A história da Central de Material Esterilizado (CME)

A história da Central de Material Esterilizado (CME)

Atualizado em 13/05/2023 às 06:34

O surgimento da Central de Material Esterilizado (CME), está diretamente relacionada à evolução da esterilização e à compreensão da importância da prevenção de infecções no ambiente hospitalar. A seguir, apresentamos uma breve história da CME, destacando os principais eventos e avanços que moldaram sua evolução:

Descoberta dos microrganismos (século XVII)

O cientista holandês Antonie Van Leeuwenhoek, considerado o pai da microbiologia, foi o primeiro a observar e descrever microrganismos usando um microscópio rudimentar. Essa descoberta lançou as bases para a compreensão de que microrganismos poderiam ser responsáveis por infecções e doenças.

A descoberta dos microrganismos é atribuída ao cientista holandês Antonie Van Leeuwenhoek no século XVII.

Van Leeuwenhoek foi o primeiro a observar e descrever microrganismos, que ele chamou de “animalcules”, usando microscópios simples de lente única que ele mesmo fabricou. Esta foi uma descoberta revolucionária que abriu caminho para a microbiologia moderna.

Van Leeuwenhoek nasceu em 1632 em Delft, Holanda. Ele não tinha formação formal em ciência, mas era um habilidoso fabricante de lentes e tinha um grande interesse em microscopia. Ao aperfeiçoar suas habilidades na criação de lentes, Van Leeuwenhoek conseguiu produzir microscópios com um poder de ampliação muito maior do que os disponíveis na época.

Em 1674, Van Leeuwenhoek observou pela primeira vez organismos unicelulares em uma gota de água, que ele descreveu como “pequenos animais” ou “animalcules”. Ele também foi o primeiro a observar bactérias, espermatozoides e glóbulos vermelhos.

As descobertas de Van Leeuwenhoek foram inicialmente recebidas com ceticismo pela Royal Society de Londres, até que em 1677, após vários anos de correspondência e após a verificação de suas observações por outros cientistas, seu trabalho foi finalmente reconhecido.

A descoberta de microrganismos por Antonie Van Leeuwenhoek, foi um momento crucial na história da ciência. Foi a primeira vez que se teve consciência da existência de organismos vivos que eram muito pequenos para serem vistos a olho nu. Isto levou ao desenvolvimento da teoria microbiana da doença no século XIX, que estabeleceu que muitas doenças são causadas por microrganismos, uma descoberta que tem tido implicações profundas para a medicina até os dias atuais.

Teoria dos germes e avanços na esterilização (século XIX)

A teoria dos germes, proposta por Louis Pasteur e Robert Koch, estabeleceu que microrganismos específicos eram a causa de doenças específicas. Com essa compreensão, iniciaram-se esforços para desenvolver métodos de esterilização.

Durante esse período, o cirurgião britânico Joseph Lister desenvolveu a técnica de assepsia, usando soluções antissépticas, e o cientista francês Charles Chamberland inventou a autoclave a vapor, um avanço significativo na esterilização de materiais.

Teoria fundamental na biologia e na medicina

A teoria dos germes da doença é uma teoria fundamental na biologia e na medicina que propõe que muitas doenças são causadas por microrganismos. Foi desenvolvida no século XIX por vários cientistas europeus, mais notavelmente Louis Pasteur na França e Robert Koch, na Alemanha.

  1. Louis Pasteur: Pasteur foi um químico e microbiologista francês que fez várias descobertas importantes relacionadas aos germes. Ele desenvolveu o processo de pasteurização para matar microrganismos em alimentos e bebidas. Pasteur também realizou experimentos que refutaram a teoria da geração espontânea, demonstrando que microrganismos provêm de outros microrganismos, e não surgem espontaneamente.
  2. Robert Koch: Koch foi um médico e microbiologista alemão que também fez contribuições importantes para a teoria dos germes. Ele desenvolveu uma série de postulados que poderiam ser usados para determinar se um microrganismo específico estava causando uma doença específica. Esses postulados de Koch ainda são usados na microbiologia moderna.

A teoria dos germes teve implicações profundas para a medicina e a saúde pública. Ela levou ao desenvolvimento de vacinas e antibióticos, e também enfatizou a importância da higiene e da esterilização.

No final do século XIX, foram feitos avanços significativos na esterilização.

Uma figura chave nesse progresso foi o cirurgião britânico Joseph Lister, que introduziu o uso do fenol (também conhecido como ácido carbólico) como desinfetante durante a cirurgia, o que reduziu drasticamente as taxas de infecção pós-operatória. Essa prática, conhecida como antissepsia, foi um precursor direto da esterilização moderna.

