Última atualização: 10/12/2024
No dia 6 de dezembro, uma situação tensa no Hospital Municipal da Mulher e Maternidade Célia Câmara (HMMCC), em Goiânia, resultou na prisão de dois profissionais de saúde e gerou grande repercussão. O incidente teve início após o marido de uma gestante, insatisfeito com o atendimento, entrar em contato com um assessor do vereador Igor Franco (MDB). A ligação resultou na chegada de policiais militares à unidade para intervir no caso, o que culminou em confrontos e detenções.
A versão do vereador Igor Franco
Segundo Igor Franco, a gestante, com 39 semanas de gestação, passou o dia inteiro aguardando atendimento na maternidade. Ele alegou que a mulher estava sentindo dores e que o hospital teria negado atendimento imediato, desrespeitando uma lei municipal de sua autoria, que permite à gestante optar por parto normal ou cesariana após 39 semanas, desde que não haja contraindicações médicas.
“O hospital tratou a gestante de forma desumana, ignorando a lei. Quando a Polícia Militar chegou, os profissionais de saúde dificultaram o trabalho dos agentes e desacataram as autoridades, resultando nas prisões”, declarou o vereador em suas redes sociais.
Franco destacou que sua equipe agiu para defender os direitos da gestante e negou ter ordenado as prisões. Ele afirmou que os policiais agiram “dentro da legalidade”.
A nota oficial do hospital desmente o vereador
A Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), responsável pela gestão do HMMCC, contestou as alegações do vereador em uma nota oficial. Segundo a instituição, o atendimento da gestante seguiu rigorosamente o protocolo de Classificação de Risco de Manchester, utilizado mundialmente para priorizar casos de maior gravidade.
De acordo com o hospital, a paciente chegou à unidade pela manhã, passou pela triagem e recebeu uma pulseira verde, indicando que sua situação não era emergencial. Após exames e reavaliações, foi constatado que tanto a mãe quanto o bebê estavam em boas condições. A equipe orientou a gestante sobre sinais de alarme para retorno e explicou que o parto seria realizado no momento oportuno, dentro das diretrizes técnicas e assistenciais.
O hospital também rebateu a alegação de desrespeito à lei municipal, esclarecendo que a legislação citada pelo vereador não obriga a realização imediata do parto, mas sim que a decisão seja baseada na orientação médica para preservar a saúde da mãe e do bebê.
“Não houve negligência por parte da equipe médica, e o atendimento foi prestado com ética e responsabilidade”, afirmou a nota. A instituição lamentou a “conduta ofensiva” dos policiais e informou que acionou uma advogada criminalista para conduzir o caso.
A posição do Coren-GO
O Conselho Regional de Enfermagem de Goiás (Coren-GO) também se manifestou publicamente, repudiando a ação policial. A entidade destacou que os profissionais de saúde estavam cumprindo os protocolos institucionais e não poderiam ser responsabilizados por seguir os critérios técnicos estabelecidos.
“O ocorrido revela um grave desrespeito ao trabalho essencial que os profissionais de saúde realizam diariamente, com dedicação, ética e comprometimento”, declarou o Coren-GO em nota.
A entidade criticou a postura dos policiais, que, segundo relatos, agiram de forma truculenta e desproporcional ao prender uma enfermeira e um maqueiro. O conselho reforçou seu compromisso em oferecer apoio aos trabalhadores e afirmou que acompanhará o caso para que a justiça seja feita.
“É inadmissível que profissionais da saúde, que atuam na linha de frente, sejam submetidos a violência e humilhações no exercício de suas funções. Esse tipo de situação não apenas prejudica os envolvidos, mas desestimula toda a categoria”, concluiu o Coren-GO.
Reflexão sobre o caso
O episódio no HMMCC revela o quanto a relação entre profissionais da saúde, forças de segurança e representantes políticos pode ser tensionada em situações delicadas. Enquanto as investigações prosseguem, espera-se que o caso seja tratado com imparcialidade e que medidas sejam tomadas para prevenir novas ocorrências.
Além disso, o incidente destaca a importância de respeitar os protocolos de atendimento médico, de garantir a segurança e a dignidade dos trabalhadores da saúde e de evitar o uso de influência política para alterar procedimentos técnicos em instituições públicas.