Câncer de Rim

Última atualização: 01/01/2025

O câncer de rim (câncer renal) pode ser curado quando diagnosticado precocemente e tratado de maneira adequada. As taxas de sobrevida variam entre 79% e 100% nos estágios iniciais. Estima-se que mais de 100 mil pacientes já tratados contra o câncer renal estejam vivos nos Estados Unidos. A seguir, responde-se às principais dúvidas sobre os tumores renais, auxiliando os pacientes a dialogar com seus médicos. Ver Litíase Renal.


1. FUNÇÕES NORMAIS DO RIM

A maioria das pessoas tem dois rins, localizados na região das costas e protegidos por músculos e costelas. Cada rim é envolto pela fáscia de Gerota (uma bainha fibrosa) e por uma camada de gordura, tendo ainda uma cápsula renal fina que o reveste externamente. O rim filtra o sangue, excretando toxinas e controlando o equilíbrio de líquidos, sais minerais (eletrólitos) e ácido-base do organismo. Também produz hormônios, como a eritropoietina, que estimula a fabricação de glóbulos vermelhos, e ajuda a regular a pressão arterial.

Quando ocorre uma lesão renal ou se há grande remoção de tecido do rim, as funções renais podem ser afetadas. Danos leves ou moderados geralmente têm pouco impacto na saúde geral, mas comprometimentos graves podem levar à diálise.

1.1 Glândulas adrenais

Acima de cada rim existe uma glândula adrenal, envolta pela mesma fáscia de Gerota, porém independente do rim. As adrenais regulam a resposta ao estresse (produzindo adrenalina), além dos níveis de glicose, potássio, água e hormônios sexuais.


2. TUMORES RENAIS

Um tumor renal é um crescimento anormal no rim. Termos como “massa” e “lesão” podem ser usados como sinônimos de tumor. Essas formações podem ser benignas ou malignas (câncer). A lesão renal mais comum é o cisto simples, que é benigno, não evolui para câncer e, na maioria das vezes, não exige tratamento nem acompanhamento contínuo.

Por outro lado, tumores sólidos no rim têm mais de 80% de chance de serem malignos.


3. CÂNCER RENAL: PANORAMA E FATORES DE RISCO

Cerca de 2% de todos os cânceres nos Estados Unidos surgem no rim, atingindo aproximadamente 52 mil americanos a cada ano, com mais de 12 mil mortes. No Brasil, dados do Globocan (OMS) mostram que, em 2008, pouco mais de 4 mil pessoas foram diagnosticadas com câncer de rim, com taxa de mortalidade de 54% (indicando que o diagnóstico muitas vezes ocorre tardiamente).

O fator de risco mais prevalente inclui:

  • Tabagismo
  • Hipertensão arterial
  • Obesidade
  • História familiar de câncer de rim
  • Insuficiência renal crônica e/ou diálise
  • Dieta com excesso de calorias ou frituras
  • Doença de Von Hippel-Lindau
  • Esclerose tuberosa

4. SINTOMAS

É comum o câncer renal ser assintomático em estágios iniciais e descoberto ao acaso. Quando presentes, os sintomas podem incluir:

  • Dor abdominal ou nas costas
  • Massa abdominal palpável
  • Sangue na urina (microscópico ou visível)
  • Sintomas decorrentes de metástases (ex.: falta de ar se pulmão estiver envolvido; dor óssea se o tumor atinge ossos)
  • Síndromes paraneoplásicas (observadas em 20% dos casos), que podem incluir febre, suores, perda de peso, perda de apetite, alterações laboratoriais (anemia, hipercalcemia, elevação de fosfatase alcalina, aumento de glóbulos vermelhos etc.)

5. DIAGNÓSTICO

Não existem exames de sangue ou urina específicos para detectar diretamente tumores renais. Quando há suspeita, investiga-se por exames de imagem (ultrassonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética). Se confirmada a possibilidade de câncer, avalia-se a disseminação (metástases) por radiografia de tórax, cintilografia óssea (em casos de dor ou alterações específicas) e exames de sangue.

É frequente o trombo tumoral (extensão do tumor para dentro da veia renal ou veia cava), que pode ser identificado com tomografia ou ressonância.


6. ESTADIAMENTO E GRAU DO TUMOR

O estadiamento (AJCC) baseia-se em:

  • T: extensão do tumor primário no rim
  • N: comprometimento dos linfonodos próximos (regionais)
  • M: presença ou ausência de metástases

Classificação resumida

  • Estágio I: Tumor confinado ao rim, até 7 cm, sem linfonodos ou metástases.
  • Estágio II: Tumor confinado ao rim, maior que 7 cm, sem linfonodos ou metástases.
  • Estágio III: Tumor de qualquer tamanho que invade linfonodos regionais ou apresenta trombos tumorais, porém sem metástase em órgãos.
  • Estágio IV: Tumor que ultrapassa os limites do rim, envolvendo órgãos adjacentes ou com metástases à distância.

O grau do tumor (1 a 3) avalia, ao microscópio, o quão agressivas parecem as células. Quanto maior o grau, pior o prognóstico.


7. TRATAMENTOS PARA TUMORES LOCALIZADOS

Quando o câncer parece confinado ao rim (tumor “localizado”), há três estratégias principais:

7.1 Cirurgia (padrão-ouro)

  • Nefrectomia radical: remoção de todo o rim (com estruturas internas da fáscia de Gerota).
  • Nefrectomia parcial: retira apenas a parte do rim que contém o tumor, preservando tecido renal saudável. Ideal para prevenir futura insuficiência renal ou necessidade de diálise.
  • Acesso cirúrgico: pode ser aberto (incisão maior) ou por videolaparoscopia (pequenas incisões).