Além disso, os métodos de esterilização a vapor começaram a ser desenvolvidos e aprimorados. Em particular, o autoclave, um dispositivo que usa vapor sob pressão para esterilizar instrumentos e outros itens, foi inventado e refinado durante esse período.

Portanto, a teoria dos germes e os avanços na esterilização no século XIX foram fundamentais para o desenvolvimento da medicina moderna, incluindo a criação de Centrais de Material Esterilizado em hospitais.

Surgimento das primeiras CMEs (início do século XX)

A Central de Material Esterilizado (CME), é uma unidade de um hospital ou clínica responsável pela limpeza, desinfecção, esterilização e distribuição de todos os instrumentos médicos e cirúrgicos. As primeiras CMEs surgiram no início do século XX, como resultado direto dos avanços na compreensão da teoria dos germes e da importância da esterilização para a prevenção de infecções.

Durante o século XIX e o início do século XX, a compreensão de que microrganismos poderiam causar infecções levou à implementação de práticas de limpeza e esterilização mais rigorosas nos hospitais. No entanto, essas tarefas eram muitas vezes realizadas por enfermeiras em cada departamento individualmente, sem padronização ou controle centralizado.

Com o tempo, tornou-se claro que era necessário um departamento especializado para garantir que todos os instrumentos fossem devidamente limpos e esterilizados. Isso levou à criação das primeiras CMEs. Essas unidades tinham como objetivo centralizar e padronizar o processo de limpeza e esterilização, garantindo que todos os instrumentos usados nos hospitais estivessem livres de microrganismos potencialmente perigosos.

As primeiras CMEs eram muitas vezes áreas pequenas e mal equipadas, mas mesmo assim desempenharam um papel crucial na melhoria da segurança do paciente. Com o tempo, à medida que a importância da esterilização se tornava cada vez mais reconhecida, as CMEs começaram a se expandir e a se tornar mais sofisticadas, incorporando novas tecnologias e práticas à medida que eram desenvolvidas.

Hoje, as CMEs são uma parte essencial de qualquer hospital ou clínica, responsáveis por garantir que todos os instrumentos médicos e cirúrgicos sejam adequadamente limpos e esterilizados. Elas desempenham um papel crucial na prevenção de infecções e na garantia da segurança do paciente.

Desenvolvimento de normas e regulamentações (meados do século XX)

No Brasil, o desenvolvimento de normas e regulamentações para as Centrais de Material Esterilizado (CMEs) ocorreu em paralelo com os esforços internacionais, a partir do meio do século XX. À medida que a importância da esterilização se tornava cada vez mais reconhecida, tanto pelo avanço na compreensão da teoria dos germes quanto pelos estudos de controle de infecção, o Brasil começou a estabelecer normas e regulamentações para garantir a segurança dos procedimentos realizados em hospitais e clínicas.

  1. Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA): A ANVISA, agência reguladora vinculada ao Ministério da Saúde, desempenha um papel crucial na criação e implementação de normas e regulamentações para CMEs no Brasil. Em 2006, a ANVISA publicou a RDC nº 15, que estabelece requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde, definindo diretrizes rigorosas para as atividades realizadas nas CMEs. Essa resolução é um marco regulatório que estabelece critérios para a promoção, prevenção e recuperação da saúde, além de minimizar os riscos associados aos procedimentos de esterilização.
  2. Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): A ABNT também tem contribuído para a definição de normas técnicas para a esterilização de materiais. Através de suas comissões, a ABNT trabalha para desenvolver normas que são reconhecidas e adotadas em âmbito nacional.
  3. Conselhos Profissionais: Os conselhos profissionais, como o Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), também têm desempenhado um papel importante na regulamentação das práticas das CMEs. Esses conselhos estabelecem diretrizes para a formação e atuação dos profissionais que trabalham nas CMEs.
  4. Acreditação hospitalar: Além disso, as organizações de acreditação hospitalar, como a Organização Nacional de Acreditação (ONA), estabelecem padrões de qualidade e segurança que muitas vezes incluem requisitos específicos para as CMEs.

Estas normas e regulamentações ajudaram a padronizar práticas em CMEs em todo o Brasil, garantindo que todos os instrumentos médicos e cirúrgicos sejam adequadamente limpos e esterilizados, independentemente do hospital ou clínica em que estão sendo usados. Elas são fundamentais para garantir a segurança do paciente e a qualidade dos serviços de saúde prestados no país.

