Última atualização: 16/02/2025
O sistema público de saúde brasileiro enfrenta um cenário preocupante. Dados recentes obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação revelam que mais de 1,3 milhão de brasileiros aguardam por cirurgias eletivas no Sistema Único de Saúde (SUS). O aumento da fila foi de 26% apenas no último ano, evidenciando um gargalo no atendimento que impacta diretamente a qualidade de vida dos pacientes. Especialistas apontam que o acúmulo de procedimentos represados durante a pandemia ainda afeta a capacidade do sistema de absorver a demanda crescente.
Crescimento das filas e principais desafios
As cirurgias eletivas, aquelas que não são consideradas emergenciais, abrangem procedimentos essenciais para o bem-estar dos pacientes, como operações de catarata, hérnia e ortopedia. Atualmente, a espera por uma cirurgia no SUS pode chegar a dois anos e quatro meses, tempo considerado excessivo para quem depende do sistema público para tratar problemas que afetam sua rotina e saúde.
Os estados mais populosos do país concentram as maiores filas. São Paulo e Minas Gerais, por exemplo, registram juntos mais de 600 mil pessoas à espera de um procedimento cirúrgico. Essa concentração agrava o problema, já que a capacidade de atendimento hospitalar varia de acordo com a infraestrutura e os investimentos estaduais.
Esforços do governo e dificuldades enfrentadas
O Ministério da Saúde, por meio da ministra Nísia Trindade, afirma que em 2024 foram realizadas quase 14 milhões de cirurgias eletivas, um número recorde para o SUS. Apesar desse esforço, a fila continuou crescendo. Em fevereiro de 2023, o governo federal lançou o Programa Nacional de Redução de Filas, com repasses financeiros para estados e municípios que adotassem estratégias para acelerar o atendimento. No entanto, a alta demanda e a defasagem estrutural do sistema dificultam a eficácia da iniciativa.
Walter Cintra Ferreira, médico sanitarista e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), destaca que o ideal seria priorizar os casos mais graves e investir na ampliação de consultas e exames diagnósticos para reduzir a necessidade de procedimentos cirúrgicos em estágio avançado. “Sempre haverá filas, mas o foco deve ser na diminuição do tempo de espera e na organização dos atendimentos de forma mais eficiente”, explica.
Relatos de pacientes e impacto na qualidade de vida
Para muitos pacientes, a longa espera representa não apenas dor e sofrimento, mas também a perda da qualidade de vida e autonomia. José Antônio Pereira, aposentado que aguarda há meses uma cirurgia de catarata, relata que já perdeu a visão de um dos olhos e teme que o problema afete completamente sua capacidade de enxergar. “A gente fica sem resposta. Só dizem que estou na fila, mas não há previsão de quando serei atendido”, lamenta.
Casos como o de José se multiplicam pelo país. A falta de informações e de prazos claros agrava a angústia dos pacientes e de seus familiares, que precisam lidar com a incerteza do atendimento.
Perspectivas para o futuro
Diante desse cenário, o governo federal pretende ampliar os investimentos no setor para tentar reduzir as filas nos próximos anos. Entre as medidas estudadas estão a ampliação dos mutirões de cirurgias, o reforço da parceria com hospitais filantrópicos e a digitalização do sistema para melhorar a gestão dos agendamentos.
No entanto, especialistas alertam que a solução do problema depende de mudanças estruturais mais profundas, incluindo a contratação de profissionais e a modernização dos hospitais públicos. Enquanto isso, milhões de brasileiros seguem esperando por um atendimento que pode ser a diferença entre viver com qualidade ou sofrer as consequências da demora no sistema de saúde. Veja também Hospital de Base do DF inova ao oferecer tratamento cardíaco minimamente invasivo no SUS.