Última atualização: 27/01/2025
Em dezembro de 2024, o Ministério da Saúde deu início às avaliações para a possível incorporação do medicamento Wegovy ao Sistema Único de Saúde (SUS). Produzido pela mesma fabricante do Ozempic, o Wegovy é indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, mas também tem sido amplamente utilizado de maneira off-label para perda de peso devido ao seu efeito colateral de promover saciedade e controlar o apetite. Este avanço marca uma etapa crucial em um debate que une saúde pública, custo de tratamentos e políticas de combate à obesidade.
O processo de avaliação pela Conitec
A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec) recebeu, no dia 16 de dezembro de 2024, um pedido formal para avaliar a inclusão do Wegovy na lista de medicamentos gratuitos do SUS. O prazo inicial para a conclusão da análise é de 180 dias, com possibilidade de extensão por mais 90 dias, conforme previsto nas normas da Comissão.
Apesar da agilidade nos trâmites iniciais, representantes do Ministério da Saúde alertam que a disponibilização do medicamento para a população não deve ocorrer em 2025. Mesmo que o Wegovy seja aprovado pela Conitec, a incorporação ao SUS enfrentaria desafios financeiros consideráveis devido ao alto custo do medicamento, o que poderia postergar sua distribuição para 2026 ou além.
O papel do Wegovy e medicamentos similares
O Wegovy e o Ozempic pertencem à classe de medicamentos que utilizam o semaglutida, um composto que imita o hormônio GLP-1 (peptíde semelhante ao glucagon tipo 1), promovendo a sensação de saciedade e reduzindo a fome. Enquanto o Wegovy é aprovado para uso em perda de peso em vários países, o Ozempic tem sua indicação principal no tratamento do diabetes tipo 2. Contudo, ambos ganharam notoriedade por auxiliar no emagrecimento, tornando-se populares em prescrições off-label, inclusive no Brasil.
Segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), esses medicamentos representam um avanço significativo para pacientes com obesidade e diabetes, mas devem ser usados com precaução. “Embora eficazes, os remédios não são livres de efeitos colaterais e exigem acompanhamento médico rigoroso”, destaca um comunicado da entidade.
Impacto na Saúde Pública brasileira
A obesidade e o diabetes são problemas crescentes no Brasil. Dados do Ministério da Saúde mostram que a prevalência de obesidade entre adultos mais que dobrou nas últimas décadas, enquanto o diabetes afeta cerca de 8,9% da população adulta. Nesse contexto, a incorporação de medicamentos como o Wegovy ao SUS poderia ser uma ferramenta poderosa para lidar com essas condições crônicas, reduzindo custos de complicações futuras e melhorando a qualidade de vida dos pacientes.
Contudo, o alto custo desses tratamentos é um obstáculo significativo. Em farmácias privadas, o preço do Wegovy pode ultrapassar milhares de reais mensais, um valor inacessível para a maioria dos brasileiros. Essa realidade levanta a questão sobre como o SUS poderia sustentar a distribuição gratuita do medicamento sem comprometer outros setores do sistema.
A polêmica do Ozempic no Rio de Janeiro
Enquanto a discussão nacional se desenrola, o Rio de Janeiro já se tornou palco de uma iniciativa local relacionada ao tema. Durante a campanha eleitoral de 2024, o prefeito reeleito Eduardo Paes (PSD) prometeu disponibilizar o Ozempic gratuitamente à população da capital fluminense. Paes, que publicamente relatou ter perdido 30 quilos com o uso do medicamento, declarou que sua meta é transformar o Rio em uma “cidade sem gordinhos”.
Após sua reeleição, o prefeito publicou um decreto no Diário Oficial do Município criando um grupo de trabalho para estudar a viabilidade de incluir o Ozempic nas unidades de saúde públicas do Rio. Embora a proposta tenha sido bem recebida por parte da população, especialistas apontam que o custo elevado do medicamento e a falta de infraestrutura adequada podem ser barreiras para sua implementação.
Caminhos para o futuro
A incorporação de medicamentos como Wegovy e Ozempic ao SUS representa um desafio complexo que exige a consideração de vários fatores, incluindo custo, impacto na saúde pública e sustentabilidade do sistema. Por outro lado, iniciativas locais como a do Rio de Janeiro demonstram a urgência de soluções para o enfrentamento da obesidade e diabetes no Brasil.
A Conitec tem a responsabilidade de analisar não apenas a eficácia e segurança do Wegovy, mas também seu impacto orçamentário e os benefícios a longo prazo para o SUS. Enquanto isso, a população aguarda ansiosa por decisões que possam transformar a realidade de milhões de brasileiros que convivem com essas condições crônicas.
Com o prazo de análise ainda em andamento, o futuro da incorporação do Wegovy ao SUS permanece incerto. No entanto, a discussão já reflete a importância de avanços tecnológicos e terapêuticos no enfrentamento de problemas crônicos de saúde. Para muitos, o desfecho dessa história será um marco na história da saúde pública brasileira. Ver Cuidados de enfermagem para pacientes com diabetes.