Última atualização: 17/01/2025
Nos últimos anos, doenças que eram consideradas erradicadas no Brasil têm ressurgido e colocado em risco a saúde da população. Este fenômeno, que surpreende especialistas e desafia os sistemas de saúde, é atribuído a diversos fatores, desde a queda nas taxas de vacinação até mudanças no cenário global de saúde.
O retorno das doenças
Entre as doenças que voltaram a ameaçar o Brasil estão o sarampo, a poliomielite e até mesmo a febre amarela em regiões anteriormente consideradas livres da doença. O sarampo, por exemplo, havia sido declarado eliminado em 2016, mas voltou a registrar surtos significativos desde 2018, segundo dados do Ministério da Saúde. A poliomielite, que não registra casos no Brasil desde 1989, também preocupa, com sinais de baixa cobertura vacinal em estados como Amazonas e Pará.
A professora Magda Ribeiro, especialista do Departamento de Patologia Básica da Universidade Federal do Paraná, explica que a erradicação de uma doença exige esforços contínuos e vigilância constante. “A ausência de casos não significa o fim da ameaça, especialmente em um mundo globalizado, onde pessoas e doenças cruzam fronteiras rapidamente.”
Vacinação em declínio
A principal barreira contra o retorno dessas doenças é a vacinação, mas o Brasil tem enfrentado quedas preocupantes nos índices de imunização. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que a cobertura vacinal no país, que já ultrapassava 95% em 2015, caiu para níveis críticos em várias regiões. Este declínio é atribuído a uma combinação de desinformação, desconfiança nas vacinas e dificuldades de acesso em áreas remotas.
O impacto da pandemia de COVID-19 também não pode ser ignorado. Com recursos e esforços desviados para combater o coronavírus, campanhas de vacinação contra outras doenças foram interrompidas ou atrasadas. Isso criou um ambiente propício para o retorno de doenças como o sarampo, que se espalha rapidamente em populações não vacinadas.
O papel das políticas públicas
Especialistas apontam que o fortalecimento das políticas públicas de saúde é essencial para combater o ressurgimento dessas doenças. Estratégias como campanhas de conscientização, vacinação em escolas e acesso facilitado às vacinas são cruciais. No entanto, é necessário um esforço coletivo que envolva governos, comunidades e profissionais de saúde.
“A responsabilidade é compartilhada. Precisamos de campanhas mais agressivas, mas também de uma mobilização da sociedade para entender a importância da imunização”, destaca Magda Ribeiro.
O impacto global e as conexões brasileiras
Além dos fatores locais, o Brasil também sente os reflexos de problemas globais. Epidemias em outros países podem facilmente atingir o território nacional, devido ao aumento do turismo e das viagens internacionais. A febre amarela, por exemplo, teve surtos recentes em áreas urbanas do Brasil, algo inédito, e levantou preocupações sobre a expansão geográfica de doenças tropicais.
Como reverter a tendência
Reverter essa situação exige medidas de curto e longo prazo. O Ministério da Saúde já lançou campanhas de vacinação e intensificou os esforços para monitorar surtos em potencial. Contudo, os especialistas reforçam que é necessário reconstruir a confiança da população nas vacinas, combater a desinformação e garantir a universalidade do acesso.
“O Brasil tem uma longa história de sucesso na erradicação de doenças, como demonstrado com a varíola e a poliomielite. Recuperar essa tradição é fundamental para proteger as próximas gerações”, conclui Ribeiro.
O ressurgimento de doenças erradicadas é um lembrete de que a saúde pública é um desafio constante. Somente com vigilância contínua, educação e comprometimento coletivo será possível garantir um futuro mais seguro e saudável para todos. Ver Estudo genômico mapeia o ressurgimento global da sífilis.