Última atualização: 21/05/2025
A administração segura de medicamentos é uma das responsabilidades mais críticas atribuídas aos profissionais de enfermagem. Erros de medicação, infelizmente, ainda são frequentes na rotina hospitalar e representam uma ameaça significativa à segurança do paciente, podendo levar a complicações graves, prolongamento da internação, aumento dos custos hospitalares e até óbitos evitáveis. Este artigo tem como objetivo discutir em profundidade as causas, consequências e estratégias para prevenir os erros de medicação na enfermagem, destacando também os “cinco certos” da administração de medicamentos.
A complexidade dos cuidados e o risco de erros de medicação
Erros fazem parte do processo de aprendizado humano, especialmente em áreas de alta complexidade como a saúde. No ambiente hospitalar, os enfermeiros desempenham papel essencial na execução das prescrições médicas, sendo responsáveis por aproximadamente 40% do tempo dedicado ao cuidado direto dos pacientes. Isso os torna os principais executores da administração de medicamentos e, consequentemente, mais propensos a cometer erros relacionados a essa prática.
Diversos estudos internacionais apontam que os erros de medicação são uma das principais causas de eventos adversos em hospitais. Pesquisas indicam que cerca de um terço das complicações médicas estão associadas ao uso inadequado de medicamentos. Além disso, estima-se que milhares de mortes ocorram anualmente em decorrência de erros evitáveis durante o processo de medicação. Os impactos econômicos também são consideráveis: os custos com complicações por erros de medicação chegam a ultrapassar US$ 77 milhões por ano, sem contar o aumento de permanência hospitalar, que pode ser estendido em até dois dias por evento adverso.
Principais causas dos erros de medicação na enfermagem
Entre os fatores mais recorrentes associados aos erros de medicação na enfermagem, destacam-se:
- Sobrecarga de trabalho e excesso de pacientes por profissional
- Falta de conhecimento farmacológico ou atualização profissional
- Ambiente hospitalar estressante e com distrações frequentes
- Comunicação inadequada entre a equipe multidisciplinar
- Prescrições médicas ilegíveis ou incompletas
- Falta de protocolos claros e sistematizados para a administração de medicamentos
- Falta de cultura institucional para o relato de erros
É importante destacar que, apesar de muitos enfermeiros reconhecerem a importância da notificação de erros como estratégia para melhorar a qualidade do cuidado, o medo de punições e represálias ainda é um grande entrave. Em países em desenvolvimento, a ausência de sistemas informatizados de registro e controle de eventos adversos dificulta ainda mais a mensuração real desses erros.
A importância da prevenção: dominando os “Cinco Certos” da administração de medicamentos
Para promover uma prática segura, é fundamental que o profissional de enfermagem conheça e aplique criteriosamente os Cinco Certos da Administração de Medicamentos:
1. Medicação Certa
Antes de administrar qualquer medicamento, o enfermeiro deve compreender completamente o fármaco em questão. Isso inclui saber suas indicações, efeitos colaterais, contraindicações e possíveis interações medicamentosas. É imprescindível verificar, no mínimo três vezes, se o medicamento em mãos é o mesmo prescrito.
2. Paciente Certo
A identificação correta do paciente é uma das etapas mais cruciais. Para isso, é necessário utilizar pelo menos dois identificadores — geralmente o nome completo e a data de nascimento. Em pacientes conscientes, o ideal é confirmar verbalmente essas informações. Em casos de pacientes inconscientes ou com dificuldade de comunicação, deve-se conferir a pulseira de identificação e os registros eletrônicos.
3. Dose Certa
O cálculo exato da dose é fundamental, especialmente quando se trata de medicamentos com alta toxicidade ou concentrações variáveis. A dose prescrita deve ser conferida minuciosamente, considerando o peso, idade e estado clínico do paciente. Caso haja qualquer dúvida, o enfermeiro deve consultar um farmacêutico ou outro membro da equipe.
4. Hora Certa
Cada medicação possui um horário específico de administração que precisa ser respeitado para garantir eficácia e evitar toxicidade. A administração fora do intervalo terapêutico pode comprometer o tratamento e colocar o paciente em risco. Medicamentos “PRN” (quando necessário) exigem atenção especial para evitar superdosagens.
5. Via Certa
A via de administração (oral, intravenosa, intramuscular, subcutânea, tópica, entre outras) deve ser rigorosamente observada. Um erro de via pode causar efeitos adversos graves ou até fatais. O enfermeiro deve ler atentamente a prescrição e, se necessário, buscar esclarecimentos antes de proceder.
A atualização constante como ferramenta de segurança
Com o avanço contínuo da farmacologia e a introdução de novos medicamentos no mercado, torna-se imprescindível que os profissionais de enfermagem participem regularmente de treinamentos e programas de educação continuada. Essa atualização contribui não apenas para o domínio técnico das práticas seguras, mas também para a construção de uma cultura de segurança que valoriza o aprendizado com os erros, sem punição.
O papel da cultura institucional e da liderança de enfermagem
Instituições de saúde que investem em protocolos claros, sistemas de verificação eletrônica (como a leitura de códigos de barras) e incentivo à comunicação aberta tendem a apresentar menores taxas de erros de medicação. A liderança de enfermagem, por sua vez, desempenha papel central ao estimular a equipe a seguir práticas baseadas em evidências e ao garantir que o ambiente de trabalho seja propício ao cuidado seguro e ético.
Conclusão: compromisso com a segurança do paciente
A prevenção de erros de medicação é uma responsabilidade compartilhada, mas que recai fortemente sobre os ombros dos profissionais de enfermagem. O compromisso com a segurança do paciente exige vigilância constante, conhecimento técnico atualizado, aplicação rigorosa dos cinco certos e uma postura ética e responsável diante dos desafios da prática clínica. Encorajar o relato de incidentes, promover a cultura de aprendizagem e investir em tecnologia e capacitação são estratégias indispensáveis para reduzir os erros e garantir um cuidado mais seguro e eficiente. Ver A vestimenta do Profissional de Enfermagem: História e Evolução.
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