Crise na Saúde: Falta de médicos compromete atendimento e sobrecarrega hospitais na Zona da Mata

Última atualização: 20/02/2025

A carência de médicos especialistas está impactando gravemente o atendimento em hospitais da Zona da Mata mineira, deixando pacientes sem assistência adequada e sobrecarregando unidades de saúde da região. Nos últimos meses, os hospitais Casa de Caridade Leopoldinense, em Leopoldina, e Hospital São Salvador, em Além Paraíba, têm enfrentado uma crise sem precedentes devido à escassez de anestesistas e outros especialistas essenciais. Essa situação vem se agravando desde o fim do ano passado, quando investigações levaram à prisão de médicos e à demissão de diversos profissionais, reduzindo ainda mais o corpo clínico disponível.

Como consequência, muitos pacientes precisam ser transferidos para unidades em outras cidades, como Cataguases, que agora absorve a maior parte da demanda da região, causando um efeito cascata na rede de atendimento.

Hospitais em colapso

Desde outubro, a Casa de Caridade Leopoldinense já enfrentava dificuldades para manter um quadro completo de profissionais, especialmente obstetras. A situação piorou drasticamente após uma operação do Ministério Público, que revelou irregularidades envolvendo escalas médicas. Quatro médicos foram presos sob acusação de estarem cadastrados em plantões simultâneos em cidades diferentes, atendendo em outros hospitais enquanto deveriam prestar assistência na unidade de Leopoldina. Com isso, o hospital ficou sem anestesistas, comprometendo gravemente a realização de cirurgias e partos.

Casos de pacientes que não conseguiram atendimento adequado

vêm se acumulando. A faxineira Flaviane Cristina Silva, por exemplo, precisou ser transferida para Cataguases no momento do parto, pois não havia obstetra ou anestesista de plantão em Leopoldina. Já uma gestante de 32 anos, atendida na Casa de Caridade no início de fevereiro, foi encaminhada para o Hospital João Penido, em Juiz de Fora, onde faleceu devido à gravidade do seu estado de saúde. O interventor do hospital confirmou que, na data do atendimento, não havia anestesista disponível.

No Hospital São Salvador, em Além Paraíba, o cenário também é crítico. A unidade está sob intervenção desde 2022, após denúncias de desvio de recursos públicos e de funcionários que batiam ponto sem prestar atendimento. Com um número reduzido de profissionais, os casos de urgência estão sendo transferidos para outras cidades, agravando o problema da superlotação.

Efeito dominó: cataguases absorve a demanda

Com a crise em Leopoldina e Além Paraíba, a Santa Casa de Misericórdia de Cataguases se tornou o principal destino para pacientes que precisam de cirurgias e partos na região. A unidade, que já passou por dificuldades recentes de gestão e falta de profissionais, conseguiu recompor seu quadro clínico, mas agora enfrenta um volume de atendimentos muito acima da sua capacidade. Grazielle de Almeida Vecchia, interventora da Santa Casa, destacou que a instituição está assumindo praticamente toda a demanda de urgência e emergência de Leopoldina e Além Paraíba, o que gera risco de esgotamento dos recursos e da equipe médica.

Mesmo com prazos estabelecidos pelo Ministério Público para que as prefeituras solucionassem a falta de profissionais, o problema persiste. O promotor Rodrigo Barros afirmou que os municípios tiveram até 15 de fevereiro para resolver a escassez de médicos, mas não cumpriram as determinações.

Irregularidades e investigações

Além da falta de médicos, denúncias de manipulação de escalas médicas e desvios de recursos públicos têm sido alvos de investigações na região. Relatórios da Promotoria de Saúde de Leopoldina e do Ministério Público apontam que, desde 2020, vêm sendo apuradas práticas ilegais como plantões simultâneos, cirurgias agendadas nos dias em que médicos deveriam estar em sobreaviso para emergências e falsificação de documentos médicos.

No Hospital São Salvador, a Vigilância Sanitária identificou quase 200 irregularidades que comprometem a segurança dos pacientes, especialmente no setor de terapia intensiva e no centro cirúrgico. Entre os problemas apontados estão a falta de materiais essenciais e condições inadequadas para a realização de procedimentos de alta complexidade.

Respostas das autoridades

Diante das denúncias, a Prefeitura de Além Paraíba garantiu que os serviços de pronto atendimento seguem operando e que os casos mais graves estão sendo encaminhados via SAMU para outros hospitais. Um plano de ação está sendo elaborado em parceria com a Secretaria Estadual de Saúde para reverter a situação.

Já a Casa de Caridade Leopoldinense lamentou o falecimento da paciente transferida para Juiz de Fora e reforçou que todas as medidas médicas foram tomadas dentro dos protocolos estabelecidos. A instituição reconhece o desafio de atrair novos profissionais para a unidade, mas afirmou estar em contato com médicos para tentar estabilizar o atendimento até março.

Enquanto isso, os pacientes seguem enfrentando incertezas e dificuldades para conseguir atendimento médico adequado na Zona da Mata. Com hospitais em crise, investigações em curso e sem soluções definitivas à vista, a população permanece vulnerável a um sistema de saúde que não consegue atender às suas necessidades básicas. Veja também Greve de terceirizados no Hospital do Andaraí expõe crise na saúde pública do Rio de Janeiro.

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