Insônia infantil: como lidar com a dificuldade de dormir das crianças

Última atualização: 01/02/2025

A insônia infantil tem se tornado uma preocupação crescente entre pais e profissionais da saúde. Embora problemas específicos do sono, como apneia obstrutiva e síndrome das pernas inquietas, sejam menos comuns em crianças, a dificuldade para adormecer, manter-se dormindo e despertares precoces são cada vez mais frequentes. Esse fenômeno pode impactar não apenas o bem-estar da criança, mas também o equilíbrio emocional e a rotina familiar.

Estudos internacionais apontam que entre 15% e 30% das crianças pequenas (de 3 a 5 anos) apresentam insônia, enquanto essa taxa varia de 11% a 15% na idade escolar (6 a 12 anos) e chega a 30% na adolescência. No Brasil, ainda não há dados oficiais sobre o problema, mas especialistas indicam que o número pode ser semelhante ao registrado em países europeus e nos Estados Unidos.

Impactos da falta de sono na saúde infantil

Uma noite mal dormida não se resume apenas ao cansaço diurno. Estudos indicam que dormir de 30 a 60 minutos a menos por noite pode comprometer significativamente o desempenho cognitivo e emocional das crianças. A insônia infantil está associada a dificuldades de concentração, alterações de humor, aumento do estresse e até prejuízos no desenvolvimento acadêmico.

Além disso, hábitos inadequados como o excesso de exposição às telas antes de dormir, uma alimentação desregrada e problemas como a obesidade podem agravar ainda mais o quadro. O sono insuficiente também pode afetar o comportamento e aumentar a irritabilidade, impactando a qualidade de vida da criança e de toda a família.

Como ajudar a criança a dormir melhor?

A principal abordagem para tratar a insônia infantil envolve mudanças no comportamento e no ambiente de sono. A neurologista pediátrica Leticia Soster, do Hospital Israelita Albert Einstein, ressalta que a maioria dos casos de insônia infantil tem origem comportamental e pode ser revertida com hábitos adequados.

Não basta apenas criar uma rotina noturna. É essencial modificar padrões comportamentais, pois muitas crianças resistem ao sono com estratégias como pedir água, ir ao banheiro ou solicitar mais tempo para atividades lúdicas. Quando os pais cedem a esses pedidos repetidamente, isso reforça o hábito de estender o horário de dormir“, explica a especialista.

Estratégias para melhorar a higiene do sono

Algumas medidas simples podem fazer toda a diferença na qualidade do sono infantil:

  1. Estabeleça um horário fixo para dormir e acordar – A regularidade ajuda o organismo da criança a reconhecer quando é hora de dormir.
  2. Evite telas antes de dormir – O uso de celulares, tablets e televisão pode inibir a produção de melatonina, o hormônio do sono.
  3. Crie um ambiente tranquilo – O quarto deve estar escuro, silencioso e com temperatura agradável para induzir o relaxamento.
  4. Evite refeições pesadas à noite – Alimentos muito gordurosos ou açucarados podem dificultar o adormecimento.
  5. Implemente um ritual noturno – Atividades como ler um livro, tomar um banho morno ou ouvir música relaxante podem ajudar a preparar o corpo para o descanso.

Para casos mais persistentes, a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) tem se mostrado uma abordagem eficaz, ajudando a criança e os pais a entenderem e modificarem os padrões inadequados que dificultam o sono.

O uso de melatonina é seguro para crianças?

Nos últimos anos, a melatonina tem sido amplamente discutida como uma solução para os distúrbios do sono. No entanto, seu uso em crianças saudáveis ainda gera controvérsia. Diretrizes europeias atualizadas recentemente recomendam a suplementação apenas em casos específicos e por períodos limitados, sempre com acompanhamento médico.

A insônia infantil, na maioria dos casos, não é causada por deficiência de melatonina, mas sim por hábitos inadequados. O risco de introduzir esse suplemento sem necessidade é que os pais podem enxergar isso como um atalho, deixando de adotar as mudanças comportamentais necessárias“, alerta a neurologista Leticia Soster.

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a comercialização da melatonina como suplemento somente para adultos acima de 19 anos, com dosagem máxima de 0,21 mg por dia. Para crianças com transtornos do neurodesenvolvimento, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), o suplemento pode ser uma alternativa auxiliar, desde que com prescrição médica.

A insônia como desafio

A insônia infantil é um desafio para muitas famílias, mas pode ser tratada de maneira eficaz com a adoção de boas práticas de higiene do sono e mudanças comportamentais. A introdução de rotinas estruturadas e um ambiente adequado ao descanso são os primeiros passos para garantir noites mais tranquilas. Em casos mais complexos, a orientação de especialistas e o acompanhamento psicológico podem ser fundamentais.

Embora a melatonina seja uma opção para algumas condições específicas, o foco deve ser sempre a educação do sono e a conscientização dos pais sobre a importância de hábitos saudáveis para o descanso adequado das crianças. Afinal, um sono de qualidade é essencial para o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional dos pequenos. Veja também Aumento dos casos de ansiedade entre crianças e adolescentes preocupa especialistas.

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