Última atualização: 02/05/2025
É revoltante, mas é real: quase metade das pessoas diagnosticadas com câncer e que dependem do SUS não conseguem começar o tratamento dentro do tempo que a lei determina. Mesmo existindo normas que garantem agilidade nos cuidados, muitos brasileiros seguem esperando por exames, diagnósticos e consultas com especialistas como se fosse um favor e não um direito. A situação, além de dramática para os pacientes, também escancara o quanto o sistema público de saúde ainda é frágil quando se trata de lidar com doenças graves como o câncer.
A promessa da lei e a dura realidade
Por lei, o paciente com suspeita de câncer deve receber o diagnóstico em no máximo 30 dias. Caso a doença seja confirmada, o tratamento tem que começar até 60 dias depois. Mas o que se vê na prática é bem diferente.
De acordo com um levantamento feito pelo Instituto Oncoguia, entre 2018 e 2022, 42% dos diagnósticos vieram com atraso, e 46% dos pacientes iniciaram o tratamento depois do prazo legal. Em casos como o de câncer de mama e próstata, os números são ainda mais graves — mais de 70% dos pacientes esperaram além do permitido.
Casos que refletem o abandono
A história da Edilane, moradora de Saquarema (RJ), é um retrato cruel dessa realidade. Ela começou a ter falta de ar em abril de 2024 e foi peregrinando de médico em médico pelo SUS. O diagnóstico de câncer de pulmão só chegou quase um ano depois. Mesmo assim, ela ainda nem passou por consulta com o oncologista, o que é essencial para definir qual será o tratamento. O filho dela, José Carlos, conseguiu uma transferência para um hospital da Marinha no Rio, mas teme que a mãe nem esteja viva até a próxima consulta agendada para julho.
Outro exemplo vem de São Paulo. A assistente jurídica Carmen Célia Rodrigues está há mais de nove meses aguardando uma cirurgia para remover um tumor no rim. Enquanto isso, ela vive a angústia de não saber se o tumor é maligno ou não. A incerteza, somada à demora, pesa psicologicamente e pode significar uma perda de chance real de cura.
A resposta das autoridades e especialistas
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, afirmou que o governo está montando um plano para firmar parcerias com hospitais privados e operadoras de saúde com o objetivo de reduzir as filas. Segundo ele, a intenção é usar a estrutura ociosa dessas instituições para agilizar exames, consultas e cirurgias para pacientes do SUS. A proposta, apesar de parecer promissora, ainda não tem data exata para começar a funcionar de forma concreta.
Já para especialistas como a oncologista Marina Saad e a presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz, a demora compromete não só a eficácia dos tratamentos, mas também afeta diretamente a qualidade de vida e a sobrevida dos pacientes. “Um tratamento que poderia curar, acaba não curando. E um cuidado que deveria garantir uma vida melhor, vira sofrimento”, pontua Luciana.
Impactos que vão além da saúde
Além de colocar vidas em risco, esse atraso também gera consequências econômicas. Uma paciente que precisa esperar mais tempo para iniciar o tratamento pode precisar se afastar do trabalho por períodos maiores, o que impacta não só sua renda, mas também o sistema previdenciário e os gastos com saúde a longo prazo. O câncer, quando tratado tardiamente, costuma demandar tratamentos mais complexos e caros.
A demora no atendimento oncológico no SUS não é apenas um problema de gestão, mas uma questão de dignidade e de direitos.
Cada dia a mais na fila é um dia a menos de esperança para milhares de brasileiros. Enquanto isso, famílias inteiras vivem na angústia da espera, confiando que o sistema que deveria acolher esteja, de fato, funcionando para salvar vidas. Veja também Campanha nacional contra a gripe começa com meta ambiciosa de imunização.