Mortalidade materna retorna aos níveis inaceitáveis de 1998

Mortalidade materna retorna aos níveis inaceitáveis de 1998

Segundo informações divulgadas pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), nesta sexta (14/4), a razão de mortalidade materna no Brasil se equipara à de 25 anos atrás. Investir em enfermeiro obstetra, é uma decisão que salva milhões de vidas e reduzir a mortalidade materna.

Cofen divulgou que as informações iniciais do Ministério da Saúde, examinadas pelo Observatório Obstétrico Brasileiro, mostram que as mortes de gestantes em 2021 praticamente duplicaram em comparação a 2019, antes da pandemia.

Dados epidemiológicos

Os dados epidemiológicos divulgados mostram que: ”Em 2021, a taxa de mortalidade materna no Brasil retornou aos patamares inadmissíveis de 25 anos antes”, adverte a líder do Observatório Obstétrico Brasileiro (OOBr), Agatha Rodrigues.

As informações coletadas pelo Observatório, utilizando dados públicos e iniciais do Ministério da Saúde, são expressivas. Em 2021, ocorreram 110 óbitos de mulheres para cada 100 mil nascimentos vivos – o mesmo índice registrado em 1998.

O índice de mortalidade materna (IMM) – um dos principais indicadores globais de saúde – representa o total de óbitos de indivíduos relacionados à gravidez, ao parto e ao puerpério (até 42 dias após o nascimento) a cada 100 mil nascidos vivos. Em 2019, o IMM era de 57,9 mortes, e em 2020, de 71,9.

O Brasil se comprometeu junto às Nações Unidas, a reduzir o IMM para 30 mortes a cada 100 mil nascidos vivos até 2030. Nos países desenvolvidos, a taxa varia em torno de 10 mortes por 100 mil nascidos vivos.

A líder da Comissão Nacional de Saúde da Mulher do Conselho Federal de Enfermagem (CNSM/Cofen), Dannyelle Costa, esperava um aumento na mortalidade em 2021 devido à COVID-19, mas a pandemia não explica a magnitude do retrocesso.

”O que constatamos não foi apenas resultado da COVID-19, mas também das interrupções no atendimento básico, somadas ao atraso na vacinação e à demora injustificável em identificar as gestantes como grupo de alto risco”, avalia Dannyelle, ressaltando a relevância do trabalho das Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Enfermagem obstétrica e morte materna

Investimento em Enfermagem Obstétrica, é um Passo Essencial para Salvar Milhões de Vidas e Reduzir a Mortalidade Materno-Infantil.

O Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA/ONU), projeta que o investimento em enfermeiros especializados em obstetrícia pode salvar 4,3 milhões de vidas globalmente, anualmente, até 2035.

”O enfermeiro, particularmente a enfermeira obstetra, é um dos principais agentes na diminuição da mortalidade materno-infantil”, enfatiza Dannyelle.

“Por isso, é necessário continuar investindo e promovendo a atenção básica e os locais de nascimento onde a enfermeira obstetra tenha um papel central. A atuação competente da enfermeira obstetra aprimora os indicadores de saúde e a percepção do parto pelo indivíduo que recebe cuidados”, finaliza.

Como era a assistência à saúde materna em 1998?

Em 1998, a assistência à saúde materna, incluindo cuidados para gestantes, parto e pós-parto, ainda estava se desenvolvendo e enfrentava desafios significativos. Embora houvesse algum progresso em comparação com décadas anteriores, muitos países enfrentavam dificuldades para oferecer cuidados de qualidade e acessíveis às mulheres.

Naquela época, a conscientização sobre a importância do cuidado pré-natal, a assistência qualificada no parto e o acompanhamento no pós-parto estava crescendo. Essa conscientização, ainda não era universalmente aplicada. Ações como a Iniciativa Safe Motherhood, lançada em 1987, e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos em 2000, começaram a impulsionar a melhoria da saúde materna.

A cobertura de cuidados pré-natais e a presença de profissionais qualificados no parto variava conforme a região e o país. Em muitos lugares, especialmente em áreas rurais e de baixa renda, as mulheres ainda enfrentavam dificuldades para acessar serviços de saúde adequados. Isso aumentava o risco de complicações e mortalidade materna.

Algumas práticas prejudiciais, como a realização de partos domiciliares sem assistência adequada ou o uso de técnicas tradicionais inseguras, também eram comuns em algumas regiões. A falta de recursos, infraestrutura e capacitação dos profissionais de saúde dificultava a prestação de cuidados de alta qualidade.

A saúde materna estava em processo de evolução e melhoria, mas ainda enfrentava desafios significativos em termos de qualidade, acessibilidade e equidade.

Algumas características dessa época incluem:

  1. Pré-natal menos abrangente: Os cuidados pré-natais eram menos abrangentes, e muitas mulheres não tinham acesso regular a consultas médicas, durante a gravidez. O acompanhamento médico era menos frequente, e exames de rotina, como ultrassonografias e testes laboratoriais, não eram tão comuns quanto hoje.
  2. Parto hospitalar: O parto hospitalar era a opção mais comum, e havia uma ênfase maior no uso de intervenções médicas, como o uso rotineiro de fórceps e episiotomias. O parto normal (natural), era frequentemente induzido, e o uso de analgesia peridural não era tão disseminado.
  3. Cesáreas: As taxas de cesárea começaram a aumentar em muitos países, incluindo o Brasil, onde a taxa de cesáreas, em hospitais particulares, já era alta.
  4. Pós-parto: A assistência no pós-parto era geralmente limitada a algumas consultas com o médico, e cuidados básicos para a mãe e o recém-nascido. A amamentação era incentivada, mas o apoio às mães para amamentar nem sempre estava disponível. A importância da saúde mental materna, e o reconhecimento de problemas, como depressão pós-parto, não eram tão discutidos como hoje em dia.
  5. Desigualdades na assistência: A assistência à saúde materna variava significativamente entre as regiões urbanas e rurais, e entre os diferentes grupos socioeconômicos. Mulheres em áreas rurais, ou em situação de pobreza, tinham menos acesso a cuidados de saúde de qualidade. Elas enfrentavam maior risco de complicações e mortalidade materna.
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