Evolução das técnicas e equipamentos de esterilização (final do século XX e início do século XXI)

Nas últimas décadas, houve um rápido avanço nas técnicas e equipamentos de esterilização. Além da autoclave a vapor, outros métodos como esterilização por óxido de etileno, peróxido de hidrogênio gasoso e radiação gama foram desenvolvidos.

Os indicadores biológicos e químicos para monitoramento da eficácia da esterilização se tornaram mais sofisticados e precisos.

Avanços significativos nas técnicas e equipamentos de esterilização

  1. Esterilização por óxido de etileno: No século XX, o óxido de etileno tornou-se amplamente usado para a esterilização de dispositivos médicos. Este gás é extremamente eficaz na eliminação de microrganismos, incluindo bactérias, vírus e esporos, e pode ser usado em itens que são sensíveis ao calor e à umidade, como dispositivos eletrônicos e plásticos.
  2. Esterilização por radiação gama: A radiação gama também começou a ser usada para esterilização no século XX. Este método é particularmente útil para a esterilização de grandes quantidades de dispositivos médicos descartáveis, como seringas e cateteres, e é eficaz na eliminação de todos os microrganismos.
  3. Autoclaves de alta pressão: Autoclaves, que usam vapor sob alta pressão para esterilizar, foram aprimoradas ao longo do tempo para serem mais eficazes e eficientes. As modernas autoclaves podem monitorar e controlar precisamente a temperatura e a pressão durante o processo de esterilização.
  4. Esterilização de baixa temperatura: No início do século XXI, surgiram novas técnicas de esterilização de baixa temperatura, como o plasma de peróxido de hidrogênio e a esterilização por ácido peracético. Estes métodos são úteis para esterilizar dispositivos sensíveis ao calor e podem ser mais rápidos do que os métodos tradicionais.
  5. Rastreabilidade e automação: A tecnologia também permitiu melhor rastreabilidade e automação em CMEs. Por exemplo, os sistemas de código de barras e de rastreamento por radiofrequência (RFID) podem ser usados para rastrear instrumentos individuais durante todo o processo de esterilização. Além disso, muitas tarefas de rotina em uma CME, como a limpeza e a embalagem de instrumentos, podem agora ser automatizadas, aumentando a eficiência e reduzindo o potencial de erro humano.

Esses avanços têm permitido uma esterilização mais eficaz e segura, contribuindo para a segurança do paciente e a prevenção de infecções. No entanto, é importante notar que a eficácia dessas técnicas depende de sua correta implementação, e da adesão rigorosa às diretrizes e normas de esterilização.

CME como unidade especializada e integrada no ambiente hospitalar (século XXI)

No século XXI, a Central de Material e Esterilizado (CME) tem sido reconhecida como uma unidade especializada e crucial no ambiente hospitalar. A CME é responsável pela limpeza, desinfecção, esterilização e distribuição de todos os instrumentos médicos e cirúrgicos usados no hospital. Além disso, tem um papel vital na prevenção de infecções associadas à assistência à saúde.

A CME tem se tornado cada vez mais integrada no ambiente hospitalar de várias maneiras:

  1. Colaboração com outros departamentos: A CME trabalha em estreita colaboração com outros departamentos do hospital, como cirurgia, enfermagem, e controle de infecções, para garantir que todas as necessidades de esterilização sejam atendidas de forma eficaz e eficiente.
  2. Participação na gestão de qualidade: A CME desempenha um papel vital nos esforços de gestão da qualidade do hospital. Isso pode incluir a participação em auditorias, o monitoramento e a melhoria contínua dos processos de esterilização, e a implementação de sistemas de rastreamento para garantir a rastreabilidade de todos os instrumentos esterilizados.
  3. Educação e treinamento: A CME também está envolvida na educação e treinamento de outros profissionais de saúde no hospital sobre a importância da esterilização e do controle de infecções. Isso pode incluir a realização de treinamentos e seminários, e o fornecimento de recursos educacionais.
  4. Adoção de tecnologia: A CME tem estado na vanguarda da adoção de novas tecnologias no ambiente hospitalar. Isso inclui o uso de sistemas de rastreamento por radiofrequência (RFID), a automação de processos de esterilização, e a utilização de novos métodos de esterilização de baixa temperatura.

No século XXI, a importância da CME no ambiente hospitalar só tem aumentado. Com os avanços contínuos na tecnologia médica e o foco cada vez maior na prevenção de infecções, é provável que a CME continue a ser uma parte vital do cuidado ao paciente.

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