Última atualização: 25/01/2025
Um vídeo que circula pela internet chamou a atenção ao mostrar um profissional de saúde, aparentemente um médico, segurando um recém-nascido e dando tapinhas nas costas e no bumbum. Esses tapinhas eram para que o bebê começasse a respirar. A cena, embora intrigante, gera sentimentos de angústia para quem assiste.
Esse ato, claramente desesperado, evidencia o esforço de salvar a vida de um bebê que nasceu sem respirar, mas também levanta questões sobre os métodos utilizados e as práticas recomendadas para a reanimação neonatal.
Práticas tradicionais em regiões com recursos limitados
Em locais onde o acesso a cuidados neonatais avançados é escasso, os profissionais de saúde frequentemente recorrem a métodos que aprenderam através da tradição ou por observação de gerações anteriores.
Nessas áreas, o tapinha no bumbum ou nas costas do recém-nascido continua sendo visto como uma forma simples e rápida de estimular a respiração. Essa prática, apesar de parecer intuitiva, pode ser ineficaz e até prejudicial, como apontam as evidências científicas.
Além disso, a ausência de equipamentos básicos, como aquecedores neonatais, dispositivos de ventilação manual ou aspiradores, força os profissionais a improvisar com o que está à disposição, o que pode levar ao uso de práticas obsoletas.
Nessas circunstâncias, o desejo de salvar vidas muitas vezes supera a preocupação com a aderência às recomendações globais.
Por que essas práticas persistem?
A perpetuação de métodos inadequados está diretamente ligada a fatores como:
- Falta de Treinamento: Muitos profissionais de saúde em países em desenvolvimento não têm acesso a treinamentos atualizados em reanimação neonatal, o que limita sua capacidade de adotar práticas baseadas em evidências.
- Escassez de Recursos: A falta de materiais básicos, como fontes de calor radiante, equipamentos de ventilação com pressão positiva e monitores cardíacos, obriga os profissionais a improvisar com métodos antiquados.
- Tradição Cultural: Em algumas culturas, práticas tradicionais são profundamente enraizadas e difíceis de abandonar, mesmo quando existem evidências de que elas são ineficazes ou contraproducentes.
- Acesso Limitado à Informação: Em locais remotos, a ausência de internet e de literatura médica atualizada dificulta a disseminação de práticas recomendadas pela OMS.
Reanimação Neonatal: O que diz a OMS?
A OMS recomenda um protocolo claro e baseado em evidências para a reanimação neonatal, que deve ser aplicado globalmente. As etapas incluem:
- Manter o Bebê Aquecido: Assim que nasce, o recém-nascido deve ser colocado sob uma fonte de calor para evitar hipotermia, que pode comprometer suas funções vitais.
- Posicionar Adequadamente a Cabeça: A cabeça do bebê deve ser levemente inclinada para abrir as vias aéreas.
- Estimulação Suave: Em vez de tapas, a estimulação deve ser feita com a secagem vigorosa do corpo do bebê, utilizando um pano limpo.
- Aspiração Se Necessário: Apenas se houver sinais de obstrução por secreções, como mecônio ou líquidos, a aspiração das vias aéreas deve ser realizada.
- Ventilação com Pressão Positiva: Caso o bebê não respire espontaneamente, a ventilação manual com bolsa e máscara é o método mais eficaz para salvar vidas.
Essas recomendações foram elaboradas para minimizar riscos e aumentar as chances de sobrevivência e recuperação do recém-nascido. No entanto, sua implementação depende de condições básicas de infraestrutura e capacitação, que muitas regiões ainda não possuem.
O Impacto da Educação e da Tecnologia
Países que conseguiram superar práticas obsoletas investiram fortemente na educação de seus profissionais de saúde e na aquisição de equipamentos modernos. Programas de treinamento, como o Helping Babies Breathe (Ajuda para os Bebês Respirarem), têm sido implantados em países de baixa e média renda para ensinar técnicas adequadas de reanimação neonatal, com resultados promissores na redução da mortalidade neonatal.
Além disso, a introdução de tecnologias simples e de baixo custo, como dispositivos de ventilação manual, está ajudando a preencher a lacuna em regiões mais pobres. Contudo, a disseminação dessas ferramentas ainda é desigual, deixando muitas populações vulneráveis.
O recém-nascido começou a respirar
Felizmente, no caso mostrado no vídeo, o esforço do profissional surtiu efeito, e o recém-nascido começou a respirar, aliviando a situação de urgência e preocupação. Apesar disso, é importante destacar que o uso das boas práticas recomendadas pela OMS é essencial para evitar complicações futuras na vida do bebê, como possíveis traumas físicos ou dificuldades respiratórias.
A adoção de protocolos baseados em evidências, combinada com o treinamento adequado de profissionais de saúde e o acesso à tecnologia, é crucial para garantir que todos os recém-nascidos recebam o cuidado necessário, independentemente das condições locais. Assim, reforçamos a necessidade de investimento em educação e infraestrutura para que situações como essa sejam abordadas de forma mais segura e eficiente. Ver Técnica de Enfermagem é feita refém por paciente em surto psicótico que morre após chegada da polícia.
Publicado em: 25 de janeiro de 2025.