Última atualização: 30/12/2024
O exame físico em pacientes com alterações neurológicas é essencial para identificar déficits funcionais, localizar lesões no sistema nervoso e orientar diagnósticos. A avaliação deve ser abrangente, incluindo testes específicos para o estado mental, nervos cranianos, força muscular, coordenação, reflexos e sensibilidade. Em pacientes com condições agudas, como acidente vascular cerebral (AVC) ou traumatismo cranioencefálico (TCE), a rapidez e precisão do exame são cruciais para orientar intervenções imediatas. O domínio dessas técnicas é essencial para profissionais de enfermagem e saúde que atuam em contextos clínicos e críticos.
Ver também: O que é o exame físico na enfermagem e por que ele é essencial?
Objetivos do exame físico neurológico
- Identificar alterações no sistema nervoso central e periférico.
- Localizar a área afetada (cérebro, tronco encefálico, medula espinhal ou nervos periféricos).
- Monitorar a evolução de doenças neurológicas crônicas ou agudas.
- Auxiliar no planejamento de intervenções terapêuticas e de reabilitação.
Componentes do exame físico neurológico
- Avaliação do estado mental:
- Consciência: Avalie o nível de alerta usando escalas como a Escala de Coma de Glasgow (ECG).
- Orientação: Teste a orientação temporal, espacial e pessoal (perguntas como “Onde estamos?”, “Que dia é hoje?”).
- Memória: Avalie memória imediata, recente e remota com perguntas apropriadas.
- Linguagem: Observe a clareza da fala, presença de afasia ou disartria.
- Avaliação dos nervos cranianos (I a XII):
- I – Olfatório: Teste a percepção de odores familiares.
- II – Óptico: Avalie a acuidade visual, campos visuais e reflexo pupilar à luz.
- III, IV, VI – Oculomotor, Troclear e Abducente: Teste movimentos oculares e resposta pupilar.
- V – Trigêmeo: Avalie sensibilidade facial e força mastigatória.
- VII – Facial: Teste expressões faciais e simetria.
- VIII – Vestibulococlear: Avalie audição e equilíbrio.
- IX, X – Glossofaríngeo e Vago: Teste reflexo de vômito e elevação do palato ao falar “ah”.
- XI – Acessório: Avalie a força nos músculos trapézio e esternocleidomastoideo.
- XII – Hipoglosso: Peça ao paciente para mover a língua e observe desvios.
- Força muscular:
- Teste a força em grupos musculares específicos, usando a Escala de Oxford (0-5).
- Compare lados direito e esquerdo para identificar assimetrias.
- Coordenação e equilíbrio:
- Teste dedo-nariz: Avalie a precisão dos movimentos.
- Teste calcanhar-joelho: Verifique coordenação em membros inferiores.
- Marcha: Observe padrões de marcha (ataxia, espasticidade, passos curtos).
- Romberg: Avalie equilíbrio com o paciente em pé, olhos fechados e braços ao lado do corpo.
- Reflexos:
- Teste reflexos profundos (patelar, aquileu, bicipital, tricipital).
- Identifique hiperreflexia ou arreflexia, associadas a lesões centrais ou periféricas.
- Avalie reflexos patológicos, como o sinal de Babinski (extensão anormal dos dedos do pé).
- Sensibilidade:
- Avalie sensibilidade superficial (tátil, térmica) e profunda (vibratória, propriocepção).
- Realize testes de discriminação, como identificar dois pontos de toque próximos.
- Avaliação autonômica:
- Monitore sinais como pressão arterial, frequência cardíaca e sudorese. Alterações podem indicar disfunção autonômica.
Achados comuns no exame neurológico e possíveis interpretações
- Alterações motoras:
- Hemiparesia: Sugere lesão contralateral no cérebro, comum em AVC.
- Paraparesia: Indica comprometimento medular (ex.: mielopatia).
- Alterações sensoriais:
- Parestesias localizadas: Podem indicar neuropatia periférica.
- Anestesia em faixa: Sugere lesão medular segmentar.
- Déficits de nervos cranianos:
- Paralisia facial central: Preserva movimento da testa; indica lesão cortical.
- Paralisia facial periférica: Afeta toda a hemiface, como na paralisia de Bell.
- Sinais de hipertensão intracraniana:
- Cefaleia, vômitos em jato, papiledema e bradicardia.
- Marcha atípica:
- Marcha atáxica: Indica lesão cerebelar.
- Marcha espástica: Sugere lesão de trato piramidal.
Exemplo prático de exame físico neurológico
Imagine um paciente com queixa de fraqueza no lado direito do corpo e dificuldade para falar:
- Estado mental: Paciente alerta, mas com fala arrastada (disartria).
- Nervos cranianos: Desvio da língua para a direita (lesão do nervo hipoglosso).
- Força muscular: Fraqueza no braço e perna direita (grau 3 na escala de Oxford).
- Reflexos: Hiperreflexia no lado direito, com sinal de Babinski positivo.
Interpretação: Achados indicam provável lesão no hemisfério esquerdo do cérebro, compatível com AVC.
Cuidados durante o exame neurológico
- Respeitar os limites do paciente: Não force movimentos em casos de dor ou desconforto.
- Documentação precisa: Registre achados de forma clara e detalhada para monitoramento e comunicação com a equipe médica.
- Intervenção imediata: Em casos de alterações agudas, como redução súbita do nível de consciência ou sinais de AVC, acione a equipe de emergência imediatamente.
O exame físico neurológico é uma prática indispensável para identificar alterações funcionais e orientar diagnósticos e intervenções. Realizado de forma sistemática e detalhada, ele contribui para o cuidado integral do paciente, especialmente em situações de emergência. O domínio dessas técnicas é essencial para profissionais de enfermagem e saúde que atuam em contextos clínicos e críticos. Avaliação dos reflexos neurológicos: Técnicas práticas para enfermeiros