Última atualização: 22/04/2025
João Pedro veio ao mundo carregando uma rara condição congênita que surpreendeu médicos e a própria família. Logo após o nascimento, os profissionais de saúde notaram que o bebê apresentava uma deformidade significativa: os ombros estavam voltados para baixo e os cotovelos, invertidos para cima. A condição foi identificada como artrogripose múltipla congênita, uma síndrome rara que compromete severamente os movimentos articulares.
A descoberta ocorreu de forma inesperada, no momento do parto, mergulhando os pais em uma realidade desafiadora, mas também marcada por superações e avanços clínicos. Desde então, a trajetória do pequeno João Pedro tem sido acompanhada de perto por equipes especializadas, com apoio contínuo da família e determinação para garantir sua autonomia.
Diagnóstico surpresa e início do tratamento
Carla Penha da Silva, mãe do menino, relembra que não houve qualquer sinal durante a gestação que indicasse a condição do bebê. João Pedro, o caçula de três irmãos, foi diagnosticado apenas após o nascimento, quando os médicos constataram que suas articulações estavam rígidas e encurtadas.
Diante do quadro, o recém-nascido não recebeu alta hospitalar e, com apenas seis dias de vida, foi transferido para o Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), onde iniciou imediatamente um tratamento especializado.
Primeiras tentativas e desafios iniciais
Os primeiros cuidados envolveram a aplicação de talas improvisadas com ataduras e esparadrapos, com o objetivo de alongar os braços do bebê. No entanto, uma reação alérgica ao material obrigou a equipe a suspender o procedimento temporariamente.
Após duas semanas de pausa, o tratamento foi retomado com o uso de órteses específicas, desenvolvidas sob medida para João Pedro.
Avanços com uso de órteses e equipe multidisciplinar
Menos de um mês depois do nascimento, João Pedro passou a utilizar uma órtese estática nos cotovelos, região mais comprometida pela rigidez. O dispositivo foi cuidadosamente ajustado para ser usado por cima das roupas, evitando assim contato direto com a pele sensível do bebê.
Ao longo dos meses, outras órteses foram introduzidas, como as que alinham os punhos e facilitam o movimento dos dedos, fundamentais para atividades cotidianas, como segurar objetos.
A terapeuta ocupacional Maria da Conceição Soares, que acompanha o menino desde os primeiros dias, destaca que o tratamento é continuamente adaptado. Como se trata de uma condição rara e sem precedentes semelhantes no histórico do hospital, as estratégias terapêuticas têm sido personalizadas, sempre com a participação ativa da família.
Importância do apoio familiar e expectativa futura
Maria da Conceição ressalta o papel essencial dos pais no processo terapêutico. Além das sessões semanais com fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, parte do tratamento depende dos exercícios realizados em casa, sob orientação profissional. A cooperação familiar, segundo ela, é determinante para o progresso do paciente.
Atualmente, João Pedro já consegue realizar atividades como pegar brinquedos, alimentar-se sozinho e interagir com o ambiente. Embora o tratamento deva se estender até a adolescência, fase de desenvolvimento esquelético, a expectativa da equipe médica é de que o menino alcance maior funcionalidade dos membros superiores ao longo dos anos.
Compreendendo a artrogripose múltipla congênita
A artrogripose múltipla congênita é uma condição rara que afeta cerca de um a cada três mil nascimentos. Caracteriza-se pela rigidez das articulações e deformidades musculoesqueléticas que limitam os movimentos dos membros, podendo atingir braços, pernas, cotovelos, mãos, joelhos e pés.
Suas causas estão associadas à falta de movimento fetal no útero, o que pode ser resultado de fatores genéticos, baixa quantidade de líquido amniótico ou doenças maternas como a esclerose múltipla.
Segundo a ortopedista pediátrica Hanna Emile, o tratamento deve ser iniciado precocemente e pode incluir órteses, fisioterapia e, em casos específicos, procedimentos cirúrgicos. Ela também reforça a necessidade de suporte psicológico desde os primeiros dias de vida, tanto para o paciente quanto para a família, diante da complexidade do processo terapêutico.
Superação e inspiração
A jornada de João Pedro é marcada por força, amor e persistência. Cada pequena conquista é celebrada como uma vitória — como o simples ato de levar um copo à boca, que emocionou profundamente a mãe. O caso do menino não apenas inspirou os profissionais que o atendem, mas também ampliou o conhecimento da equipe médica sobre uma condição rara e desafiadora.
O futuro ainda exigirá cuidados e adaptações, mas João Pedro já representa um exemplo de superação diante das adversidades da vida. Veja também Jovem morre após extração de siso e caso acende alerta para os riscos do procedimento odontológico.