Na nefrectomia aberta, a incisão pode variar de 7,5 a 20 cm, às vezes removendo uma costela. Já na nefrectomia videolaparoscópica, é utilizada uma câmera e instrumentos introduzidos por pequenas aberturas, resultando em menos dor e recuperação mais rápida.

A nefrectomia parcial pode ser tecnicamente mais complexa, mas preserva ao máximo a função renal — recomendada sobretudo para tumores menores ou quando o paciente possui risco aumentado de insuficiência renal.

7.2 Ablação tumoral

Destrói o tumor sem removê-lo cirurgicamente (crioablação, radioablação, micro-ondas, laser), podendo ser via aberta, laparoscópica ou percutânea. Oferece menos dados de longo prazo em relação à cirurgia, mas é opção para pacientes de maior risco cirúrgico.

7.3 Embolização

Não é prática rotineira. Serve para interromper o fluxo sanguíneo do tumor (injeção de partículas pelas artérias do rim), reduzindo sangramento. Pode ser paliativa em casos onde a cirurgia não é viável.


8. TUMORES COM INVASÃO DA VEIA RENAL OU VEIA CAVA

Nesses casos, recomenda-se cirurgia aberta, pois é preciso remover o trombo tumoral dentro dos vasos. Trata-se de um procedimento extenso, que demanda experiência e, algumas vezes, pode ser precedido por embolização.


9. TRATAMENTOS PARA TUMORES COM METÁSTASE

Quando o câncer já se espalhou para outros órgãos, as opções incluem:

  • Nefrectomia (aberta ou laparoscópica), seguida de:
    • Imunoterapia (p. ex., interleucina-2, interferon) para estimular o sistema imune contra o câncer. Resposta completa ocorre em 5-7% dos casos.
    • Terapias-alvo: bloqueiam o fator de crescimento de vasos (VEGF) ou a proteína mTOR, reduzindo a nutrição do tumor e retardando sua evolução (sorafenib, sunitinib, pazopanib, bevacizumab, temsirolimus, everolimus).
  • Radioterapia: usada apenas para controle de sintomas, especialmente em metástases ósseas.
  • Observação clínica: em casos específicos em que o tratamento sistêmico é arriscado ou a expectativa de vida é muito baixa.

10. PÓS-TRATAMENTO E ACOMPANHAMENTO

Após o tratamento, o seguimento deve ser vitalício, com consultas, exames laboratoriais e radiológicos regulares para avaliar possíveis recorrências ou metástases.

10.1 Função renal

A retirada ou destruição de parte do rim raramente exige diálise, pois o tecido remanescente geralmente é suficiente para as funções básicas. No entanto, se restar menos que um rim inteiro, existe risco de insuficiência renal no futuro. Por isso, pressão arterial, níveis de proteína na urina e testes de função renal devem ser monitorados periodicamente.

10.2 Prognóstico

Os fatores que mais impactam as chances de cura são o estágio e o grau do tumor. Quanto mais localizados e de grau mais baixo, maiores as chances de sucesso.


11. PERGUNTAS FREQUENTES

11.1 É necessária biópsia do tumor?

Não é rotina realizar biópsia em tumores renais, pois mais de 80% dos nódulos sólidos no rim são malignos e há risco de resultados falso-negativos (quando a biópsia não detecta o câncer efetivo). Em alguns casos específicos, pode-se indicar biópsia para excluir outras causas (inflamação, infecção ou metástase de outro órgão).

11.2 É preciso retirar linfonodos?

A remoção de linfonodos (linfadenectomia) nem sempre é necessária. Em tumores localizados, sem evidência de linfonodos aumentados, a linfadenectomia rotineira não mostrou prolongar a sobrevida. Entretanto, se houver linfonodos volumosos e metástases, a linfadenectomia pode beneficiar.

11.3 Devo remover a glândula adrenal?

Não é obrigatório remover a adrenal em todos os casos. Se o tumor estiver distante do polo superior do rim e a adrenal estiver normal, pode-se poupá-la. Caso a adrenal apresente sinais de invasão tumoral ou o tumor envolva a parte superior do rim, a remoção pode ser indicada.

11.4 Preciso de tratamento complementar?

Quando o tumor é benigno, geralmente não. Se for maligno e limitado ao rim, na maioria das vezes apenas a cirurgia basta. Casos avançados, com invasão além do rim ou metástases, podem exigir imunoterapia ou terapias-alvo após avaliação oncológica.

11.5 Posso viver normalmente com um rim só?

Sim, na maior parte dos casos. Mesmo se houver leve insuficiência renal, não costuma haver impacto severo na vida cotidiana. Apenas é recomendado evitar esportes de contato e uso frequente de medicamentos que possam prejudicar o rim (p. ex. anti-inflamatórios não esteroidais), monitorar a pressão arterial e controlar doenças crônicas, como hipertensão e diabetes.

11.6 Posso prevenir a recorrência?

Não há medidas específicas para garantir que o câncer não retorne, mas parar de fumar, manter hábitos saudáveis, controlar doenças associadas e fazer acompanhamento regular são fundamentais.



O câncer de rim pode ser curado em boa parte dos casos quando diagnosticado em estágios iniciais. Opções como cirurgia (nefrectomia radical ou parcial), ablação e imunoterapia, bem como terapias-alvo, contribuem para aumentar as taxas de sobrevida e melhorar a qualidade de vida dos pacientes. O diálogo constante com a equipe médica, a detecção precoce e o acompanhamento pós-tratamento são passos cruciais para o sucesso terapêutico. Ver Exame físico em pacientes com alterações renais: Avaliação e monitoramento.

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