Máfia da anestesia: Hospital vira alvo após romper contrato com cooperativa

Última atualização: 24/04/2025

Mensagens de texto e áudios recentemente revelados trouxeram à tona um suposto esquema de boicote e intimidação praticado por membros da Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Distrito Federal (Coopanest-DF) contra um hospital particular da capital. O caso teve início após o rompimento do contrato entre a instituição e a Clínica de Anestesiologia de Brasília (CAB), vinculada à cooperativa. O hospital decidiu contratar anestesistas independentes, o que teria desencadeado uma série de represálias articuladas por profissionais ligados à cooperativa, com o objetivo de minar as atividades cirúrgicas da unidade e pressionar para a retomada do vínculo.

A situação se tornou ainda mais grave com o surgimento de provas de ameaças pessoais, perseguições profissionais e tentativas de estrangular financeiramente a instituição, prática que está sendo chamada de “máfia da anestesia”.

Rompimento de contrato e início da retaliação

O estopim do conflito ocorreu quando o hospital particular, ao ampliar suas salas cirúrgicas, exigiu da CAB a participação nos custos da expansão. Diante da negativa da cooperativa, a unidade rompeu o contrato com o grupo e passou a trabalhar com profissionais autônomos.

A reação foi imediata: anestesistas filiados à cooperativa teriam iniciado uma campanha para impedir colegas de atuar no hospital, promovendo ameaças veladas, abertura de processos internos e até tentativas de expulsão dos profissionais que aceitaram trabalhar na instituição.

Ameaças, perseguições e retaliações institucionais

Entre os registros mais impactantes, uma mensagem enviada ao filho do proprietário do hospital afirma que seria melhor ele “convencer o velho, porque nós vamos fechar o hospital dele”. O conteúdo ilustra o clima de hostilidade e o esforço deliberado para isolar a instituição. Outros relatos dão conta de que familiares dos anestesistas dissidentes também passaram a ser alvo de pressão.

Uma médica, por exemplo, foi informada de que seu filho recém-formado em medicina não conseguiria trabalho em Brasília. Além disso, a cooperativa teria promovido a abertura de processos disciplinares contra os profissionais que romperam com a entidade.

Impacto direto nos atendimentos e nas cirurgias

A campanha de boicote teria surtido efeito imediato nas operações da unidade hospitalar. Segundo estimativas, mais de 790 procedimentos cirúrgicos foram cancelados nos meses seguintes ao início da retaliação. Com a escassez de anestesistas dispostos a enfrentar a pressão, o hospital foi obrigado a suspender cirurgias eletivas, limitando-se aos atendimentos de urgência em determinados períodos.

A crise afetou não apenas o fluxo financeiro da instituição, mas também o atendimento à população, que passou a enfrentar atrasos e cancelamentos de procedimentos agendados.

Temor da perda de monopólio no mercado

Além da disputa contratual, os registros revelam o receio da cúpula da Coopanest-DF de que o modelo de contratação direta adotado pelo hospital se espalhe para outras unidades do Distrito Federal.

A adoção de um sistema mais transparente, com negociações diretas entre anestesistas e planos de saúde, ameaça o controle exercido há décadas pela cooperativa, cuja atuação passou a ser questionada em função das acusações de práticas monopolistas e intimidação corporativa.

Operação Toque de Midaz investiga o caso

As denúncias se somam às investigações da Operação Toque de Midaz, deflagrada em abril pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e pelo Ministério Público. A operação tem como alvo integrantes da Coopanest-DF suspeitos de formar uma organização criminosa destinada a manter o domínio sobre os serviços de anestesiologia na capital.

As investigações apontam para um esquema de exclusividade forçada com operadoras de saúde, uso sistemático de coação e estratégias para barrar a atuação de médicos independentes em hospitais públicos e privados.

Defesa da cooperativa nega irregularidades

Em resposta às denúncias, a Coopanest-DF negou qualquer conduta ilícita. Em nota oficial, a entidade afirmou que atua com ética há mais de 40 anos e que não compactua com práticas de cartel ou intimidação.

A cooperativa declarou ainda que apresentará provas para demonstrar a legalidade das ações de seus dirigentes e a lisura da atuação de seus associados.

Investigação segue em curso

As autoridades seguem reunindo provas e depoimentos para esclarecer a extensão e os responsáveis pelo esquema de boicote. O caso trouxe à tona não apenas os conflitos corporativos dentro do setor médico, mas também a fragilidade de estruturas hospitalares diante de práticas que visam sufocar economicamente instituições que optam por modelos alternativos de gestão e contratação de serviços especializados.

O desfecho da investigação poderá ter impacto direto na organização do mercado de anestesiologia no Distrito Federal e abrir precedentes para outras regiões do país. Veja também Jovem cantora revelada no ‘The Voice Kids’ morre aos 17 anos e deixa país em comoção.

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