PCDF diz que não tem irregularidades em caso de idosa de 103 anos que teve parte do pé amputada

Última atualização: 01/02/2025

A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) informou, em coletiva realizada nesta sexta-feira (31/1), que as investigações referentes ao caso de uma idosa de 103 anos, que teve parte de seu pé amputada, não apontaram até o momento a prática de qualquer crime. O caso é conduzido pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação e contra Pessoas Idosas (Decrin) e envolve uma complexa evolução clínica associada à necrose, tratada através de procedimentos de desbridamento realizados por uma enfermeira especializada.

Contexto clínico e histórico da paciente

A idosa, que reside na Asa Norte, apresentava um quadro clínico delicado: além de estar acamada, sofria de Alzheimer avançado e vinha lidando com uma ferida necrosada no pé desde 2023. Inicialmente, os médicos consideraram a possibilidade de uma intervenção cirúrgica para amputação, mas, devido à fragilidade da paciente e aos riscos inerentes à sua condição, optou-se por um manejo paliativo domiciliar. Durante esse período, a paciente era acompanhada por familiares e profissionais de saúde especializados em cuidados home care.

Procedimento de desbridamento e evolução do caso

Diante da evolução negativa da lesão, a equipe médica recomendou a atuação de uma enfermeira com ampla experiência em cuidados de feridas e estomaterapia. Segundo informações da delegada-chefe da Decrin, Ângela Maria dos Santos, a profissional foi escolhida para realizar o desbridamento – um procedimento que visa a remoção cuidadosa do tecido necrosado para promover a recuperação do local afetado.

A enfermeira realizou inicialmente duas sessões de limpeza da ferida, durante as quais empregou o bisturi para cortar o tecido desvitalizado, sem que houvesse sangramento, dado que a área já não possuía inervação ativa. Na terceira sessão, a observação de que parte da necrose se desprendia espontaneamente levou a uma intervenção minuciosa, onde pequenos filamentos de tecido, denominados “estelos”, foram removidos, permitindo uma melhora considerável no quadro clínico da paciente. Essa evolução positiva possibilitou, posteriormente, a realização de uma cirurgia de amputação a nível da coxa no dia 27 de janeiro, conduzida em ambiente hospitalar.

Análises técnicas e conclusões periciais

O perito médico-legista Otávio Castello ressaltou que o bisturi utilizado pela enfermeira não foi empregado para cortar osso ou cartilagem, mas exclusivamente para a remoção de tecido necrosado. Conforme suas declarações, “não houve amputação realizada pela enfermeira, mas sim um procedimento de limpeza que respeitou os limites da necrose, sem causar dor à paciente, uma vez que os nervos na área já estavam inativos.” Tais constatações foram corroboradas por depoimentos dos familiares, da própria profissional e pela análise do prontuário clínico.

Esclarecimentos sobre o procedimento de descarte

Um ponto que gerou questionamentos foi o uso do termo “descarte”, mencionado pela enfermeira em conversas via WhatsApp. Segundo a investigação, a tentativa inicial de descartar os resíduos de tecido necrosado no hospital não prosperou, pois a paciente não estava internada naquele local. Dessa forma, o material removido – que correspondia apenas a uma parte necrótica da porção anterior do pé, incluindo os dedos, e que já estava se desprendendo naturalmente – foi destinado ao descarte junto ao lixo hospitalar do serviço de home care.

Considerações finais e relevância do caso

Além de evidenciar a complexidade dos cuidados em pacientes idosos com condições avançadas, o caso ressalta a importância da atuação integrada entre familiares e profissionais de saúde especializados. As análises indicam que a paciente estava recebendo cuidados adequados, sem sinais de maus-tratos, estando bem nutrida e hidratada, o que afasta suspeitas de negligência.

Com as investigações em andamento, a PCDF reitera que, até o presente momento, não foram encontrados indícios de crime, e que os procedimentos adotados seguiram as melhores práticas de cuidados paliativos e de manejo de feridas. O caso serve como um exemplo da necessidade de avaliações criteriosas em contextos complexos de saúde, sobretudo entre a população idosa, onde decisões terapêuticas devem ser sempre ponderadas em função da qualidade de vida e do bem-estar do paciente.

Em síntese, as medidas tomadas – desde a identificação da necrose até a decisão final pela intervenção cirúrgica – demonstram que, apesar da gravidade do quadro clínico, o processo seguiu protocolos rigorosos, garantindo o respeito à dignidade e ao cuidado da paciente. Ver Caso de amputação clandestina em idosa acende alerta sobre prática ilegal.

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