacional de Postectomias, que oferece cirurgias gratuitas, visam combater a desinformação. “Prevenir é evitar mutilações e mortes”, afirma Luiz Otavio Torres, presidente da SBU.
Sinais de alerta: quando procurar ajuda
Homens acima dos 50 anos são os mais atingidos, mas qualquer alteração no pênis — como verrugas, sangramentos ou lesões persistentes — deve ser investigada. O tratamento varia conforme o estágio: desde a remoção local do tumor até amputações radicais. Ubirajara Barroso Jr., especialista em reconstrução genital, ressalta que técnicas modernas podem restaurar parte da funcionalidade, mas alerta: “A conscientização é a melhor forma de evitar sofrimento”.
Enquanto tabus e falhas em políticas públicas persistirem, milhares continuarão a enfrentar mutilações evitáveis. A mensagem dos especialistas é urgente: educação, acesso a cuidados básicos e quebra do silêncio em torno do tema são essenciais para reverter esse cenário. Veja também Caso de amputação clandestina em idosa acende alerta sobre prática ilegal.